Em sua primeira entrevista à grande mídia durante a campanha eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência nas eleições deste ano e líder nas pesquisas de intenção de votos, disse que, se eleito, vai mexer na política de preços da Petrobras, desatrelando-a do dólar, uma das variantes para a formação de preços dos combustíveis no país. Segundo Lula, o presidente Jair Bolsonaro não teve “coragem” de mexer na política de preços da estatal, optando pela desoneração fiscal com a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis.
Além disso, Lula afirmou que falas golpistas do presidente não encontram eco nas Forças Armadas do país, as quais, nas palavras dele, são mais “responsáveis que Bolsonaro”. “Acho que ele vai tentar fazer tudo que quer fazer e temos que ter em conta que os militares são mais responsáveis que o Bolsonaro. Convivi com eles e posso dizer que não tenho queixas do comportamento das Forças Armadas. Mantive oito anos de convivência da forma mais digna possível, não criaram problemas, ajudaram no que era possível ajudar”, afirmou Lula.
Lula concedeu entrevista de aproximadamente 1h40 ao portal de notícias UOL, nesta quarta-feira (27), na qual abordou diversos temas, como eleições, polarização política, teto de gastos e a recriação de ministérios que existiam à época em que ocupou o Palácio do Planalto.
O ex-presidente também elogiou a iniciativa de ex-alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo), de lançar um manifesto em prol da democracia, que será lançado oficialmente em ato no dia 11 de agosto. A carta tem assinatura de artistas, esportistas, intelectuais, juristas, banqueiros e, também, de empresários. “Estou convencido que todos os brasileiros precisam brigar muito para que a gente mantenha a consolidação do processo democrático desse país”, afirmou.
Além disso, Lula disse que vai atacar o teto de gastos, pois o Brasil “não precisa de teto de gastos, precisa de um governo que tenha credibilidade, que garanta estabilidade e que tenha previsibilidade. E eu e o (ex-governador Geraldo) Alckmin vamos fazer isso com muita competência”, afirmou.
Também disse que vai retomar o programa Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família, fixando o valor de R$ 600, mas levando em conta o número de pessoas da família. “Não tem que ser igual para todo mundo”, frisou.
Lula quer colocar civil para comandar o Ministério da Defesa e critica domínio do orçamento por parlamentares
Na entrevista desta quarta, o ex-presidente defendeu que um civil comande o Ministério da Defesa, assim como fez em suas gestões. “Não será um militar, será alguém da sociedade civil”, disse, caso seja eleito em outubro. Sob Bolsonaro, militares do Exército têm sido escalados para o cargo.
Sobre os constantes ataques de Bolsonaro ao processo eleitoral e, principalmente, à urna eletrônica, e o apoio dado ao presidente por parte de uma ala dos militares, Lula apontou que a urna eletrônica não é assunto para eles. “Urnas são questão do Congresso, dos partidos, da Justiça Eleitoral e da sociedade civil”, frisou.
O ex-presidente também criticou o domínio, pelo Congresso, de boa parte do Orçamento governamental, no famigerado orçamento secreto. “O presidente não tem força com o Congresso, é uma marionete”, disse Lula sobre Bolsonaro.
Sobre esse tema, o ex-presidente disse que, se sair vitorioso no pleito de outubro, vai dialogar com todos os partidos a fim de buscar um pacto de governabilidade, com foco no combate à fome e ao desemprego. “Não quero ser o dono da verdade, quero ser o maestro de uma orquestra.”
Ainda a respeito do Congresso, Lula disse que é cedo para tratar da reeleição do atual presidente da Câmara, Arthur Lira, importante aliado de Jair Bolsonaro, e que buscará eleger uma ampla bancada do PT e de esquerda.
Lula responsabilizou Bolsonaro pela morte do tesoureiro do PT no Paraná, Marcelo Arruda, e disse que nunca viu antes na história do país “a ignorância e a violência” que enxerga no processo eleitoral deste ano. Para ele, há uma frente bolsonarista que é a “do ódio e da violência”.
Redação do ICL Economia