Crise: Europa teme interrupção do gás russo em meio à onda de calor e alta da inflação

Taxa anual de inflação da zona do euro atingiu recorde histórico em junho, chegando a 8,6%. Setor energético é o principal responsável
20 de julho de 2022

A previsão de que o gasoduto Nord Stream 1, que liga a Rússia à Alemanha e abastece a Europa, será reaberto nesta quinta-feira (21), depois de dez dias fechado para manutenção, pode não se cumprir. A União Europeia já trabalha com o cenário da interrupção o gás russo, porque a Rússia pode manter as torneiras fechadas em retaliação às sanções que a União Europeia impôs desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro.

“Não estamos à espera que [o Nord Stream] volte o gás russo”, admitiu o comissário europeu para o Orçamento, Johannes Hahn, adiantando que a Comissão Europeia está a trabalhar em soluções “na suposição de que [o gasoduto] não volte a operar”. Se for esse o caso, vão ser precisas “medidas adicionais”, alertou.

Tudo isso ocorre justamente quando a Europa enfrenta uma onda de calor histórica, que aumentou a demanda por energia para ajudar a resfriar as casas e empresas, por meio dos aparelhos de ar condicionado. Exemplo disso é a declaração da Enagas, operadora do sistema de transporte de gás da Espanha, que disse, na semana passada, que a demanda por gás natural para produzir eletricidade atingiu um novo recorde de 800 gigawatts-hora.

O gasoduto Nord Stream fornece 55 bilhões de metros cúbicos de gás russo por ano para a Europa ou cerca de 40% de suas importações totais de gasodutos da Rússia.

No mês passado, a Alemanha, a maior economia da região, declarou uma “crise do gás” depois que a Gazprom, empresa estatal de gás russo, reduziu as exportações pelo gasoduto em 60%. A Gazprom associou o corte à decisão do Ocidente de aplicar sanções à Rússia, que, por sua vez, vem reduzindo os fluxos de abastecimento de gás russo, pondo em risco as reservas para o inverno e obrigando o bloco europeu a procurar soluções alternativas.

Os países europeus estão correndo para encher suas instalações de armazenamento de gás para evitar uma escassez de energia potencialmente catastrófica durante o inverno. Na segunda-feira, a Comissão Europeia assinou um memorando de entendimento com o Azerbaijão para dobrar a capacidade de uma importante rota de entrega de gás nos próximos anos.

Economia europeia ameaçada diante da interrupção do gás russo

Os níveis de armazenamento de gás em toda a União Europeia estão atualmente em torno de 64%, de acordo com a Gas Infrastructure Europe e a interrupção do fornecimento de gás russo à União Europeia pode ter um impacto catastrófico na economia dos Estados-membros.

Relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta que o encerramento total do fornecimento de gás da Rússia para a Europa teria um efeito devastador sobretudo nos países da Europa Central e de Leste, que poderiam registrar contrações de 6% do Produto Interno Bruto (PIB). Na Alemanha, motor econômico da UE, o PIB cairia cerca de 3% no caso de um encerramento total. Por ordem decrescente, os países que seriam mais afetados seriam a Hungria, Eslováquia, República Tcheca, Itália, Alemanha, Áustria, Romênia, Eslovênia, Croácia, Polônia e Holanda.

Dados divulgados na terça-feira (19) pela Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia, indicam que a taxa anual de inflação da zona do euro (CPI, da sigla em inglês) atingiu recorde histórico em junho, chegando a 8,6%, depois da aceleração de 8,1% em maio e de 7,4% em abril.

O setor de energia é o responsável pela metade do indicador, devido à guerra na Ucrânia, que inflou os preços da energia na região, e contribuiu com 4,19 pontos percentuais para a leitura geral anual, enquanto alimentos, álcool e tabaco equivaleram a 1,88 ponto.

Dentre os 19 países da zona do euro, a maior taxa de inflação foi apontada na Estônia, onde os preços subiram 22% em junho, seguida por Lituânia (20,5%), Letônia (19,2%) e Eslováquia (12,6%).

A expectativa é de que, nesta quinta-feira (21), o Banco Central Europeu eleve a taxa de juros como medida para conter a alta da inflação, o primeiro aumento em 11 anos. Pelas projeções do Bank of America (BofA), o BCE deve elevar a taxa em 0,25 ponto percentual.

Redação ICL Economia
Com informações das agências

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