O novo presidente da Petrobras, ex-senador Jean Paul Prates (PT), participou nesta quinta-feira (2) de sua primeira conferência com investidores para apresentação de resultados financeiros da empresa. Cerca de 12 horas depois de a estatal divulgar um lucro recorde de R$ 188 bilhões em 2022, Prates foi questionado por representantes de bancos se sua gestão perseguirá resultados semelhantes. Mais do que isso: se pagará a acionistas dividendos de até R$ 215 bilhões.
Apesar de o programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que indicou Prates à presidência da Petrobras – prever mudanças significativas na estatal, o ex-senador não espera que isso afete sua lucratividade. Prates, aliás, afirmou que deseja que a empresa continue lucrando e distribuindo ganhos a investidores como em 2022. Contudo, ressaltou que isso será buscado em “outras circunstâncias”.
Segundo ele, o lucro registrado neste ano tem a ver com questões específicas: retomada da atividade econômica pós-pandemia, aumento do petróleo no mercado internacional e da demanda por combustíveis internamente.
Prates afirmou que, por uma decisão de governo, a Petrobras resolveu basear os preços dos combustíveis que ela vende internamente no preço internacional. Isso, num contexto de alta demanda e de guerra, elevou o custo da gasolina e diesel no Brasil. Logo, beneficiou a estatal, mas também outras petroleiras e importadoras de combustível.
O presidente da Petrobras disse que esse cenário mundial de petróleo e derivados tende a mudar – o que também tende a fazer os preços recuarem. Ele, porém, disse que pretende manter a lucratividade da estatal ampliando a participação dela no mercado nacional e não se desfazendo de bens lucrativos, como refinarias.
“Vamos ter sim uma robustez de dividendos porque pretendemos ter lucros à altura do aferido em 2022, embora eu imagine que deva ser em circunstâncias diferentes”, disse Prates. “No passado, houve indicativo do governo interferindo na Petrobras para que ela abrisse espaço para à concorrência de importadores. Isso vai mudar. Ela vai buscar o melhor cliente nas melhores condições. Vai se defender quando for acusada de estar ‘tirando’ alguém do mercado, o que não aconteceu antes.”
O atual presidente da Petrobras, quando ainda era parlamentar, criticou por diversas vezes o acordo que a estatal fez em 2019 com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) prevendo a venda de oito das 13 refinarias que a empresa tinha na época.
O acordo encerrou uma investigação aberta pelo Cade a pedido da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) sobre suposta prática anticoncorrencial da estatal. A Abicom apontava que, por ter quase todas as refinarias do país, a Petrobras vendia combustíveis a preços mais baratos do que no mercado externo. Isso inviabiliza financeiramente o trabalho das importadoras de gasolina e diesel.
Na conferência com investidores, Prates não citou esse acordo especificamente. No entanto, afirmou que a Petrobras será competitiva contra todos os seus concorrentes.
Política de preços da Petrobras
Ao falar das suas expectativas de lucro, Prates mencionou a política de preços da Petrobras, que equipara preços internos aos do exterior.
Segundo alguns economistas e os movimentos sociais, essa paridade é a principal causa dos aumentos dos preços da gasolina e diesel no Brasil. O presidente Lula, inclusive, prometeu mudar isso “abrasileirando” os preços dos combustíveis.
Prates reafirmou que “abrasileirar” preços é uma questão de governo. “Não é a gente que vai fazer a política de preços do Brasil. Eu insisto em que essa é uma questão de governo, não da Petrobras. A Petrobras tem a política comercial dela”, disse ele.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, tuitou na terça (28) que a paridade de preços precisa acabar: “Agora é construir na Petrobras uma política de preços mais justa, acabar com PPI [paridade de preços de importação] e rever a indecente distribuição de dividendos da empresa para ela voltar a investir e fazer o Brasil crescer”.
Transição energética
Prates iniciou a conferência com investidores com um breve discurso. Nele, afirmou que uma das prioridades de sua gestão na estatal serão investimentos para a transição energética.
“Nós precisamos nos preparar para a inevitável transição energética. Se ninguém pode afirmar com precisão até quando a indústria tradicional convencional de petróleo e gás será dominante, é indiscutível que o momento está cada vez mais próximo”, afirmou. “Momento de uma transição em direção a fontes renováveis e sustentáveis.”
Prates ponderou que essa transição não acontecerá do dia para noite. Por isso, a Petrobras continuará focada na exploração do pré-sal, até para que possa usar parte dos recursos advindos de lá para financiar novos projetos. “Se você simplesmente para de um lado e começa em outro, você muda totalmente de atividade. É outra empresa. É como se você fechasse a empresa, começasse outra.”
O presidente da Petrobras, inclusive, confirmou que a empresa pretende explorar campos de petróleo na chamada Margem Equatorial, área no extremo norte do país na qual fica também a foz do Rio Amazonas. Ambientalistas se opõem ao projeto.
“A Margem Equatorial é uma nova fronteira brasileira com potencial grande. Não vamos deixar de atuar ali porque no curto e médio prazo nós precisamos, sim, abastecer o país quanto e financiar a própria transição energética”, afirmou.
“A Petrobras vai fazer 70 anos em outubro. Quero que, nos próximos 70 anos, a empresa continue produzindo valor pro Brasil, pro acionista, para os trabalhadores e trabalhadoras”, concluiu Prates. “Que a empresa mostre que ser sócio do governo brasileiro numa atividade estratégica não é mau negócio, pelo contrário. É uma vantagem.”