O governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) encerrou ontem (22) a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), contabilizando uma perda de pelo menos R$ 4,5 bilhões aos cofres estaduais. O valor é quase um terço dos R$ 14,8 bilhões arrecadados com a privatização.
A conta considera o valor pelo qual as ações da companhia de água e esgoto foram vendidas na privatização, recém-concluída, e a atual cotação do papel na Bolsa brasileira. Na privatização, as ações da Sabesp foram vendidas a R$ 67 cada uma. Ontem, na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, essa mesma ação valia R$ 87.
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, tem criticado o processo de privatização da autarquia, uma empresa lucrativa e que, na opinião dele, está sendo usada como cabo eleitoral de Tarcísio, pré-candidato à eleição presidencial em 2026, no lugar de Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível.
“Ele [Tarcísio] simplesmente comprou muito bem pago com o nosso dinheiro o apoio eleitoral do mercado. Ele deu um cheque de quase R$ 2 bilhões para comprar a simpatia, amizade eterna, lealdade e apoio do mercado financeiro, e da mídia de que esse mercado é dono. Um naco grande dessas empresas são dos fundos de investimento. O jogo da Sabesp é um jogo 100% político”, enfatizou Moreira.
Isso porque, segundo Moreira, o governo de Tarcísio escolheu os grandes investidores para os quais ele alocou as ações da empresa, enquanto uns ficaram com nada.
“Como foi vendida por R$ 67 a ação e, no mesmo dia, já estava negociada acima de R$ 82 e 17% da Sabesp foi alocada para o mercado – grandes bancos, fundos de investimento – e 15% para a Equatorial. O governo de São Paulo escolheu para quem ele ia dar de presente R$ 2 bilhões: R$ 1,5 bilhão foi dado para a Equatorial, só que, mais importante que isso, deram cheque de R$ 2 bilhões para o mercado”, disse o economista.
Especialista da Ondas diz que diferença de preço criou uma situação absurda
Para Amauri Pollachi, especialista em saneamento e recursos hídricos e conselheiro do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), tamanha diferença de preço criou uma situação absurda. Nela, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) vende a ação num dia. No mesmo dia, o comprador pode revendê-la e lucrar 30%.
“São quase R$ 5 bilhões que o estado poderia ter embolsado se tivesse vendido as ações pela cotação atual”, reclamou Pollachi, que sempre se opôs à privatização do serviço de saneamento básico no estado de São Paulo pelo seu papel crucial ao bem-estar e à saúde da população paulista.
Ele apontou, inclusive, que a perda pode ser ainda maior se considerado o valor potencial das ações da Sabesp hoje.
Um estudo do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) encaminhado ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) indica que cada ação da Sabesp vale R$ 103,90. Considerando esse preço, o governo paulista abriu mão de cerca de R$ 8 bilhões ao vendê-las por R$ 67.
O estudo do Sintaema aponta que a Sabesp, sob administração privada, terá de investir menos do que o governo de São Paulo previu para atender compromissos da privatização. Com menos investimento, a empresa lucrará mais e antes do estimado. Portanto, tende a recompensar mais seus acionistas e, por isso, teria uma ação mais valiosa.
Sabesp: venda concluída
Ontem aconteceu a liquidação das operações de vendas de ações programadas no processo de privatização. O governo de São Paulo detinha 50,5% das ações da Sabesp e passará a ter 18%.
Os 32% restantes foram vendidos de duas formas. A empresa Equatorial foi a única interessada em se tornar o acionista de referência da Sabesp. Comprou 15% das ações da empresa oferecendo os R$ 67 por ação.
Esse valor baseou a venda de outros 17% em ações da companhia de forma pulverizada, a investidores que manifestaram interesse em adquiri-las. A companhia ainda não comunicou quem são os principais compradores dos papéis: bancos, fundos de investimentos ou estrangeiros, por exemplo.
Independentemente disso, a partir desta segunda-feira, a Sabesp já não é mais uma empresa pública de capital misto. É agora uma empresa privada, com parte de seu capital social ainda nas mãos do governo de São Paulo, assim como a Eletrobras.
Conselho
A Sabesp terá um conselho gestor composto por nove pessoas após a privatização. A Equatorial vai indicar três nomes, incluindo o presidente.
O governo de São Paulo também indicará três membros do conselho, assim como os outros acionistas da empresa.
Com a privatização, a meta de atender 99% da população com água potável, e pelo menos 90% com coleta e tratamento de esgoto até 2029. Essas metas também cobrem as áreas rurais e os núcleos urbanos informais, como favelas e palafitas.
As tarifas social e vulnerável, que atendem quem está no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), terão redução de 10%. A tarifa residencial padrão terá queda de 1%, e as demais, como comercial e industrial, terão 0,5% de diminuição.
Redação ICL Economia
Com informações de Brasil de Fato e ICL Notícias