No Brasil onde 33 milhões de pessoas não têm o que comer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo teve como uma de suas principais marcas o combate à fome, está crescendo nas pesquisas de intenção de votos. Dados do levantamento realizado pela FSB, divulgados nesta segunda-feira (15), mostram que Lula cresceu quatro pontos na última semana e voltou ao patamar de 45%, enquanto o presidente Jair Bolsonaro ficou estacionado nos 34%.
Em todas as pesquisas, Lula aparece em primeiro lugar nas intenções de votos, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, está em segundo lugar. A campanha eleitoral começa oficialmente nesta terça-feira (16), quando a temperatura do clima eleitoral começa a esquentar de fato.
Os dados do levantamento da FSB mostram que o vale-tudo de Bolsonaro para melhorar seus indicadores na pesquisa não tem surtido o efeito esperado, pelo menos até o momento. A poucos meses antes da eleição, o presidente abriu a torneira dos gastos públicos, com o Auxílio Brasil de R$ 600, além dos auxílios para taxistas e caminhoneiros, e a desoneração dos preços dos combustíveis que só beneficiam a fatia mais abastada da população, a que anda de carro, e não a camada mais vulnerável. Tanto que os indicadores inflacionários têm mostrado que, apesar da queda nos preços dos combustíveis ter ajudado a negativar a inflação em julho, os preços dos alimentos continuam nas alturas.
A pesquisa da FSB mostra que a diferença entre Lula e Bolsonaro está em 11 pontos percentuais. Na simulação de 2º turno, Lula foi a 53%, enquanto Bolsonaro oscilou de 39% para 38%.
Conforme o levantamento, parte da retomada do crescimento de Lula é creditada à desistência de André Janones (Avante), que tinha 2% nas pesquisas de intenção de voto. No dia 4 de agosto, ele anunciou que deixaria a corrida eleitoral e passaria a apoiar a candidatura de Lula, pois o ex-presidente tem como projeto de campanha a manutenção do Auxílio em R$ 600 depois das eleições, enquanto Bolsonaro pretende pagá-lo somente até o dia 31 de dezembro, de acordo com o previsto na lei aprovada.
Em relação ao peso das medidas do governo Bolsonaro nas intenções de votos, a pesquisa da FSB mostra que o efeito positivo da redução nos preços dos combustíveis já foi realizado em grande parte. Isso porque o percentual dos que perceberam a baixa do valor nas bombas ficou estável em quase dois terços do eleitorado (64%). Também permanece igual a fatia do eleitorado que enxerga no governo federal a responsabilidade pela baixa.
Outro dado importante é que, apesar da melhora do quadro inflacionário, com deflação de 0,68% em julho, apenas 21% dos entrevistados afirmam que sua situação financeira individual melhorou nos últimos 30 dias. Outros 44% dizem que permaneceu igual e 34% dizem que ela piorou, o que significa que grande parte dos eleitores ainda não sentiu efeitos positivos no próprio bolso.
O Instituto FSB ouviu, por telefone, 2.000 pessoas entre os dias 12 e 14 de agosto. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-00603/2022.
Plano econômico da campanha de Lula pretende focar no combate à pobre e à fome
A campanha do ex-presidente Lula pretende focar em temas relacionados ao combate à fome e à pobreza por meio de medidas econômicas.
Os governos do presidente Lula já tiveram como foco o combate à fome, à pobreza e, também, ao desemprego. Com o aumento da população em situação de insegurança alimentar, essa pauta volta com força na campanha. Nesse aspecto, a ideia é comparar os feitos de Lula com os de Jair Bolsonaro, mas tomando o cuidado de não cair na pauta de costumes do atual governo.
Além disso, a campanha pretende focar na ideia de um grande movimento em prol da candidatura da Lula, que reúne nove legendas: PT, PSB, PSOL, Rede, PC do B, PV, Solidariedade, Avante e Agir.
Com 42% do eleitorado na região Sudeste, a campanha de Lula deve focar nessa região para tentar conter o avanço de Bolsonaro. Levantamento do jornal Folha de S.Paulo mostrou que a campanha petista identificou uma ofensiva da equipe do atual presidente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Por isso, Lula deve concentrar sua agenda nessas regiões. Tanto que os primeiros comícios devem ser no Sudeste, com atos em Belo Horizonte (Minas Gerais), na próxima quinta (18), no vale do Anhangabaú, em São Paulo, no dia 20, e no Rio de Janeiro (ainda sem data definida).
Para enfrentar a resistência, o foco da campanha do petista será usar a figura do candidato a vice na chapa de Lula, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), que governou o estado por 16 anos. O ex-tucano deverá investir em segmentos como o agronegócio, o empresariado e setores religiosos mais conservadores.
Também está no radar estratégias para atrair o voto evangélico, fatia da população na qual Bolsonaro avançou. A última pesquisa Datafolha, divulgada em julho, mostra que o presidente conseguiu uma dianteira de dez pontos em relação a Lula nesse segmento: 43% a 33%.
Mas a campanha de Lula quer mostrar as diferenças de seu governo e do atual, focando em propostas para melhorar as condições de vida da população mais vulnerável, principalmente, que só pioram na atual conjuntura.
Quando se amplia a lupa dos indicadores inflacionários, é possível ver o quanto a inflação tem corroído o poder de compra da camada mais pobre da população e falta de perspectivas sobre o futuro têm sido impeditivos para que o presidente, a despeito do Auxílio Brasil, cresça efetivamente nas pesquisas.
De 2019 a junho de 2022, a inflação registrou alta de 26,5% no Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Essa escalada foi puxada, principalmente, pela alta dos alimentos.
Somado a isso, 33 milhões de pessoas estão passando fome, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar. Dobrou a fome nas famílias com crianças de até 10 anos de idade, entre 2020 e 2022. Esses números lançam desafios imensos para o próximo governo, e Lula, no aspecto econômico, quer focar para minorar esses impactos sobre os mais pobres.
A inflação também deixa marcas em redutos mais bolsonaristas, como o Sul e o Centro-Oeste. Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, por exemplo, registrou 31% de inflação acumulada de janeiro de 2019 a junho de 2022. Trata-se do maior índice entre 15 capitais, além do Distrito Federal. A capital sul mato-grossense deu 71% dos votos para Bolsonaro no segundo turno de 2018 e hoje vê crescer a pobreza em sua periferia.
Mas, de modo geral, a pobreza cresce no Centro-Oeste situação que contrasta com a riqueza do agronegócio. Historicamente, de 7% a 8% da população da região vivem em situação de pobreza, percentual que chegou a 11% no ano passado, de acordo com levantamento do IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social) com dados do IBGE.
No Mato Grosso, viralizaram notícias de famílias pobres enfrentando filas para recolher ossos e restos de carcaças de boi doados por açougues na capital Cuiabá.
Já na região Sul, houve escalada de preços em redutos bolsonaristas. Curitiba, por exemplo, registrou a maior inflação entre as capitais pesquisadas no ano de 2021. No acumulado entre janeiro de 2019 e junho deste ano, a cidade teve o terceiro maior índice, com 29,3%.
Entre os estados da região Sul, o Paraná foi o que registrou maior crescimento da pobreza de 2020 para 2021, segundo o IMDS.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias