Com menor participação do setor público, taxa de investimento do país caminha a passos lentos

Dados da Abdib mostram que o investimento público federal caiu 65% na comparação entre 2010 e 2021, descontada a inflação
12 de setembro de 2022

A taxa de investimento da economia brasileira subiu de 14,3% do PIB (Produto Interno Bruto), no segundo trimestre de 2017, para 18,7% no mesmo período de 2022, graças ao setor privado. Contudo, esse crescimento está abaixo do recorde batido em 2013, quando a taxa atingiu 21,5%, época em que os investimentos foram impulsionados pelo governo federal e empresas estatais.

Aliás, são os investimentos do setor público que garantem mais robustez à economia, contribuindo para a geração de empregos e desenvolvimento do país. As propostas dos candidatos à Presidência da República, no entanto, divergem sobre o papel do Estado sobre esse tema, a depender da linha econômica defendida por eles.

De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, os presidenciáveis discutem qual será a contribuição do setor público para que o país consiga suprir todas as suas necessidades de investimentos em infraestrutura produtiva e social.

Na época em que os investimentos estavam bombando, a soma do que foi investido pelos setores público e privado chegou à casa dos R$ 208 bilhões (preços de 2021), enquanto que no ano passado somaram R$ 148 bilhões.

Estimativa da Abdib (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base) aponta que, para os próximos 10 anos, a necessidade anual de investimentos é da ordem de R$ 374 bilhões. Ou seja, o montante investido atualmente está muito abaixo do necessário e, segundo a entidade, o valor não será alcançado somente com o setor privado.

“Não adianta querer jogar tudo para o setor privado, porque o setor privado não tem apetite, em função de rentabilidade e risco, para todas as necessidades. O mercado de capitais privado sozinho não é suficiente. Vai precisar do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)”, afirma Roberto Figueiredo Guimarães, diretor de planejamento e economia da Abdib.

Com taxa de investimento público baixa, próximo governo terá grande desafio pela frente

Dados da Abdib mostram que o investimento público federal caiu 65% na comparação entre 2010 e 2021, descontada a inflação. Segundo a reportagem da Folha, os valores apontados no Orçamento indicam novas quedas em 2022 e 2023, quando deve chegar ao piso de R$ 22,4 bilhões.

Já o Observatório de Política Fiscal da FGV (Fundação Getúlio Vargas) aponta que o total de investimento público federal passou de 1,94% do PIB em 2017 para 2,05% no ano passado, os menores valores da série histórica iniciada em 1947, considerando também estados, municípios e estatais federais. “Desde 2016, os gastos não têm sido suficientes nem para repor a depreciação dos ativos, como a manutenção de pontes e rodovias. No ano passado, essa perda foi de R$ 31 bilhões”, diz a reportagem.

O investimento total no segundo trimestre deste ano teve queda em relação ao quarto trimestre do ano passado. A expectativa é de que no segundo semestre a taxa de investimento fique estável, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pois muitas decisões nesse sentido estão sendo postergadas devido aos cenários interno e externo desfavoráveis.

Entre 2014 e 2016, a redução dos investimentos esteve muito ligada ao setor de construção civil, segundo a reportagem da Folha de S.Paulo. Esse segmento perdeu participação no investimento de 52% (2014) para 44% (2019, último dado do IBGE disponível).

O Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV) mostra que o crescimento acumulado em 12 meses da construção foi de 6,8% até junho deste ano, enquanto o item máquinas e equipamentos encolheu 0,8%.

Presidenciáveis dão pesos distintos ao Estado como impulsionador de investimentos

A questão do investimento está no radar dos candidatos à Presidência nas eleições deste ano, mas eles têm visões diferentes sobre o papel do Estado como agente executor e fiador das propostas.

O programa de governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, destaca o papel do governo de ampliar o processo de desestatização e concessões da infraestrutura e garantir segurança jurídica, por meio da implementação de marcos legais. Além disso, prevê melhorar a infraestrutura nas regiões menos desenvolvidas, mas sem citar o BNDES como agente financiador, conforme o programa enviado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Por sua vez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenções de votos, defende em seu programa um “vigoroso programa de investimentos públicos”, tendo o BNDES como agente financiador. Também prevê a retomada de obras importantes que foram paralisadas e, por meio do estímulo ao crédito, elevar a taxa de investimentos públicos e privados.

O candidato Ciro Gomes (PDT) também defende o papel do BNDES como financiador e estruturador de projetos, a ampliação de investimentos públicos e propõe a criação de um fundo para investimento em infraestrutura.

Já a equipe da candidata Simone Tebet (MDB) calcula que a modernização da infraestrutura brasileira demandará um aumento nos investimentos públicos, “corretamente priorizados e executados”, dentro dos limites de responsabilidade fiscal. Também fala no uso do BNDES como estruturador de projetos.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.