Milionários pagam menos imposto de renda que professores, policiais e bancários, aponta Sindifisco

Levantamento mostra que ganhos com lucros e dividendos explicam alíquota menor de imposto de renda para milionários
15 de outubro de 2024

Estudo do Sindifisco Nacional (sindicato dos auditores fiscais) aponta que os mais ricos pagam menos imposto de renda que profissionais de renda média e alta, como professores e policiais. O levantamento inédito foi realizado a partir de dados do Imposto de Renda Pessoa Física de 2022 (ano calendário 2021).

Os dados encontrados mostram o seguinte:

  • Contribuintes que declararam em 2021 ganhos totais acima de 160 salários mínimos (R$ 2,1 milhões no ano, ou R$ 176 mil por mês) pagaram, em média, uma alíquota efetiva de IR menor que 5,5%;
  • Professores de ensino fundamental: pagaram 8,1%;
  • Enfermeiros: pagaram 8,8%;
  • Bancários: 8,6%;
  • Assistentes sociais: 8,8%;
  • Policiais militares: 8,9%; e
  • Médicos: 9,4%

No caso de professores, enfermeiros, bancários e assistentes sociais, esses profissionais declararam ganhos médios de abaixo de R$ 94 mil naquele ano, o que corresponde a menos R$ 8 mil ao mês. Os policiais, por sua vez, declararam renda média de R$ 105 mil (R$ 8.750 ao mês), enquanto os médicos, renda anual de R$ 415 mil (R$ 34,6 mil ao mês).

A alíquota efetiva é o percentual da renda total que de fato foi consumida pelo IR.

O estudo vem em um momento em que o governo discute taxar grandes fortunas para conceder isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, uma das promessas de campanha do presidente Lula.

Ganhos com lucros e dividendos explica alíquota menor de imposto de renda para milionários

O estudo do Sindifisco é mais um comprovando que a taxação de lucros e dividendos é um tema necessário a ser debatido para que se promova a justiça tributária. A taxação de grandes fortunas, aliás, é uma das bandeiras do Brasil durante a presidência temporária do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia e União Africana).

Os milionários pagam uma alíquota menor justamente porque uma parcela relevante de sua renda vem do recebimento de lucros e dividendos de suas empresas, que são isentos de IR no Brasil desde 1996.

Por sua vez, a classe média tem uma parcela maior de seus ganhos proveniente de salários, que, em geral, são tributados na fonte, com alíquotas progressivas que chegam a R$ 27,5% para ganhos mensais acima de R$ 4.664,69.

O levantamento do Sindifisco mostra ainda que a alíquota efetiva paga pelos contribuintes de maior renda caiu por dois anos seguidos, entre 2019 e 2021. Isso porque houve crescimento do pagamento de lucro e dividendos nesse período. Assim, o topo da pirâmide ficou mais rico, ao mesmo tempo que pagou proporcionalmente menos IR.

Em contrapartida, o estudo do sindicato mostra que contribuintes pobres ou de renda intermediária (faixas que vão de um a 15 salários mínimos mensais) passaram a pagar uma alíquota efetiva média de imposto de renda maior entre 2019 e 2021.

Segundo o Sindifisco, o fato de a tabela do Imposto de Renda estar há muitos anos sem ser atualizada pela inflação explica o aumento da alíquota efetiva para grupos de renda menor.

Lucros e dividendos crescem

Os números da Receita Federal mostram que contribuintes brasileiros declararam ter recebido em 2021, no total, R$ 555,68 bilhões em lucros e dividendos, valor quase 45% maior sobre o recebido em 2020 (R$ 384,27 bilhões) e de 46,5% ante o de 2019 (R$ 379,26 bilhões).

Para o presidente do Sindifisco, auditor-fiscal Isac Falcão, esse aumento reflete a expectativa de que os dividendos voltem a ser taxados no país.

A equipe econômica deve apresentar o projeto de reforma tributária sobre a renda somente em 2025, e essa correção deve estar no projeto. O assunto, porém, enfrenta resistência no Parlamento.

“As empresas estão retendo menos dividendos agora para não correr o risco de distribuírem quando já estiverem sendo tributados. Essa é uma das razões pelos quais eu digo que o tema está na agenda”, disse Falcão.

Redação ICL Economia
Com informações da BBC News Brasil

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