A Petrobras foi a empresa que pagou os maiores dividendos entre todas as companhias listadas em bolsa no mundo no segundo trimestre de 2022, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira (24) pela gestora de recursos Janus Henderson. Não à toa, o governo Bolsonaro pediu a antecipação de recursos das estatais para bancar os benefícios distribuídos antes da eleição com o intuito de ganhar votos. A iniciativa, em benefício próprio, tem sido alvo de críticas de sindicatos, oposição e especialistas no setor, por privilegiar o acionista em detrimento de investimentos.
Segundo os economistas do ICL, André Campedelli e Deborah Magagna, o alto pagamento de lucros e dividendos parece ser uma marca registrada da Petrobras durante o governo Bolsonaro. “A distribuição de lucros e dividendos para o governo ajuda a pagar o pacote fiscal que está sendo criado para melhorar a imagem de Bolsonaro na desesperada tentativa de subir nas pesquisas e conseguir, consequentemente, sua reeleição”, afirmam.
Puxado pelo alto lucro das petroleiras, o valor dos dividendos globais atingiu recorde de US$ 544,8 bilhões no trimestre (R$ 2,8 trilhões), alta de 11,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Além da Petrobras, a colombiana Ecopetrol aparece na lista das dez maiores pagadoras.
Segundo o levantamento, chamado Janus Henderson Global Dividends Index, o setor de petróleo contribuiu com mais de dois quintos do crescimento do valor distribuído. Com a escalada das cotações, a Petrobras teve lucro de R$ 54,3 bilhões no trimestre.
Foi o terceiro melhor resultado de sua história – e de uma companhia aberta brasileira – coroando um semestre de ganhos bilionários: no primeiro trimestre, a estatal havia lucrado R$ 44,5 bilhões.
Apenas em 2022, a Petrobras já anunciou a distribuição de R$ 136,3 bilhões. Deste total, R$ 48,5 bilhões foram distribuídos no segundo trimestre. Os R$ 87,8 bilhões restantes começam a ser pagos no dia 31 de agosto.
Em relatório logo após o anúncio do valor, o analista Daniel Cobucci, do BB Investimentos, alertou para riscos de que a política de prioridade à remuneração aos acionistas gere “implicações para o crescimento e atuação estratégica para o longo prazo”.
Esse movimento, diz, ocorre em meio a um processo de venda de ativos e redução do endividamento, “elementos que permitiriam, em nossa opinião, um posicionamento da companhia em investimentos focados na diversificação das receitas em mercados promissores e voltados para a transição energética.”
Representante dos minoritários no conselho da companhia, o advogado Francisco Petros também questionou a estratégia. “Consideradas as variáveis estratégicas, o pagamento de dividendos no nível atual caracteriza a empresa ‘sem projeto'”, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo na ocasião.
Diante diante da elevada distribuição de dividendos da Petrobras, pouco sobra para o reinvestimento
Os economistas do ICL explicam que, diante da elevada distribuição de lucros da Petrobras, pouco sobra para o reinvestimento, ou seja, reduz consideravelmente a capacidade de modernização e expansão da empresa. “Isso tudo mostra que está ocorrendo um evidente processo de sucateamento da empresa, buscando uma privatização para os próximos anos”, afirmam André Campedelli e Deborah Magagna.
“É estarrecedor. Tamanha relação entre dividendo-lucro jamais foi vista”, criticou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. “Ao abrir mão de sua capacidade de geração de caixa para distribuir a seus acionistas, a Petrobras reduz seu capital, seu patrimônio, e diminui sua possibilidade futura de investimento.”
De fato, os investimentos da Petrobras já caíram mais de 30% de 2018 a 2021, período que coincide com o do governo de Bolsonaro. No ano passado, foram US$ 8,7 bilhões em investimentos. Isso é 81% a menos do que o recorde registrado em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Naquele ano, foram investidos US$ 48 bilhões.
Além das petroleiras, empresas dos setores financeiro e de consumo, principalmente fabricantes de carros, também se destacaram no pagamento de dividendos no segundo trimestre de 2022, diz o relatório da gestora de recursos Janus Henderson.
Assim como o setor de petróleo, os bancos contribuíram por dois quintos do crescimento do valor distribuído no trimestre.
Segundo alguns analistas, a recuperação pós pandemia já está quase completa, o que limitará os ganhos nos próximos trimestres, e o mundo enfrenta o risco de desaceleração da economia global.
A gestora de recursos Janus Henderson espera que os dividendos pagos em todo o ano somem US$ 1,56 trilhão (R$ 7,9 trilhões), alta de 5,8% em relação ao valor verificado em 2021.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias