Benefícios a caminhoneiros, taxistas e aumento do Auxílio Brasil devem elevar a inflação, avalia Copom

Políticas temporárias de apoio à renda devem trazer estímulo à demanda agregada e elevar a inflação, segundo o Banco Central
9 de agosto de 2022

Os auxílios dados pelo governo à população e a setores produtivos com caráter explicitamente eleitoreiro podem elevar a inflação no país. A avaliação consta da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira (9). Faz parte do pacote de auxílios os benefícios aos caminhoneiros, aos taxistas e aumento do Auxílio Brasil, por exemplo. 

Segundo o comitê do Banco Central,  políticas temporárias de apoio à renda devem trazer estímulo à demanda agregada e que o prolongamento de tais políticas pode elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de inflação à medida que pressionam a demanda agregada e pioram a trajetória fiscal.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central  reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos e expectativas de inflação, diz a ata.

No encontro da semana passada, o Copom elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic, de 13,25% para 13,75% ao ano e já sinalizou que deve fazer um ajuste de mais 0,25 ponto na próxima reunião, em setembro, mantendo o ciclo de elevação da taxa de juros e aperto monetário para controle da inflação.

Aumento de 0,50% na taxa de juro deve impactar a economia mais fortemente, a partir do segundo semestre,  diz a ata do Copom

Concluiu-se que um novo ajuste de 0,50 ponto percentual era apropriado frente a um ambiente de elevada incerteza, apesar do estágio já significativamente contracionista da política monetária, que, considerando suas defasagens, deve impactar a economia mais fortemente a partir do segundo semestre deste ano, diz a ata.

O colegiado também considerou a maior persistência das pressões inflacionárias globais, como os impactos da guerra na Ucrânia, a política chinesa de combate à covid-19 e as políticas que restringem o comércio de produtos agrícolas em países produtores de commodities. Por outro lado, segundo o BC, uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada é um risco de baixa para o cenário inflacionário, considerando o atual situação de energia na Europa, uma possível recessão nos Estados Unidos e as perspectivas de crescimento mais gradual na China.

No âmbito doméstico, o Copom avalia que ainda há ociosidade na economia, mas os dados referentes ao mercado de trabalho, em especial o volume de contratações e a taxa de desocupação, surpreenderam. “

O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgado desde a última reunião do Copom segue indicando crescimento ao longo do segundo trimestre, com uma retomada no mercado de trabalho mais forte do que era esperada pelo comitê. Tanto os indicadores referentes à contratação de emprego formal quanto as taxas de ocupação e desocupação sugerem uma normalização rápida dos setores intensivos em trabalho após a pandemia, diz a ata.

Para decidir sobre a elevação da Selic, o comitê estabeleceu um cenário básico para a inflação, com as projeções em torno de 6,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,7% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de (-) 1,3% para 2022, 8,4% para 2023 e 3,6% para 2024.

Esse cenário supõe uma trajetória de juros que termina 2022 em 13,75% ao ano, reduz-se para 11% em 2023 e 8% em 2024. O Copom adotou ainda a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022, 2023 e de 2024 e a suposição de que o preço do petróleo siga aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passe a aumentar 2% ao ano posteriormente.

A Selic é o principal instrumento usado pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação. Na avaliação dos economistas do ICL André Campedelli e Deborah Magagna, o governo brasileiro já poderia ter tomado medidas no sentido de minimizar a situação, evitando os constantes ajustes da Selic para cima. “A única coisa que o Copom ainda faz é persistir na elevação da taxa Selic como mecanismo de controle das possíveis elevações de demanda, sob justificativa de que isso se faz necessário para corrigir possíveis riscos fiscais. O aumento da Selic  pelo Copom é mais um empecilho para o crescimento econômico e vai debilitar ainda mais a já frágil atividade econômica brasileira”, asseguram.

A despeito da atual indicação de queda inflacionária, a economia segue estagnada e com baixo desempenho. Portanto, o aumento da Selic pelo Copom reduzirá ainda mais o ritmo da economia, o que significa um desempenho preocupante para os próximos meses de 2022. “A alta da taxa de juro pelo Copom vai reduzir a atividade econômica do país e, talvez, aumentar a entrada de dívidas estrangeiras no Brasil. O efeito disso, para o controle inflacionário, deve ser muito baixo”, pondera Campedelli.

A taxa está no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Esse foi o 12º reajuste consecutivo na taxa Selic.

Em julho, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi negativa em 0,68%, ou seja, houve deflação. Apesar da queda no mês passado, a inflação oficial no país acumula alta de 4,77% em 2022 e de 10,07% nos últimos 12 meses.

Os números continuam acima da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. A meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,5% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2,25% e o superior de 5,25%.

A inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, se mostrando mais persistente que o antecipado. A redução de impostos sobre os preços de energia já começa a ser observada nos indicadores de alta frequência, mas os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que apresentam maior inércia inflacionária, mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação, diz o BC, na ata.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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