A operação-padrão dos auditores da Receita Federal, que é realizada desde o fim do ano passado, tem travado a importação de insumos, com cargas paradas nos portos há quase três meses e navios sem espaço para desembarcar mercadorias. Com isso, a fabricação de vários produtos está sendo prejudicada, entre eles, alimentos, itens de higiene e limpeza, bens de consumo e automóveis. Como exemplos, destaque para o pãozinho e o sabão em pó, que necessitam de insumos importados para a produção.
A demora da Receita Federal em liberar as cargas importadas pode levar a um aumento nos preços e/ou ao seus desaparecimentos das prateleiras. O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh, explica que, no caso do trigo, insumo para farinha, pães e massas, há cargas do grão paradas há 14 dias no porto de Santos, enquanto a liberação, segundo ele, ocorria em até 48 horas antes da operação-padrão. “Isso começa a comprometer o estoque dos moinhos. Neste momento, ainda não tem desabastecimento, mas não posso afirmar que não vai ter porque não tenho nenhuma previsão da Receita de quando a carga será liberada”, afirmou.
Dados do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimento (IBCI), que devem ser encaminhados ao ministro da Economia, Paulo Guesdes, ainda nesta quarta (13), mostram que o movimento dos servidores elevou de cinco para 20 dias o prazo médio para desembaraço de cargas importadas via portos e aeroportos do Brasil. A informação foi publicada pelo Estadão/Broadcast.
O documento tem o apoio de empresas multinacionais, como Nestlé (alimentos e bebidas) e Unilever (alimentos e produtos de higiene), e faz um apelo ao governo para que a situação seja tratada “com a devida seriedade” e resolvida para evitar um “efeito dominó” na economia brasileira. “Esses atrasos afetam não somente os operadores que tratam diretamente com exportações e importações, mas também pequenas empresas que possuem operação exclusiva no Brasil, que dependem de componentes importados”, afirma o texto.
Movimento dos trabalhadores
Os auditores da Receita vêm realizando, desde o fim do ano passado, operação-padrão em diversos pontos da fronteira, além de uma série de entregas de cargos de chefia. A operação-padrão, também conhecida como operação-tartaruga, é caracterizada pela lentidão na realização dos serviços, como liberação de cargas, em nome de um zelo e rigor excessivo pelos procedimentos corretos.
O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Isac Falcão, disse que o movimento é “inevitável”, já que o governo cortou em 50% o orçamento da Receita neste ano.
Apesar das filas nas aduanas, ele diz que o governo segue “fechado ao diálogo”. “Dizem coisas genéricas, que entendem nossos pleitos como importantes, justos, razoáveis. Mas não dão prazo para resolver os problemas”, completou.
Outras categorias
Além dos auditores da Receita, outras categorias do serviço público federal atuam na chamada operação-padrão: servidores do Tesouro, da Secretaria do Orçamento Federal, da Controladoria-Geral da União (CGU), da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Superintendência de Seguros Privados (Susep), os analistas de comércio exterior e os auditores fiscais agropecuários. Os sindicatos, que reivindicam reajustes salarias e melhores condições de trabalho, afirmam que o movimento vai permanecer até que o governo atenda as demandas.
No caso dos servidores do Banco Central, o movimento é mesmo de paralisação. Em assembleia, na tarde desta terça-feira (12), foi votada a manutenção da greve por tempo indeterminado, após mais uma semana sem acordos por reajuste salarial. A mobilização foi iniciada no último dia 1º.
Redação ICL Economia
Com informações das agências