A notícia de que a Alemanha, a maior economia da Europa, está agora oficialmente com falta de gás natural, depois do limite de compra do combustível da Rússia imposto por sanções econômicas à Moscou, leva a uma série de questionamentos sobre a eficácia de tais medidas.
Soma-se ao problema da Alemanha e demais países da União Europeia com o gás, o próprio governo do EUA, principal incentivador das sanções econômicas, que vive alta da inflação e dos preços dos combustíveis, além de o presidente Joe Biden ver sua popularidade despencar.
Para entender esse contexto dos prejuízos causados pelas sanções econômicas à população civil, a jornalista Heloísa Villela apresentou uma reportagem na edição do ICL Notícias, desta sexta-feira (24), com Alfred de Zayas – advogado sênior da Comissão de Direitos Humanos do Alto Comissariado da ONU, entre 1981 e 2003, e que hoje continua atuando como “expert independente”.
Em relatório, ele descreve e explica as questões relativas aos direitos humanos causadas pelas sanções econômicas: “o mundo está pagando caro pelas sanções impostas à Rússia, que deslocaram todo o sistema e destruíram os impactos positivos da globalização. E, quando acontece uma quebra como a que estamos vendo na cadeia produtiva, o resultado final é a fome, que não vai ser apenas na África e na Ásia, mas também na Europa e nos Estados Unidos”.
Para De Zayas, sanções econômicas literalmente matam pessoas
Em recente artigo, De Zayas foi categórico ao afirmar que “as sanções econômicas matam e quem as impõe deve responder por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional”.
Na entrevista a Villela, o ex-advogado da ONU ressaltou que os direitos humanos foram transformados em armas e hoje “não têm mais nada a ver com respeito à dignidade humana”, e estão sendo usado “em favor de uma agenda geopolítica”.
Na reportagem, são apontados exemplos claros dessa relação geopolítica, como o caso dos embargos econômicos que os EUA impõem sobre Cuba há 60 anos, que são condenados anualmente na ONU, mas nem por isso são suspensos. Ou as sanções à Venezuela, que tem sua economia estrangulada pelo desejo norte-americano de mudar a política do país.
Segundo De Zayas, essas sanções são ilegais, porque somente restrições adotadas pela ONU têm alguma legitimidade e a “ONU também erra”. Ele exemplifica como erros as sanções da ONU contra a população do Iraque em 1991, que custaram a morte de 1 milhão de crianças, e à Venezuela, em 2018, que já mataram 40 mil venezuelanos.
No caso da guerra na Ucrânia, Villela classifica, em sua reportagem, as sanções à Rússia como um “tiro no pé”: “a Rússia está lucrando mais por causa das sanções e não apesar das sanções”.
Os números do estudo do Centro de Pesquisas de Energia e Ar Limpo do Rússia aponta que, nos 100 primeiros dias da guerra na Ucrânia, o país faturou 93 bilhões de euros com as importações de combustíveis fósseis. A União Europeia comprou 61% desse total (57 bilhões de euros). O maior comprador da Rússia passou a ser a China com 12,5 bilhões de euros) seguido pela Alemanha (12,1 bilhões de euros). Ou seja, “a Alemanha financia a Rússia enquanto arma a Ucrânia”, explica Villela.
Muito interessante, ainda, é que a Índia passou a comprar muito mais óleo cru da Rússia e o revende, depois de refinado, para os Estados Unidos e para a Europa. Com isso, a Rússia ainda não perdeu nessa área.
Na entrevista, De Zayas ainda enfatiza que “é sempre a população que paga o preço pelos interesses geopolíticos de quem tem o poder e acredita ter o poder de impor esse tipo de sofrimento”.
Nesse mesmo sentido, o presidente da China, Xi Jinping, em reunião dos BRiCS (bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) nesta semana, disse que as sanções “estão armando as relações internacionais”, ou seja, estão transformando às restrições econômicas em armas [letais].
Redação ICL Economia
Com informações de reportagem de Heloísa Villela, apresentada no ICL Notícias (24/6/2022)