O Comitê de Política Monetária (Copom), nesta quarta-feira (4), ao anunciar a elevação da taxa Selic em 1%, passando de 11,75% para 12,75% ao ano, sinalizou também que deverá ocorrer mais uma elevação em junho. No entanto, não foi indicado o desfecho para o ciclo de aperto monetário, o que passa a preocupar o mercado, levando à dúvida de até quanto a taxa de juros no país pode ainda subir.
O mercado financeiro aposta em um aumento de 0,5 %, mas o Banco Central preferiu não detalhar sua atuação para um período maior de tempo, como havia feito nas comunicações do Copom de março. “Para a próxima reunião, o comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude. O comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação”, diz o comunicado. A próxima reunião do Comitê está marcada para os dias 14 e 15 de junho.
A menção ao cenário incerto também esteve presente quando o BC apresentou suas novas projeções de inflação, destacando que a incerteza em torno de suas premissas e estimativas “atualmente é maior do que o usual”. O colegiado considerou no cenário de referência o barril de petróleo terminando o ano em US$ 100. No último Copom, em março, o BC tinha usado essa premissa do petróleo no cenário alternativo, mas, desta vez, passou a usá-la como único cenário.
Inflação e “arcabouço fiscal”
Em relação aos riscos do cenário de inflação, a autoridade monetária pregou cautela na avaliação com “a conjuntura particularmente incerta e volátil” que “requer serenidade na avaliação dos riscos”. O BC prevê agora um IPCA (índice oficial de inflação) de 7,3% para 2022, acima do teto da meta (de 5%), e de 3,4% para 2023, superando o centro da meta no ano (de 3,25%). As estimativas, contudo, estão muito abaixo do que o mercado projeta – 7,9% e 4,1%, respectivamente, conforme o Boletim Focus.
O Copom também passou a incluir de maneira mais direta entre os riscos a “incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país”, embora tenha repetido que essa incerteza já estaria parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. A advertência vem num momento em que o presidente Jair Bolsonaro, que vai tentar a reeleição, indica a aprovação de novas despesas que podem pesar nos gastos do próximo governo. Além disso, existe no Congresso movimento para flexibilizar o teto de gastos, mecanismo que atrela as despesas públicas à variação da inflação.
Para analistas financeiros, o comunicado do Copom não amarra um compromisso com uma taxa de juros a frente, apenas ressaltou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Vale lembrar que aumento dos juros encarece o crédito e o custo da dívida pública, elevando o risco de uma desaceleração maior da economia. Com financiamento mais caro, empresas podem segurar investimentos, com impacto no emprego e na renda.
Os economistas do ICL André Campedelli e Deborah Magagna analisam que tanto o comitê do BC quanto do Fed (banco central dos EUA que também aumentou a taxa de juros no país nesta quarta, 4), “mesmo admitindo em suas cartas que o problema é majoritariamente de oferta, decidiram atuar mais uma vez reduzindo a demanda. Os efeitos das decisões no curto prazo podem ser muito pesados para o nível de atividade econômica brasileira e mundial”.
Redação ICL Economia
Com informações do Estadão Conteúdo e demais agências