O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o mercado financeiro, nesta terça-feira (2), em entrevista à Rádio Sociedade, na Bahia, ao afirmar que existe “um jogo de interesses especulativos contra o real nesse país”. “O mundo não pode ser vítima de mentiras. A gente não pode inventar as crises. Vou te dar um exemplo: na semana passada, eu dei uma entrevista no UOL. Depois da entrevista, alguns especialistas começaram a dizer que o dólar tinha subido por conta da entrevista do Lula. E fomos descobrir que o dólar tinha subido 15 minutos antes da minha entrevista. É um absurdo. Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação”, disse o presidente. “Tenho conversado com as pessoas o que a gente vai fazer. Eu estou voltando [a Brasília], quarta-feira (3) vou ter uma reunião, porque não é normal o que está acontecendo”, afirmou mais à frente.
Opinião semelhante foi dada pelo economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, que também aponta um movimento especulativo no país. “A moeda está subindo muito mais no Brasil do que outros países – isso é um fato! Nós não temos que esconder, mas trazer à tona e entender o porquê disso estar acontecendo”, disse Moreira durante comentário no ICL Notícias 1ª edição na manhã desta terça-feira (2).
Ontem (1), o dólar à vista ultrapassou a barreira dos R$ 5,65 e encerrou a sessão no maior valor em dois anos e meio. Encerrou o dia cotado a 5,6538 reais na venda, em alta de 1,13%. Este é o maior preço de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando encerrou em 5,6723 reais. Em 2024, a divisa acumula elevação de 16,53%.
Na entrevista, Lula também voltou a criticar a gestão de Roberto Campos Neto frente ao Banco Central. “Acho que a minha visão sobre o Banco Central não é uma visão teórica. É uma visão de um presidente que já foi presidente e teve um Banco Central sob o meu domínio durante oito anos e com total autonomia. Alguém pode falar que o Meirelles não teve autonomia? Ele ficou oito anos no meu mandato e, se dependesse de mim, ficaria com a Dilma também, não sairia. O Fernando Henrique Cardoso trocou três presidentes do Banco Central, e é normal. O que é anormal é o Lula trocar, é o Lula querer indicar alguém”, disse.
“É o presidente da República que tem que indicar, e quando a gente indica um presidente do Banco Central, do Banco do Brasil, da Petrobras, a gente não indica essa pessoa para ela fazer o que a gente quer. As empresas têm diretoria, conselho, cronograma de trabalho. E o Banco Central é a mesma coisa. O Banco Central tem uma função, que é cuidar da política monetária desse país, de atingir a meta da inflação. E por isso nós acabamos de aprovar a meta de inflação de 3%. O que não dá é para você ter alguém dirigindo o Banco Central com viés político. Efetivamente eu acho que ele tem um viés político. Mas eu não posso fazer nada, porque ele é presidente do Banco Central e tem mandato, foi eleito pelo Senado. Eu tenho que esperar e indicar alguém”, disse.
Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Campos Neto tem mandato até 31 de dezembro deste ano e o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, é dos mais cotados a assumir a vaga dele.
Sobre alta do dólar, Lula diz: “Nós temos que fazer alguma coisa”
Ainda sobre a alta do dólar, o presidente disse que “nós temos que fazer alguma coisa. Eu não posso falar aqui o que é possível fazer porque eu estaria alertando os meus adversários. É que não há necessidade. Se você pegar os dados da economia você vai perceber o quê? Você vai perceber que o PIB [Produto Interno Bruto] está crescendo mais que a previsão do mercado. Vai perceber que o desemprego está caindo mais do que a previsão do mercado. Vai perceber que a renda da massa salarial está crescendo mais que a previsão do mercado. Vai perceber que os acordos salariais, 87% deles estão sendo feitos com ganho real, acima da inflação. Você vai perceber a quantidade de entrada de capital externos para investimento direto no Brasil. Então não há nenhuma preocupação das pessoas terem medo, das pessoas ficarem assustadas, acharem que vai acontecer alguma coisa”, ressaltou.
Na entrevista, Lula também ressaltou a preocupação com os gastos públicos, mas voltou a afirmar que não pretende fazer ajuste fiscal em cima da população mais pobre ou promover alterações na atual política do salário mínimo. “Muita gente fala que é preciso cuidar dos gastos públicos, e ninguém nesse país cuidou melhor do que eu. Ninguém nunca cuidou mais dos gastos públicos do que eu. O que eu não posso é aceitar a ideia de que ‘é preciso acabar com benefício de pobre, ‘esse Bolsa Família está custando muito caro, o salário mínimo está custando muito caro, a política de investir em faculdade…’”, ressaltou.
“Nós já aprovamos o marco fiscal [arcabouço fiscal], que é uma revolução nesse país. Nós conseguimos fazer uma coisa que jamais se imaginou fazer em apenas um ano e seis meses: aprovar uma política tributária. Nós já provamos que responsabilidade jurídica, política e social nós temos demais. Agora, o que a gente não pode abrir mão é de melhorar a vida do povo brasileiro. Então vamos tentar encontrar soluções. Eu tenho dito para todo mundo – ainda nesses dias falei para o Haddad: você me apresenta os excessos de gastos. Porque se tiver excesso, se alguém estiver gastando alguma coisa que não seja necessária, se alguém estiver aplicando mal o dinheiro a gente para, porque eu não vou jogar dinheiro fora. Então nós vamos cuidar disso’, afirmou.
Haddad afirma que não mexe no IOF para segurar moeda
Ontem à noite, após a alta recorde da moeda norte-americana, Haddad disse a jornalistas que a disparada tem a ver com “ruídos” de comunicação. “Atribuo [a alta do dólar] a muitos ruídos. Eu já falei isso no Conselhão [reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, na última quinta-feira (27)], precisa comunicar melhor os resultados econômicos que o país está atingindo”, declarou o ministro.
Hoje, mais cedo, ele afirmou que o governo não pretende reduzir o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre o câmbio para segurar a alta do dólar.
Ele afirmou que uma comunicação melhor sobre o arcabouço fiscal e a autonomia do Banco Central (BC) significa a principal ação necessária para conter a desvalorização do real.
“Não sei de onde saiu esse rumor [do IOF]. Aqui na Fazenda, estamos trabalhando uma agenda eminentemente fiscal com o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] para apresentar a ele propostas para cumprimento do arcabouço em 2024, 2025 e 2026. Eu acredito que o melhor a fazer é acertar a comunicação, tanto em relação à autonomia do Banco Central, como o presidente fez hoje de manhã, quanto em relação ao arcabouço fiscal”, declarou o ministro após reunião com deputados para discutir a regulamentação da reforma tributária.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e Brasil 247