O novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer a Petrobras com mais foco na expansão das atividades do que na remuneração dos dividendos da estatal aos acionistas. Durante toda a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou os dividendos da Petrobras para fazer caixa para o governo e, assim, realizar o pagamento de benefícios na desesperada tentativa de se reeleger.
Agora, Lula quer que as atividades da estatal estejam focadas em exploração, produção, refino e distribuição. Ainda há a defesa de uma nova política de preços dos combustíveis, com a criação de um fundo de estabilização de preços que limitaria repasses em caso de flutuações abruptas no mercado internacional. A estratégia vem sendo discutida por especialistas ligados ao setor, reunidos em um grupo liderado pelo ex-ministro Aloizio Mercadante.
Além disso, o PPI (Preço de Paridade Internacional), seguido atualmente pela Petrobras para reajustar o valor do combustível, está sendo analisado pela equipe de transição. No programa de governo de Lula consta que “os ganhos do pré-sal não podem se esvair por uma política de preços internacionalizada e dolarizada: é preciso abrasileirar o preço dos combustíveis e ampliar a produção nacional de derivados, com expansão do parque de refino”. No programa de Lula sobre a Petrobras, está prevista a preservação do regime de partilha da produção do pré-sal, no qual o governo tem direito a parcela do petróleo produzido.
Novo governo estuda a atuação da Petrobras em segmentos que se conectam à transição ecológica
No programa de governo do presidente eleito já constava oposição à privatização e também atuação em segmentos que se conectam à transição ecológica e energética, como gás, fertilizantes, biocombustíveis e energias renováveis.
O setor de fertilizantes, por exemplo, é visto como estratégico, para tentar reduzir a dependência brasileira de importações. A estatal chegou a iniciar obras de duas fábricas de fertilizantes nitrogenados no governo Dilma, mas os projetos foram abandonados após o início da Operação Lava Jato.
O retorno às energias renováveis é visto por conselheiros do novo governo como essencial para manter a sobrevivência da empresa em um futuro com maiores restrições à produção de petróleo. O segmento foi retirado do plano estratégico da companhia no primeiro ano do governo Bolsonaro.
A área de refino também volta a entrar no radar, após seis anos de tentativas de venda de refinarias.
No primeiro semestre de 2022, a Petrobras foi a maior pagadora de dividendos do mundo, segundo a gestora Janus Henderson. No terceiro trimestre, a estatal anunciou a distribuição de R$ 43,7 bilhões, elevando a R$ 180 bilhões o total pago pelos resultados no ano. O partido já divulgou que não concorda com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas.
O programa de governo de Lula não trata do assunto, mas a reação do mercado aos questionamentos sobre o valor distribuído mostra que investidores já esperam uma Petrobras diferente da gestão atual. Mesmo após o bom resultado trimestral, as ações da empresa despencaram na Bolsa.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias