O PIB da indústria manufatureira, comércio e construção permanece abaixo do patamar de 2014. No início da década passada, essas atividades eram responsáveis por 33% do valor adicionado ao Produto Interno Bruto, mas, nos últimos três anos, essa participação ficou em 29%. Esses setores tiveram, portanto, grande representatividade nas gestões petistas.
Conforme publicado pela Folha de S.Paulo, o nível de produção da manufatura brasileira está cerca de 15% abaixo do pico da série histórica, índice alcançado em 2013. O declínio do setor, portanto, começou antes da recessão de 2014-2016. Por sua vez, construção e comércio tiveram seus picos no início de 2014. A primeira ainda está mais de 20% abaixo daquele patamar. O segundo mantém uma defasagem de 5%.
Por outro lado, a agropecuária foi o setor que mais cresceu desde o início da série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em 1995, e foi também o primeiro a se recuperar da recessão. A propósito, a agropecuária fez o Centro-Oeste brasileiro avançar. Em 2020, o PIB (-3,3%) caiu em 24 das 27 unidades da federação, segundo o IBGE. Mas mesmo as três UFs no campo positivo não tiveram variação significativa: além de estabilidade em Mato Grosso, 0,1% em Roraima e 0,2% em Mato Grosso do Sul. Embora o estado de São Paulo mantenha a liderança, a região Sudeste perdeu participação no PIB, enquanto o Centro-Oeste avançou, com impulso da agropecuária.
Já o setor de serviços como um todo teve sua trajetória de recuperação adiada por causa da pandemia, mas voltou ao patamar pré-crise no segundo semestre de 2022. Em outubro de 2022, o volume de serviços no Brasil recuou 0,6% frente ao mês anterior (ponto mais alto da série histórica), na série com ajuste sazonal, após ter acumulado um ganho de 5,8% de março a setembro. Mas o segmento está 10,5% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia).
A indústria manufatureira e a construção estão dentro do grande setor industrial ao lado do segmento extrativista e atividades como eletricidade, água e esgoto. Já o comércio é contabilizado como parte do grupo serviços, segundo as Contas Nacionais do IBGE.
PIB da indústria ainda não se recuperou, mas a construção sofreu a maior perda de participação na história recente
O construção foi o setor que mais sofreu perda de participação no PIB na história recente, de 6,4% em 2013 para 3,3% em 2021. A crise fiscal que resultou em cortes em programas de investimentos e de habitação popular inviabilizou a manutenção do alto nível de produção do setor alcançado há uma década.
À Folha de S.Paulo, José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), disse que o Brasil tem hoje grandes projetos de infraestrutura em andamento, mas que demoram para dar resultado, e obras que demandam baixos recursos, como construção de praças e asfaltamento de avenidas.
O investimento em infraestrutura por parte do poder público sofreu um enorme retrocesso durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A Carta de Infraestrutura da Inter B, que faz balanço dos investimentos nos últimos anos, mostra que o setor público investiu, em média, cerca de R$ 46 bilhões ao ano em infraestrutura de 2018 a 2021, e o setor privado, R$ 94 bilhões em média. Nos três anos anteriores, de 2016 a 2018, a média do setor público foi de R$ 57 bilhões, e a do setor privado, praticamente os mesmos R$ 94 bilhões.
“Falta investimento na coisa média. A estrada que dá acesso à Dutra, a vicinal, a ponte, o conjunto habitacional. Para isso, precisa voltar a ter investimento público. Mas não adianta ter investimento público sem responsabilidade fiscal”, disse Martins à Folha.
Mas, importante pontuar, o setor cresceu o dobro do PIB nos últimos dois anos. Pode crescer o triplo em 2023, segundo projeção da CBIC. O segmento chegou a 3 milhões de trabalhadores com carteira assinada no pico. As vagas caíram para 2 milhões no momento mais agudo e agora estão em 2,5 milhões.
A indústria manufatureira é outro segmento ainda sem perspectiva de voltar ao pico. Na década de 1970, esse segmento representava mais de 20% do PIB brasileiro. Em 1980, foi iniciado um processo de desindustrialização que reduziu essa participação praticamente pela metade, movimento que vai na contramão da tendência mundial, embora países como Austrália e, também, o Reino Unido, tenham passado por processos semelhantes.
Por fim, o comércio tem demorado mais a se recuperar da recessão de 2014-2016, embora esteja próximo de alcançar o patamar da época. Desde 2012, tem um peso na economia que supera o da indústria de transformação — cerca de 14% do valor adicionado ao PIB e 20% de participação no grupo serviços como um todo.
De acordo com a CNC (confederação nacional do comércio), o setor deve fechar 2022 com crescimento próximo de 1,2%, praticamente o mesmo resultado dos dois anos anteriores, em um cenário de juros elevados e inflação ainda alta. Ainda assim, abaixo do PIB brasileiro, que deve fechar o ano em 3,1%.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo