Rede de varejo Americanas anuncia ‘inconsistências contábeis’ de R$ 20 bilhões e ações da varejista despencam na Bolsa

CEO Sérgio Rial pede para deixar o cargo após 10 dias à frente da varejista. Com ele, também saiu o diretor financeiro e de relações com investidores, André Covre.
12 de janeiro de 2023

A rede de varejo Americanas – que inclui os sites de varejo Submarino, Americanas.com e da Ame – comunicou ontem (11), após o fechamento do mercado financeiro, a saída de seu CEO, Sérgio Rial, a pedido dele próprio. O executivo deixou a empresa após a descoberta de “inconsistências” contábeis da ordem de R$ 20 bilhões no balanço da rede Americanas em exercícios anteriores, incluindo o de 2022. O diretor financeiro e de relações com investidores, André Covre, também deixou a empresa.

Até a tarde desta quinta-feira (12), a Americanas não havia detalhado os problemas encontrados no balanço, mas, ao que tudo indica, referem-se a dívidas não contabilizadas. Como a varejista é uma empresa de peso na Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa começou operando no negativo hoje, mas, no início desta tarde, conforme o site Infomoney, o índice da bolsa virou para alta. Mas as ações da Americanas (AMER3) haviam caído (até as 14h46 da tarde) 76,2%, a R$ 2,85, e retornavam a leilão. Os papéis das concorrentes também foram atingidas pela notícia, como a Magalu, no início da manhã de hoje.

Hoje, pela manhã, Rial, que foi CEO do banco Santander, participou de uma conferência fechada organizada pelo BTG Pactual sobre os problemas contábeis divulgados na véspera pela companhia. Na conferência, transmitida online para número limitado de participantes, ele afirmou que, apesar de ficar por apenas 10 dias no comando da empresa, encontrou sinais relacionados a falhas em identificação de financiamentos bancários que deveriam ter sido identificados como dívida.

“Uma das primeiras coisas que me chamou atenção é por que nas cartas de circularização aos bancos isso não aparece como dívida”, disse Rial, fazendo referência a contratos das Americanas de financiamento voltados ao pagamento de fornecedores, segundo publicação do UOL.

O executivo ainda disse que havia “sinais de que talvez o nível de transparência e talvez a vontade da própria gestão em querer falar de problemas e desafios não estivesse tão fluída na organização como deveria”.

O atual valor de mercado da Americanas é de cerca de R$ 11 bilhões. O comunicado divulgado pela rede ontem ao mercado diz: “Numa análise preliminar, a área contábil da companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/9/2022. A companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”. Também afirmou não ser “possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia”.

Tanto Rial quanto Covre foram empossados em 2 de janeiro 2023 e a saída tem efeito imediato. A gestão do agora ex-CEO era aguardada pelo mercado desde agosto como uma mudança favorável para a recuperação das ações da Americanas.

O Conselho de Administração da rede de varejo nomeou, de forma interina, João Guerra para os cargos de diretor-presidente e diretor de Relações com Investidores. O trio de investidores Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira controlam a Americanas há 40 anos e ainda são os principais acionistas.

Rede de varejo Americanas tem avaliação AAA pelas agências de classificação de riscos

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Crédito: Envato

Importante ressaltar que a Americanas é uma empresa com alta nota (rating) de avaliação feita pelas agências de classificação de risco. O rating é AAA. Por isso, muitos investidores pessoas físicas e também fundos de investimento e de pensão têm ações e títulos privados da empresa.

Fontes do mercado disseram que as operações podem ter sido de risco sacado, termo para a antecipação do pagamento pela venda de produtos ou serviços. A depender das condições e das interpretações, esse compromisso pode ser classificado em contas a pagar ou como dívida financeira. Nessa hipótese, o endividamento da rede de varejo Americanas teria um salto e acionaria gatilhos (covenants) que podem levar ao pagamento integral antecipado. Mas tudo ainda é suposição.

De acordo com a carta enviada por Rial a funcionários da Americanas, a qual o portal InfoMoney teve acesso, há a informação de que “a posição de caixa é sólida mais de R$ 8 bilhões [sic] e seguiremos pagando nossos fornecedores no prazo estipulado e todas as nossas obrigações”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

*Este texto foi atualizado às 14h46 para inclusão dos dados das ações da Americanas e a fala do ex-CEO da empresa.

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