Quem ganha R$ 4 mil no Brasil paga o mesmo imposto de renda que os muito ricos

Estudo elaborado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda mostra as disparidades tributárias no país, provocada, principalmente, pela isenção de rendimentos como lucros e dividendos distribuídos por empresas a seus acionistas.
11 de janeiro de 2024

Um estudo elaborado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda mostra a desigualdade tributária entre aqueles com renda média mensal de R$ 4 mil e aqueles que ganham R$ 4,1 milhões ao mês. Conforme o estudo, a alíquota paga pelos dois de imposto de renda é praticamente a mesma.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, que divulgou o estudo, a alíquota paga pelos brasileiros do primeiro grupo é de 1,73%, enquanto a parcela mais rica paga 1,76%. Lembrando que quem ganha R$ 4,1 milhões por mês representa a fatia do 0,01% mais rico do país.

Ainda segundo a reportagem, a alíquota efetiva retrata a proporção do valor pago pelo contribuinte sobre o que ele declarou de renda e é menor do que a nominal (de até 27,5%) porque leva em conta isenções e abatimentos previstos em lei.

Importa ressaltar que os valores nominais recolhidos são de ordens de grandeza diferentes. Contudo, a similaridade da alíquota efetiva mostra que, para esse seleto grupo de 3.841 contribuintes no topo da pirâmide (os que ganham R$ 4,1 milhões por mês), não se aplica a premissa de cobrar mais de quem ganha mais.

A segunda etapa da reforma tributária, que vai focar na renda, é uma das metas do governo para este ano para acabar com as desigualdades tributárias.

À Folha, a subsecretária de Política Fiscal da SPE, Debora Freire, o quadro é fruto da isenção de rendimentos como lucros e dividendos distribuídos por empresas a seus acionistas, um exemplo de regra que contribui para acentuar a desigualdade de renda no país. “No 0,01% mais rico, quase 70% da renda é isenta”, disse.

Em dezembro passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a lei que prevê a taxação das offshores e dos fundos exclusivos, que tenta corrigir parte dessas disparidades tributárias. A expectativa do governo é arrecadar quase R$ 30 bilhões até 2025 com a nova lei.

As offshores são investimentos no exterior. Já os fundos exclusivos são fundos de investimento personalizados para pessoas de alta renda.

Imposto de renda: relatório da Fazenda usou dados da declaração do IRPF de 2023

O Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza da População Brasileira foi elaborado pelo órgão com base em dados da declaração do IRPF 2023 (ano-calendário 2022).

Atualmente, a tabela do IRPF prevê atualmente isenção do imposto para ganhos até R$ 2.112 mensais e alíquotas progressivas que vão de 7,5% a 27,5%, conforme a faixa de renda. No entanto, a subsecretária de Política Fiscal da SPE ressaltou que a aparente progressividade da cobrança é, na prática, minimizada pelas isenções.

O estudo aponta ainda que, se o conjunto de declarantes fosse dividido em uma escada com 100 degraus, a cobrança do imposto seria progressiva até o degrau 93. No topo, onde está os 7% mais ricos, a lógica se inverte: quanto mais se ganha, menos se paga.

A alíquota efetiva do 0,01% mais rico é menor até mesmo do que a cobrança sobre quem está no miolo da escada, que recolhe algo próximo a 3% dos seus ganhos. No degrau 93, a alíquota efetiva chega ao pico de 11%.

“A alíquota nominal do Imposto de Renda engana bastante. Ela é progressiva, como deve ser, para que cumpra com o princípio da capacidade contributiva, ou seja, quem ganha mais e quem tem mais renda deve ser mais tributado. Só que, quando se calcula a alíquota efetiva, a história não é bem essa”, disse a subsecretária.

No entanto, o estudo não reflete a distribuição de renda no país, uma vez que apenas 38,4 milhões de brasileiros prestaram contas à Receita Federal. Apesar disso, os dados são um termômetro relevante da desigualdade.

Em 2022, foram declarados R$ 607,6 bilhões recebidos em lucros e dividendos, dos quais R$ 438,1 bilhões concentrados nas mãos dos 384 mil contribuintes que formam o grupo de 1% mais rico entre os declarantes.

O grupo do 0,01% mais rico recebeu R$ 111,4 bilhões da renda com lucros e dividendos declarada à Receita.

Redação ICL Economia
Com informações da agências de notícias e da Folha de S.Paulo

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