Petrobras deve anunciar aumento do preço dos combustíveis nesta sexta (17)

De olho na reeleição, Bolsonaro segue pressionando a estatal por um congelamento de preços
17 de junho de 2022

O conselho de administração da Petrobras fez uma reunião de emergência na tarde desta quinta-feira (16) para tentar resolver o impasse em torno do preço dos combustíveis. Há uma defasagem em relação aos valores no exterior, mas, de olho na reeleição, o presidente Jair Bolsonaro tem pressionado para que não ocorram novos aumentos.

O encontro pegou os dirigentes da estatal de surpresa, não apenas por ser feriado, mas porque o preço dos combustíveis não é da competência do conselho. Segundo fontes ouvidas pelo Estadão, a reunião serviu para deixar claro que um reajuste dos combustíveis é de responsabilidade da diretoria executiva, que deve anunciar o aumento nesta sexta (17).

A gasolina está há quase cem dias com o preço congelado nas refinarias da Petrobras, enquanto o diesel teve o preço elevado pela última vez há 36 dias. Dados da Associação Brasileira dos Importadores e Combustíveis (Abicom) mostram que a defasagem chega a 18% no diesel e de 14% na gasolina frente às cotações internacionais.

Governo pressiona Petrobras contra aumento no preço dos combustíveis

Nos últimos dias, o governo se reuniu duas vezes com a diretoria da Petrobras para tentar evitar o aumento. De acordo com os planos de Bolsonaro, os preços precisariam se manter congelados até que o teto do ICMS surta efeito para os consumidores, o que, segundo analistas, pode não acontecer nunca.

Por outro lado, o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, está sendo pressionado a renunciar ao cargo para apressar a troca pelo indicado de Bolsonaro, o secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade. Com a renúncia, Paes não teria de esperar a realização de uma assembleia de acionistas, mas Coelho já afirmou que não vai renunciar.

A decisão do reajuste dos combustíveis é tomada pelo presidente da empresa, pelo diretor de Comercialização (Claudio Mastella), e pelo diretor Financeiro e de Relações com os Investidores (Rodrigo Araújo). Segundo fontes, os dois também serão demitidos após Paes de Andrade tomar posse.

Congresso deve discutir preço dos combustíveis na segunda (20)

Enquanto isso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou nesta quinta-feira (16) que vai convocar para a próxima segunda-feira (20) uma reunião de líderes para discutir a política de preços dos combustíveis da Petrobras.

Lira elevou o tom contra a Petrobras no Twitter e chamou a companhia de “país independente” que age contra os interesses do povo brasileiro.

“A República Federativa da Petrobras, um país independente e em declarado estado de guerra em relação ao Brasil e ao povo brasileiro, parece ter anunciado o bombardeio de um novo aumento nos combustíveis”, escreveu o presidente da Câmara, na rede social, em referência a um possível aumento no preço dos combustíveis, após uma reunião hoje do Conselho de Administração da estatal.

Ontem (16) em transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro disse esperar que a Petrobras não aumente o preço dos combustíveis. “Eu só posso entender que um reajuste da Petrobras agora seria um interesse político para atingir o governo federal”, disse o chefe do Executivo.

Bolsonaro só não contou para quem assistia à live que a política de preços adotada pela Petrobras durante o governo Temer e mantida por ele prevê reajustes atrelados ao mercado internacional.

Para a FUP (Federação Única dos Petroleiros), o foco da gestão da Petrobras no atual governo é a geração de caixa, resultante da venda dos combustíveis a valores de PPI (Preço de Paridade de Importação), altos lucros e dividendos para acionistas, numa política de transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos, “um verdadeiro Robin Hood às avessas”, compara, ressaltando que com a alta dos combustíveis impactando a inflação, a população de baixa renda fica em uma situação ainda pior. “Na ponta mais frágil dessa equação está o trabalhador brasileiro que há três anos não tem reajuste real do salário-mínimo, sendo vítima do processo de empobrecimento acelerado”, afirma Deyvid Bacelar, coordenador da FUP.

Redação ICL Economia
Com informações do Estadão

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