População em situação de extrema pobreza caiu 40% em 2023, mas situação ainda é grave

Segundo o relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades, maior redução na extrema pobreza foi entre mulheres negras (-45,2%), mas elas ainda são as mais fragilizadas socialmente.
28 de agosto de 2024

A extrema pobreza caiu 40% no Brasil em 2023, primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo o relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades, divulgado ontem (27). A maior queda ocorreu entre as mulheres negras, com redução de 45,2% ante 2022. Ainda assim, a situação de extrema pobreza no país continua bastante grave.

O recorte usado pela pesquisa para enquadrar as pessoas na extrema pobreza foram aquelas cuja renda mensal per capita (por pessoa) é inferior a R$ 109 mensais. Essa é a mesma classificação usada para selecionar beneficiários do Bolsa Família. O levantamento não publicou números absolutos de cada grupo,

No recorte por grupos, a extrema pobreza ficou assim dividida:

  • Mulheres negras: 1,9% (era 3,5% em 2022)
  • Homens negros: 2% (era 3,3% em 2022)
  • Mulheres não negras: 1,3% (era 2% em 2022)
  • Homens não negros: 1,3% (era 1,9% em 2022)

Por região, a queda foi maior no Norte do Brasil, com redução de 45,1%. O Nordeste continua sendo a região com a maior taxa de extrema pobreza, apesar de uma queda de 42,6%.

  • Nordeste: 2,7% (era 4,7% em 2022)
  • Norte: 2% (era 3,6% em 2022)
  • Sudeste: 1,3% (era 2% em 2022)
  • Sul: 1,1% (era 1,5% em 2022)
  • Centro-Oeste: 1% (era 1,7% em 2022)

Mais atingidas pela extrema pobreza, mulheres negras são as que mais sofrem com a insegurança alimentar

Pelo menos 12,5% das mulheres negras estão em situação de insegurança alimentar moderada e grave.

A insegurança alimentar moderada ocorre quando a pessoa têm dificuldade para conseguir alimentos. A grave refere-se à fome.

“O que chama a atenção é a nitidez com que a gente percebe os grupos mais desfavorecidos e vulneráveis [mulheres e pessoas negras]”, afirmou o membro do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, Oded Grajew. Ainda na escala da insegurança alimentar, 12,3% das vítimas são homens negros. Entre não negros, essa porcentagem é de 5,8% para mulheres, e 5,5% para homens.

Outros dados do relatório mostram também

  • que o rendimento médio mensal da mulher negra é de apenas 42%, quando comparado ao homem não negro;
  • que as mulheres negras estão mais desempregadas (11,5%) do que os homens não negros (5,2%).

Grajew, que é também fundador e conselheiro emérito do Instituto Ethos, entende que a combinação de raça e gênero é aquela que mereceria a maior atenção.

O relatório destaca ainda que houve um aumento na proporção de crianças indígenas sofrendo com desnutrição: 16,1% entre meninos e 11,1% entre meninas.

“Combater a desigualdade é mudar as prioridades e investir onde é mais necessário. É importante dar atenção prioritária para aqueles grupos mais vulneráveis e marginalizados. No caso do Brasil, é a população negra e são as mulheres”, afirmou.

Ele também reforçou que, embora a situação tenha melhorado para os grupos mais vulneráveis e pobres da população, a situação melhorou também para os mais ricos.

“Em alguns casos, ficou igual e até aumentou na desigualdade. Nós criamos o Pacto Nacional de Combate à Desigualdade porque a desigualdade é que constrói uma sociedade de castas, de conflitos e de violência. A sensação de injustiça é um veneno para a sociedade”, avaliou.

A edição 2024 do Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial (SOFI 2024), o Mapa da Fome da ONU, divulgada em julho, mostra que a insegurança alimentar severa caiu 85% no Brasil em 2023.

Em números absolutos, 14,7 milhões deixaram de passar fome no país. A insegurança alimentar severa, que afligia 17,2 milhões de brasileiros em 2022, caiu para 2,5 milhões. Percentualmente, a queda foi de 8% para 1,2% da população.

Brasil é o 20º país com mais pessoas em extrema pobreza, segundo ranking da ONU atualizado em abril. Apesar das reduções apontadas no Observatório Brasileiro de Desigualdades, a ONU mostra que o Brasil ainda tem mais habitantes em situação de extrema pobreza do que países como Ruanda, Zimbábue, Sudão, Haiti e Nepal. A lista da ONU tem 164 nações.

Em percentual da população total do país, o Brasil fica na 67ª posição.

Outros dados do relatório

Desocupação e renda: A taxa de desocupação no país caiu 19%. Essa redução foi similar entre mulheres (19,2%) e homens (18,8%), mas foi maior para o grupo de não negros (20,3%) do que o de negros (18,8%).

Taxa de desocupação por sexo e cor:

  • Mulheres negras: 11% (era 14% em 2022)
  • Homens negros: 7% (era 9% em 2022)
  • Mulheres não negras: 7% (era 9% em 2022)
  • Homens não negros: 5% (era 6% em 2022).

Taxa de desocupação por região:

  • Nordeste: 11% (era 13% em 2022)
  • Norte: 8% (era 10% em 2022)
  • Sudeste: 7% (era 9% em 2022)
  • Centro-Oeste: 6% (era 7% em 2022)
  • Sul: 5% (era 6% em 2022).

Renda: As mulheres tiveram alta maior na renda em 2023, mas a diferença em relação a homens ainda é grande. Os rendimentos no sexo feminino subiram 9,57%, enquanto no sexo masculino tiveram alta de 7,68%. A remuneração das mulheres é 27% inferior em comparação aos homens. No ano passado, os homens ganhavam, em média, R$ 3.252, enquanto as mulheres ganhavam R$ 2.386,00.

Mais ricos: O rendimento do 1% mais rico é 31,2 vezes maior que o dos 50% mais pobres. A diferença pouco mudou na comparação com 2022, quando a renda dos mais ricos era 30,8 vezes maior que a dos mais pobres.

Estudo do FGV Ibre

A extrema pobreza no Brasil foi reduzida pela metade nos últimos dois anos, devido, em grande parte, à recuperação econômica. Segundo o Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV IBRE, as mudanças nos programas de transferência pré-eleição de 2022 e no início de 2023 contribuíram para a redução da extrema pobreza, que caiu de 19,2 milhões em 2021 para 9,5 milhões em 2023.

Em 2021, cerca de 19,2 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 209 por mês, representando quase 10% da população. Esse número caiu 50% (9,67 milhões) em 2023.

O estudo aponta que diversos fatores contribuíram para essa diminuição, sendo o principal deles as políticas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial e o aumento no Bolsa Família.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e Agência Brasil

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