O Brasil teve o segundo ano consecutivo de fechamento acima da meta estabelecida pelo Banco Central (BC). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), encerrou 2022 com alta acumulada de 5,79%. Os setores com influência da taxa de câmbio tiveram maior aumento de preço. Sofreram com a variação do dólar porque parte dos itens que compõem o produto é importada.
No último mês de 2022, o grupo com maiores contribuições à inflação vieram dos setores de saúde e cuidados pessoais, alimentos e bebidas. Tiveram o maior impacto no IPCA com alta de 1,60% no mês de dezembro sobre novembro. Dentro do grupo com maior aumento de preço estão: perfumes (9,02%), artigos de maquiagem (5,42%) e produtos para pele (3,85%). Na sequência, a segunda maior variação veio do grupo de vestuários, com alta de 1,52%.
A interferência da taxa de câmbio sobre os preços domésticos se dá por dois principais canais. O primeiro é a importação de produtos, como grupos de vestuário e saúde e cuidados pessoais. E também tiveram aumento de preço itens como peças específicas para montar um produto, caso de algumas peças para automóveis, ou insumos, como a resina plástica para fabricar garrafas pet.
Há ainda o aumento de preço de itens que são produzidos no Brasil e, quando exportados, sobem internamente para acompanhar a variação do dólar.
Como milho e soja são exportados, há o maior aumento de preço das commodities atreladas ao dólar
O produtor da soja e do milho recebe em dólares. Para ele, é mais lucrativo do que vender em reais. É o caso da série de commodities produzidas no País.
Segundo a avaliação de economistas consultados, os efeitos da variação da taxa de câmbio na inflação sempre são mais expressivos quando os itens afetados são os produtos essenciais, como o petróleo.
Quando há uma alta no preço desta commodity, uma cadeia de outros produtos tem impactos secundários, como a gasolina, plásticos e derivados, querosene de avião, passagens aéreas e diversos outros produtos e serviços que dependem do petróleo como fonte de energia ou como transporte.
Outro produto que subiu bastante no último ano foi o trigo. Como o Brasil não é autossuficiente em produção de trigo, precisa importar da Argentina. Em 2022, os preços da commodity dispararam por conta da guerra na Ucrânia, impactando os valores dos pães, massas, bolos, e diversos outros itens.
A instituição responsável por adotar medidas de combate à inflação dentro de um país é o Banco Central. E a principal maneira pela qual os bancos centrais combatem a inflação é com a elevação das taxas de juros.
No caso do Brasil não é diferente. Depois de oito meses de juros nos menores patamares históricos, o BC passou a promover um ciclo de altas na Selic, a taxa básica de juros, em março de 2021, como forma de tentar frear o avanço dos preços. Atualmente, o ciclo de altas acabou, mas a taxa Selic segue em níveis elevados, a 13,75% ao ano.
A elevação das taxas no Brasil não tem um efeito imediato sobre a inflação exportada, descendente do dólar. No entanto, com essas taxas mais altas, a tendência é de uma valorização do real frente à moeda americana, em especial pela entrada de investimentos estrangeiros no país. Esse fluxo de dólares para dentro, faz a oferta de dólar subir e a cotação cair.
O aumento dos juros também é uma estratégia para combater a alta do dólar, porque tende a atrair investidores para o Brasil com a rentabilidade dos ativos nacionais. Os brasileiros também diminuem o envio de dinheiro para fora porque aqui os retornos ficam mais atrativos.
Por outro lado, com os juros mais altos, os processos de financiamento e tomada de crédito ficam mais caros e isso leva a uma redução no consumo doméstico. Mesmo com a alta no dólar, os empresários brasileiros tendem a segurar o repasse de preços porque a demanda está menos aquecida. Uma elevação no valor do produto pode desaquecer ainda mais o consumo.
O Plano Real, que equiparou a moeda brasileira ao dólar, entre outras medidas, abriu o comércio brasileiro para o exterior e os produtos importados chegaram custando menos que os nacionais. Na época, os empresários foram forçados a frearem os aumentos nos preços internamente.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias