49% das negociações salariais resultaram em reajustes abaixo do INPC. Perda de renda do trabalhador atinge mais o setor de serviços

Ao longo deste ano, 43,2% das negociações salariais resultaram em perda de salário real, enquanto 36,4% das negociações renderam apenas em reajuste igual ao INPC
22 de setembro de 2022

Cerca de metade das negociações salariais ocorridas no mês de agosto rendeu reajustes salariais abaixo do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Os dados estão no balanço mensal divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) na última terça-feira (20). Isso significa que, sem recomposição integral das perdas inflacionárias dos últimos 12 meses, a renda do trabalhador brasileiro perdeu poder de compra.

Do total de negociações, 49% resultaram em reajustes abaixo do indicador. Somente 27,5% delas contemplaram aumentos acima da inflação. Além disso, outras 23,5% das negociações salariais apresentaram reajuste igual ao INPC do período, ou seja, apenas recompuseram as perdas inflacionárias passadas sem ganho real no salário.

Os dados do relatório foram compilados no “Economia para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado”, elaborado pelos economistas do ICL Deborah Magagna e André Campedelli.

Ao longo deste ano, 43,2% das negociações salariais resultaram em perda de salário real, enquanto 36,4% das negociações renderam apenas em reajuste igual ao INPC. Por sua vez, os reajustes acima desse indicador, com ganhos reais de salário, ficaram em 20,5%.

“Com os resultados dos meses anteriores reajustados, esse foi o pior resultado desde abril de 2021, quando ocorreu um dos piores momentos da crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19”, observam os economistas.

Mesmo diante da deflação ocorrida em agosto, a média do salário do trabalhador, após os reajustes, continuou negativa em termos reais, com um valor 0,28% menor. Isso significa que houve uma perda de renda real nos reajustes realizados no período e mostra como a situação para o trabalhador está delicada, mesmo após duas deflações seguidas.

Renda do trabalhador não atinge ganhos reais no acumulado de 12 meses, aponta relatório do Dieese

No acumulado de 12 meses, o salário médio no Brasil não conseguiu atingir ganhos reais. “A dificuldade de se negociar salários fica cada vez mais evidente e mostra que o ganhador desse conflito distributivo tem sido a classe empresarial neste momento”, apontam Deborah e André no boletim.

Segundo eles, para se ter noção do tamanho do problema, o reajuste mensal necessário para manter o poder de compra teve forte queda entre julho e agosto, caindo de 10,12% para 8,83%. “Ainda assim, a média salarial continuou abaixo da média do salário necessário para apenas recompor as perdas inflacionárias dos últimos 12 meses”, salientam.

A fragilidade do poder de barganha do trabalhador tem se tornado cada vez mais evidente, segundo os economistas, como um reflexo direto da reforma trabalhista. “Desde 2014, a dificuldade em se conseguir um reajuste salarial digno está cada vez maior. Até aquele ano, mais de 90% dos trabalhadores conseguiam reajustes acima da inflação”, diz.

Conforme os dados, o Centro-Oeste continua com os piores resultados em relação às negociações salariais quando observado o acumulado no ano. A porcentagem de negociações na região que resultaram em reajustes abaixo da inflação foi de 68,6%, valor extremamente alto, ainda mais se levado em conta que somente 11,4% delas apresentou reajustes com algum ganho real salarial.

Na sequência, vieram o Norte e o Nordeste, com percentuais de reajustes salariais abaixo da inflação em 60,6% e 58,3%, respectivamente. Por outro lado, somente 14,3% (N) e 14,5% (NE) de reajustes salariais foram acima da inflação.

O Sul continua sendo a região com melhores resultados. Do total de negociações, 24,5% resultou em ganhos reais de salário e somente 24,8% dos reajustes resultaram em perda real de salário.

Os números da região Sudeste foram semelhantes às do Sul, com 22,4% dos reajustes com ganhos reais, mas com percentual elevado de reajustes com perda salarial, de 44,1%.

Mais sindicalizado, setor industrial obteve as melhores negociações salariais

Considerando as negociações por ramo de atividade econômica, o setor industrial apresentou as melhores condições, o que não é surpresa, uma vez que o setor ainda possui algum grau de sindicalização relevante no país. Entre esses trabalhadores, 33,7% das negociações salariais resultaram em reajuste abaixo da inflação, enquanto 26,2% tiveram algum ganho real.

Já no setor comercial, 31,1% das negociações apresentaram queda do salário real, enquanto apenas 16,9% obtiveram ganho real.

O de serviços, por sua vez, teve 51,6% de suas negociações resultando em perda de poder de compra aos trabalhadores. Somente 17,8% resultaram em ganho de salário real. “Importante observar que esse setor tem maior informalidade, menor sindicalização e maior participação de funcionários terceirizados. Por isso, foi o que apresentou os piores números na negociação salarial”, observam os economistas.

Redação ICL Economia
Com informações do Economia para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado

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