A Petrobras perdeu o equivalente a R$ 41,7 bilhões de valor de mercado em cinco dias. Ontem (23), depois da divulgação de uma mudança no estatuto da companhia pelo conselho de administração da estatal, as ações da empresa tombaram mais de 6% na B3 (Bolsa brasileira). Com isso, a empresa, que chegou a atingir o valor recorde de R$ 525,1 bilhões no quarta-feira (18), viu seu valor cair para R$ 483,4 bilhões.
O valor de mercado perdido pela Petrobras equivale ao da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O levantamento foi feito por Einar Rivero, consultor de dados do mercado financeiro, e divulgado pelo site G1,
Como a petroleira é a que mais pesa no Ibovespa, principal indicador da B3, a Bolsa brasileira fechou o pregão em queda de 0,33%, aos 112.784 pontos.
Somente ontem, as perdas da Petrobras foram de R$ 32,3 bilhões, de acordo com o levantamento de Rivero. As ações preferenciais da empresa (sem direito a voto) despencaram 6,61%, a R$ 35,35, enquanto as ações ordinárias caíram 6,03%, a R$ 38,35.
O tombo nos papéis da empresa ocorreram porque o mercado não digeriu bem o conselho da companhia ter anunciado a apresentação de uma proposta de revisão de seu estatuto.
Na leitura feita pelo mercado financeiro, há temor de que a mudança facilite indicações políticas para a alta cúpula da petroleira, ocasionando ingerência na empresa.
Para o economista do ICL André Campedelli, a queda do valor de mercado da Petrobras parece mais um movimento especulativo do que uma mudança de fato do valor real da empresa. “Os agente de mercado tendem a ter aversão a mudanças estruturais na empresa e, com os temores criados após a Lavajato, é natural que tal movimento aconteça. Passado o susto inicial, a empresa deve rapidamente voltar ao seu valor de mercado usual”, analisa o economista.
Mudança no estatuto da Petrobras permite reter uma parte dos dividendos pagos a acionistas, o que fez o mercado estrilar
Mas, segundo o blog da jornalista Malu Gaspar, em O Globo, além de permitir a volta das indicações políticas, a mudança no estatuto permite retenção de uma parte dos dividendos. Segundo ela apurou, esse aspecto foi marcado por um duro embate entre os conselheiros alinhados ao governo Lula e os representantes de acionistas minoritários.
Ainda segundo a jornalista, a divergência se deu primeiro em torno das mudanças em si, que ferem a lei das estatais, e depois em torno de sua comunicação ao mercado. Enquanto a direção da companhia e os conselheiros alinhados ao governo não deixaram claro quando as alterações estatutárias se tornariam públicas, os minoritários pressionaram para que isso ocorresse imediatamente.
As novas regras, de acordo com o blog, foram aprovadas na sexta-feira passada (20) e divulgadas ontem de manhã.
Os representantes do governo Lula na estatal disseram que as restrições previstas na lei das estatais a nomeações de ministros de estado e funcionários com cargo de confiança, além de representantes de partido, foram derrubadas por uma decisão monocrática do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski e, por isso, não precisam mais constar do estatuto da Petrobras.
Por sua vez, os minoritários foram contra a regra argumentando que, além de a decisão de Lewandowski ter sido tomada por liminar, a lei das estatais está em vigor e, portanto, as restrições a nomeações políticas ainda deveriam ser observadas.
Por sua vez, o fundo de reserva do dinheiro que seria destinado aos dividendos visa guardar recursos para o plano de investimentos da empresa, que pretende aplicar recursos na construção de refinarias e estaleiros.
Depois de o governo vencer a votação no conselho por 7 votos a 4, os minoritários reivindicaram que as mudanças fossem comunicadas imediatamente ao mercado, em razão do impacto que poderiam ter sobre o valor das ações da empresa.
Petrobras diz que mudança visa a cumprir Lei das Estatais
Em nota, a Petrobras afirmou que a proposta tem por objetivo alinhar o estatuto à Lei das Estatais, de número 13.303/2016.
A companhia também informou que seu estatuto social faz referência, no artigo 21, aos requisitos determinados pela lei. E que a proposta a ser deliberada mantém todas as condições previstas em relação às indicações de membros da administração.
O objetivo da mudança, segundo a empresa, “é tão somente manter o estatuto social da Petrobras atualizado”. Não há qualquer redução nas exigências em relação à Lei das Estatais, pois o estatuto social continua a fixar o cumprimento total da Lei das Estatais nas indicações”, diz trecho da nota.
Redação ICL Economia
Com informações do site G1 e de O Globo, blog da Malu Gaspar