O anúncio de distribuição de dividendos recordes pela Petrobras agradou o mercado, com ações subindo na bolsa. No entanto, gerou críticas de alguns economistas sobre a estratégia da empresa de deixar de fazer investimentos e usar seu caixa para remunerar os acionistas, entre eles o governo para bancar auxílios emergenciais e renúncias fiscais de R$ 40 bilhões, em vez de investir em projetos voltados à energia renovável.
“Em teleconferência para detalhar o lucro de R$ 54,3 bilhões no segundo semestre de 2022, a direção da empresa defendeu que a distribuição de R$ 87,8 bilhões em dividendos não prejudica a saúde financeira da companhia. E adiantou que novos valores devem ser pagos este ano. Com os dividendos do segundo trimestre, a Petrobras terá distribuído R$ 136,3 bilhões pelo desempenho no primeiro semestre de 2022”, informou o jornal Folha de S. Paulo.
O movimento de remuneração aos acionistas ocorre em meio a um processo de venda de ativos e redução do endividamento, “elementos que permitiriam, na avaliação de alguns analistas de mercado, um posicionamento da companhia em investimentos focados na diversificação das receitas em mercados promissores e voltados para a transição energética.”
É a mesma sinalização apontada por sindicatos de empregados da companhia e pelo Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), ligado à FUP (Federação Única dos Petroleiros).
Também o membro independente do colegiado da Petrobras, o advogado Francisco Petros, diz que a estratégia da empresa não contempla uma visão integrada que considere necessidade de redução das emissões, satisfação dos usuários de energia e redução do custo de energia.
Segundo Franciso Petros, consideradas as variáveis estratégicas, o pagamento de dividendos no nível atual caracteriza a empresa sem projeto. “Afora os excessos do controlador contra a governança da Petrobras, mesmo diante de um histórico já conhecido e penoso, agora temos a utilização dos dividendos como um meio de ajuste fiscal”, afirma.
Política de remuneração adotada na gestão Roberto Castello Branco na Petrobras deixa de lado projetos como o da energia renovável
A atual política de remuneração dos acionistas foi aprovada na gestão Roberto Castello Branco, quando também houve a aceleração das vendas dos ativos e saída da estatal de segmentos em que atuava havia tempo, como biocombustíveis, e novos negócios renováveis, como geração eólica
A política de remuneração prevê a distribuição de 60% da geração de caixa da companhia, descontados os gastos com investimentos, a cada trimestre em que a dívida bruta estiver abaixo de US$ 65 bilhões. Permite ainda a distribuição de dividendos extraordinários, como ocorreu neste segundo trimestre.
Para a FUP, a estratégia “reduz a capacidade de investimento da empresa e representa transferência de renda do trabalhador brasileiro em meio à escalada de reajustes dos combustíveis e da inflação provocadas pela equivocada política de preços”.
Nesta sexta-feira (29), o diretor de Finanças da companhia, Rodrigo Araújo, defendeu que a distribuição de dividendos é vista como “a melhor alocação de capital da companhia” e que não impacta na decisão de investimentos. Segundo informou ele, a Petrobras não deixa de fazer investimentos para distribuir dividendo.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias