O escândalo das joias milionárias dadas de presente pelo governo da Arábia Saudita à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai ganhando novos contornos com o passar dos dias e piorando a situação do ex-mandatário, que ainda permanece nos Estados Unidos desde que fugiu, em dezembro passado, para não passar a faixa presidencial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O casal, mais o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que trouxe o presente na bagagem de um assessor, devem ser convocados a depor na Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da Polícia Federal em São Paulo.
A informação está na coluna do jornalista Guilherme Amado, no portal Metrópoles. Além deles, alguns ex-assessores do ex-presidente e do ex-ministro envolvidos no caso também devem ser convocados a prestar depoimento. Na última segunda-feira (6), a Polícia Federal também instaurou inquérito para investigar o episódio.
A joias, no valor de R$ 16,5 milhões, foram dadas de presente à ex-primeira-dama e ao ex-presidente pelo governo ditatorial da Arábia Saudita por meio de Bento Albuquerque, que representou o governo brasileiro na viagem realizada àquele país, em outubro de 2021.
À época, o jornal o Estado de S.Paulo publicou reportagem dizendo que, na chegada ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, uma fiscalização de rotina da Receita Federal descobriu o conteúdo na bagagem de um assessor da comitiva durante passagem pelo raio x. Então, os agentes alfandegários optaram por vasculhar uma mochila de Marcos André dos Santos Soeiroa, assessor de Bento.
Dentro dela, além de um escultura dourada em forma de cavalo, com as patas quebradas, estava o estojo com as joias e um certificado de autenticidade da marca Chopard. A empresa suíça é uma das mais famosas e caras do ramo no mundo. O conjunto de joias continha um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em 3 milhões de euros (R$ 16,5 mi).
O assessor tentou passar pela fila da alfândega destinada a quem entra no país sem bens a declarar, em uma tentativa ilegal de burlar as regras do Fisco. Pela lei, o assessor deveria ter declarado as joias e ter pagado uma taxa de 50% do valor das joias ou R$ 8,25 milhões. Esse assessor também será chamado para depor à PF.
O correto seria o governo ter encaminhado as joias para que fossem catalogadas e enviadas para o acervo da Presidência da República, organizado pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica.
Escândalo das joias: documentos mostram que ex-assessores fizeram diversas tentativas de reaver presente das arábias
Além de todos esses nomes, de acordo com Guilherme Amado, que também é comentarista do ICL Notícias, também será chamado para depor à PF o ex-chefe de Ajudância de Ordens de Bolsonaro, Mauro Cesar Barbosa Cid, que enviou em 28 de dezembro de 2022, a três dias de acabar o governo, um ofício à Receita Federal pedindo a liberação das joias apreendidas.
O ex-presidente chegou até mesmo a nomear o ex-chefe da Receita Federal à época, Julio Cesar Vieira Gomes, como adido da Receita Federal em Paris, no dia 30 de dezembro de 2022, um dia depois da ida de um auxiliar do presidente até o Aeroporto de Guarulhos para tentar recuperar as joias apreendidas pelos fiscais do órgão no aeroporto.
Segundo Amado, no ofício, Cid, o mesmo que foi o pivô da demissão por Lula do ex-comandante do Exército Júlio Arruda, mandava o assessor Jairo Moreira da Silva, primeiro-tenente da Marinha, embarcar para São Paulo e retirar as joias.
O documento mostra que havia um esforço por parte do então gabinete do Presidente da República de reter as joias antes do fim do governo, e de uma forma pouco usual, já que essa função não caberia ao tenente-coronel Cid nem a ninguém do gabinete de Bolsonaro.
Muitos podem estar se perguntando: por que o mandatário da Arábia Saudita daria um presente tão caro ao casal? A explicação pode estar na estreita relação que Bolsonaro tinha com o governo extremista saudita era muito estreita, com o fechamento de acordos bilaterais bilionários. Os sauditas se tornaram um grande parceiro comercial do Brasil, principalmente sob Bolsonaro.
Segundo reportagem do Estadão, dois anos antes da comitiva do então ministro de Minas e Energia deixar a Arábia Saudita com pacotes de joias, Bolsonaro esteve em Riade, capital do país árabe, para celebrar acordos comerciais que envolviam US$ 10 bilhões (R$ 51,7 bilhões no câmbio atual).
O principal interesse da Arábia Saudita, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, era investir em projetos de infraestrutura no Brasil, especialmente na área de energia, a qual Bento Albuquerque chefiava.
Receita Federal já monitorava passos de Bento Albuquerque
Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo mostra que a agenda de viagens internacionais de Bento Albuquerque e de sua comitiva já era alvo de monitoramento por auditores da alfândega. Em um único ano, ele fez dez viagens para o exterior.
Levantamento feito pelo jornal mostra que todos os compromissos oficiais do ex-ministro desde que entrou no governo, em 2019, até sair dele, em maio de 2022, tinham o intuito de intervir nos preços dos combustíveis da Petrobras.
As viagens do ministro só terminaram em 2020, na pandemia de Covid-19, mas foram retomadas em 2021, ano em que participou de seis encontros internacionais, com passagens por Estados Unidos, Áustria, Rússia, Inglaterra e Emirados Árabes. Foi em outubro de 2021 que o então ministro fez a visita à Arábia Saudita.
No primeiro ano do governo Bolsonaro, Bento Albuquerque fez dez viagens ao exterior, incluindo países como Israel, Estados Unidos, Argentina, Japão, China, Áustria, França e Espanha.
Em alguns desses compromissos, acompanhou Bolsonaro, enquanto em outros foi representando o governo brasileiro.
Nos cinco meses que ficou no ministério em 2022, o ex-ministro do MME chegou a realizar sete viagens internacionais, passando por países como Suriname, Guiana, Uruguai, Portugal, Rússia e Índia.
Redação ICL Economia
Com informações do portal Metrópoles e O Estado de S.Paulo