Petroleiros e caminhoneiros criticaram os novos reajustes na gasolina (5,18%) e diesel (14,26%) que a Petrobras anunciou nesta sexta-feira (17). Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT), o presidente Jair Bolsonaro “debocha” dos brasileiros ao criticar os aumentos e praticar novos reajustes, enquanto mantém a política de Preço de Paridade de Importação (PPI). Do mesmo modo, a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) recebeu a notícia com “indignação” e afirmou que o “chilique” de Bolsonaro não resolve o problema de novos reajustes.
“É mais um descaso do governo com o trabalhador brasileiro, a maior vítima dos novos reajustes dos derivados e do descontrole da inflação”, afirmou o coordenador-geral da FUP-CUT, Deyvid Bacelar, em nota. O dirigente criticou o “discurso eleitoreiro” do presidente. “A quatro meses das eleições, Bolsonaro se diz contrário aos novos reajustes de derivados, as quais deveria ter combatido desde o início de seu governo”.
“A verdade é que, de uma forma ou de outra, mantendo-se essa política, o país vai parar novamente. Se não for greve, será pelo fato de se pagar para trabalhar com os novos reajustes. A greve é o mais provável”, disse o presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão. Ele afirmou que a luta contra os novos reajustes “não é só dos caminhoneiros, mas de todo o povo brasileiro.
Bolsonaro esbravejou contra os novos reajustes, alegando que “a Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos”. Em entrevista à Rádio 96 FM, de Natal, ele soltou uma nova brava, ao afirmar que pretende “propor uma CPI para investigar a Petrobras, seus diretores e os membros do Conselho”. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) também defende a investigação. No entanto, o presidente já trocou três vezes o comando da estatal, que manteve praticamente inalterado o PPI, provocando novos reajustes. Com essa política, a Petrobras vende os combustíveis no mercado interno como se fossem 100% importados.
Além disso, o “nervosismo oficial” contra a Petrobras escondem uma encenação, na verdade, para desestabilizar a empresa com objetivo de vender a estatal, como explica a geóloga Rosangela Buzanelli, funcionária e integrante do conselho de administração da Petrobras. “Toda essa campanha que o Bolsonaro faz contra a Petrobras é no sentido de culpá-la pelos novos reajustes, de cooptar a opinião popular para apoiar essa privatização”, diz.
Impactos dos novos reajustes
De acordo com cálculos da subseção do Dieese, o preço do diesel nas refinarias já subiu 203% durante o governo Bolsonaro. Entre janeiro de 2019 até agora, a gasolina também acumula alta de 169,1%, e o gás de cozinha, de 119,1%. Enquanto isso, o salário mínimo aumentou 21,4% no período.
Nesse sentido, os petroleiros alertam que os novos reajustes terão “impactos diretos” sobre os preços dos alimentos e dos transportes, o que mostra que o atual governo “segue priorizando sua política de transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos”.
“O foco da gestão da Petrobras, no atual governo, é geração de caixa, com a venda de derivados a valores de PPI, garantindo altos lucros e dividendos recordes para acionistas, com os novos reajustes. Do lado mais frágil está o trabalhador brasileiro que, há três anos, não tem reajuste real do salário mínimo”, alegam os petroleiros.
Da estrada
Já os caminhoneiros afirmam que não conseguem mais arcar com os custos de abastecimento e manutenção dos veículos, “colocando em risco suas próprias vidas e a de terceiros”. Assim, para a Abrave, a “grande falha e incompetência” do governo Bolsonaro foi não ter realizado “mudanças estruturantes” na Petrobras ainda no início do governo.
“O governo se acomodou e, por ironia do destino, o ministro apelidado de ‘Posto Ipiranga’, que deveria resolver esse problema, é o grande culpado deste caos. E hoje chegamos nesse ponto crítico, sendo que ainda temos sérios riscos de faltar diesel“, diz a associação de caminhoneiros.
ICMS pelo ralo
O senador Jean Paul Prattes (PT-RN) destacou que o novo aumento dos combustíveis “anula” os efeitos do Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022, aprovado pelo Congresso Nacional nesta semana, que limita a 17% a alíquota do ICMS sobre itens “essenciais”, incluindo os combustíveis. O projeto ainda precisa da sanção presidencial para entrar em vigor.
“Ué! Mas não votaram (nós não!) um PLP18 inconstitucional retirando mais de R$ 100 bilhões da Educação, Saúde e Segurança Publica dos Estados e Municípios em ICMS pra BAIXAR os preços? Não demorou UMA semana para aparecer a verdade!“, criticou o parlamentar pelo Twitter.
Além disso, ele também afirmou que quer ser o primeiro a assinar o pedido de CPI da Petrobras, conforme anunciou Bolsonaro. “Queremos saber para onde foram os dividendos bilionários distribuídos em 100% resultantes destes preços altos e da venda de refinarias, dutos e da BR Distribuidora.