‘O setor econômico que tem mais negacionistas é o agronegócio, e isso não é só no Brasil’, diz cientista Carlos Nobre

Um dos maiores especialistas em clima do mundo, o cientista brasileiro foi entrevistado no programa Em Detalhes, na última terça-feira (7), ocasião em que abordou o que está por detrás da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul.
10 de maio de 2024

O cientista brasileiro Carlos Nobre é um dos maiores especialistas em clima do mundo e uma das vozes majoritariamente não ouvidas da Ciência sobre os alertas de que, se não fizermos a lição de casa, ou seja, reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa que aumentam a temperatura do planeta, catástrofes climáticas como a que temos acompanhado no Rio Grande do Sul serão cada vez mais comuns.

Em entrevista ao programa Em Detalhes, transmitido diariamente pelo canal do ICL Notícias no YouTube, na última terça-feira (7), Nobre disse que o negacionismo é uma chaga do nosso tempo, principalmente dentro de setores econômicos que mais emitem.

“O setor econômico que mais tem negacionistas é o do agronegócio, e isso não é só no Brasil”, disse. Para exemplificar, ele comentou o desmonte feito pelo Congresso, com patrocínio da bancada ruralista, no Código Florestal em 2012.

Esse setor, quando incluída a pecuária, é responsável por cerca de 37% das emissões, incluindo as da atividade em si e a derrubada de florestas para formação de pastagem para o gado.

“Quando a gente olha as emissões de gases de efeito estufa, nas emissões das últimas décadas, a principal fonte é a queima de combustíveis fósseis. Nos últimos anos, da ordem de 70% das emissões dos gases de efeito estufa [vieram da] queima de petróleo, carvão e gás natural. A agricultura e a pecuária global [são responsáveis por] cerca de 23%, 25% das emissões e uma parte, 12% das emissões, vêm dos  desmatamentos para expansão das áreas agrícolas, principalmente da pecuária”, disse.

Segundo Nobre, a pecuária é responsável por 65% dos desmatamentos de todas as florestas tropicais do mundo. “Na nossa Amazônia, a pecuária responde por 90% do desmatamento, então não há dúvida que também essa agricultura, principalmente a pecuária, responde por uma parte considerável das emissões”, sentenciou.

Em relação aos negacionistas, ele abordou que no setor de energia há poucos negacionistas climáticos, embora enfatize que a transição energética esteja acontecendo a passos lentos.

Na entrevista ao Em Detalhes, o cientista, que é doutor em Meteorologia pelo prestigioso MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), também abordou o desmonte de legislações por parte de governos e do Congresso, que abrem brechas para o desmatamento e o uso irregular da terra, e que há saídas para uma produção agropecuária mais sustentável, como as chamadas agricultura e pecuária regenerativas, muito mais sustentáveis e lucrativas que as tradicionais.

 

Assista à entrevista completa com o cientista Carlos Nobre no vídeo abaixo:

 

Redação ICL Economia
Com informações do Em Detalhes

 

 

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