Pressionado pelos números das pesquisas de intenções de votos, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, decidiu usar o ministro da Economia, Paulo Guedes, como cabo eleitoral mais uma vez. Ontem (15) de manhã, o ministro gravou uma entrevista de 24 minutos à TV Brasil para que o “posto Ipiranga” do governo divagasse sobre os números da economia, imprimindo, como sempre, um otimismo exagerado. A entrevista foi também veiculada ontem à noite (15) no programa Voz do Brasil, mesmo dia em que a pesquisa Datafolha mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeiro lugar nas intenções de votos do eleitor, com 45%, e Bolsonaro com 33%, em segundo.
Na entrevista, Guedes tratou, entre outros temas, de promessas para um eventual novo governo Bolsonaro, incluindo o Auxílio Brasil de R$ 600 até o fim deste ano. No Orçamento de 2023, o benefício está previsto em R$ 405, embora no horário eleitoral gratuito da campanha Bolsonaro já tenha prometido até mesmo subi-lo para R$ 800, caso o beneficiário arranje emprego.
Com a inflação no negativo nos meses de julho e agosto, as novas projeções do governo são de PIB (Produto Interno Bruto) em 2,7% e inflação em 6,3% este ano. Já as previsões do Boletim Focus do Banco Central, que reúne a opinião de analistas do mercado financeiro, o PIB está previsto em 2,4% para 2022 e a inflação em 6,4%. Contudo, os dados escondem que as estratégias adotadas pelo governo até o momento, como a desoneração fiscal dos combustíveis, são apenas de curto prazo.
Ao programa estatal Voz do Brasil, Guedes disse que o país está crescendo, gerando empregos e atraindo investimentos. Sem citar o PT, ele também usou o espaço para criticar governos anteriores. “Antigamente era só o governo que investia. E o governo foi quebrado por administrações anteriores, as estatais estavam quebradas, fundos de pensão quebrados, bancos públicos com recursos [apenas] para grandes empresas, ao invés de cuidar do pequeno e médio [empreendedor]”, disse.
Ainda, o ministro da Economia disse que, “ao contrário da Venezuela, que está no caminho da miséria, o Brasil está no caminho da prosperidade”, aproveitando o ensejo para fazer uma analogia clássica entre o país vizinho aos governos do PT.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, especialistas afirmam que falas na estrutura oficial, uma vez que a TV Brasil é uma estatal, com conotação eleitoral ou partidária, podem ser enquadradas em abuso e uso indevido dos meios de comunicação social.
Cabo eleitoral Paulo Guedes diz que país bateu no “fundo do poço”, mas voltou, e que brasileiros devem se orgulhar
Como é praxe entre os membros do governo Bolsonaro, o otimismo exagerado deu o tom da entrevista. Ao programa, Guedes afirmou que o país bateu no “fundo do poço”, mas voltou. “Brasileiros, orgulhem-se do país, estamos retomando crescimento e gerando emprego”, afirmou.
A entrevista transmitida pela TV pública foi exibida em vídeo, com Guedes no estúdio, acompanhada de frases no letreiro inferior como “Brasil retoma crescimento econômico e empregos” e “Desde pandemia, 17 milhões de empregos criados”. Só não citava que as vagas que estão sendo criadas são na informalidade e com salários menores.
Na ocasião, o ministro ainda defendeu as estratégias de combate à pandemia – que matou quase 700 mil brasileiros — e o Auxílio Emergencial. Disse também que o Farmácia Popular será mantido. Lembrando que o programa de compras de medicamentos sofreu cortes de mais de 50%.
A Guerra da Ucrânia também foi abordada na entrevista, com Guedes afirmando que o Brasil sofrerá menos impactos econômicos que o resto do mundo. “Tínhamos avisado que a política econômica brasileira de reação à pandemia, mantendo as reformas estruturais, preservando empregos, salvando vidas, vacinando a população, teria efeito”, enfatizou, complementando: “O Brasil é um porto seguro em um mundo em turbulência. […] O Brasil vai continuar crescendo, a inflação está descendo, os programas sociais serão mantidos, o Auxílio Brasil será mantido, a Farmácia Popular será mantida, todos os programas sociais seguem, e o Brasil terá dias melhores”, disse o ministro, mostrando claramente o objetivo da entrevista.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo