Fernando Haddad afirma a necessidade de uma taxa de juros baixa que não traga inflação de volta

Haddad afirmou que, na fase mais crítica da pandemia, em agosto de 2020, o corte da taxa de juros Selic para 2% pelo Banco Central não foi acertada. Mas, neste mês, já havia razões para a redução da Selic
15 de agosto de 2023

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse na segunda-feira (14) que a queda da taxa de juros (Selic) deve ser acelerada com medidas da agenda econômica do governo. Mas ressaltou que é preciso um patamar de juros que não resulte em uma nova aceleração da inflação, informa a reportagem publicada no jornal Folha de S Paulo. A declaração de Haddad foi feita ao podcast Reconversa, com o jornalista Reinaldo Azevedo e o advogado Walfrido Warde.

Na ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada no último dia 8 de agosto, o texto informa que a “extensão do ciclo” de corte de juros dependerá da “evolução da dinâmica inflacionária”.

Segundo a reportagem da Folha de S Paulo, Haddad afirmou que, na fase mais crítica da pandemia, em agosto de 2020, o corte da taxa de juros Selic para 2% pelo Banco Central não foi acertada. “No caso da taxa de juros, a gente viu há pouco tempo uma taxa muito baixa, mas que trouxe problemas. Eu quero uma taxa de juros baixa que não traga inflação de volta”, declarou durante o podcast Reconversa.

O ministro comentou que há algum tempo, antes do início do ciclo de corte da taxa de juros neste mês, já havia razões para a redução da Selic. Segundo Haddad, o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, impulsionado basicamente apenas pelo agronegócio, já mostrava um impacto dos juros na atividade econômica.

Segundo Haddad, se o corte da taxa de juros não viesse em agosto, haveria um problema econômico grave no Brasil

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Crédito: Agência Brasil / Marcello Casal Jr

Segundo Haddad, houve um aumento de tensão na relação do governo com o Banco Central desde abril. “Se esse corte de 0,5 ponto percentual [na taxa Selic em agosto] não viesse, teríamos um problema econômico grave no Brasil”, afirmou o ministro. Haddad disse que teria problemas para entregar o que prometeu com a manutenção dos juros básicos em 13,75%.

Do ponto de vista político, Haddad ponderou que, sem corte da taxa de juros em agosto, muitos políticos que votaram pela aprovação da autonomia do Banco Central poderiam se arrepender e achar que haviam tomado a decisão errada.

O ministro refletiu que uma taxa de juros neutra —ou seja, que não estimula o crescimento econômico, mas não causa desaceleração da atividade— deveria ser de 8% com a inflação a 4%. Atualmente, a inflação acumulada em 12 meses está em 3,99%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o ministro, os juros altos são uma questão histórica do país. “Na minha visão, o Brasil tem um viés de pagar juros altos que é impressionante”. Haddad disse que está criando um grupo de estudos com economistas acadêmicos que não são de mercado para fazer uma análise comparativa e entender como se combate a inflação em outros países.

Questionado sobre a autonomia do Banco Central, Haddad disse que não votaria a favor da medida nas circunstâncias em que foi aprovada, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Tínhamos um lunático na Presidência da República”, afirmou. “Estávamos na mão de um psicopata, que é capaz de qualquer coisa”, completou.

O ministro da Fazenda afirmou que este é um bom teste para mensurar o sucesso da autonomia do Banco Central, já que é um momento inédito de transição política. Haddad comentou que, à época da votação da medida, sugeriu a diminuição do mandato do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. “Tem que ter cautela para evitar que [uma medida como essa] se volte contra você”, declarou.

Na entrevista, o ministro disse que fica feliz em saber que não está havendo um ataque especulativo contra o Brasil, argumentando que pessoas apostaram que o dólar ultrapassaria a marca de R$ 6 com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Haddad observou que hoje a moeda norte-americana é negociada abaixo de R$ 5. Ele ressaltou, ainda, que não concorda com um Estado que não se importa com a dívida pública.

O ministro afirmou também que deveria haver uma “moderação” do poder da Câmara. Ao comentar suas relações com o presidente da Casa, Arthur Lira, Haddad disse que tem tentado valorizar o diálogo com a Câmara e com o Senado.

“Não está fácil, não pense você que está fácil. A Câmara está com um poder muito grande e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas de fato ela está com um poder que eu nunca vi na minha vida”. Segundo o ministro, “a gente só aparece sorrindo, mas às vezes … são debates acalorados”, informa a reportagem da Folha de S Paulo.

Haddad disse, segundo a reportagem da Folha de S Paulo, que fez um acordo com o presidente da Câmara para aprovar a pauta econômica: “O Lira e eu combinamos o seguinte: olha, tem muito trabalho pela frente, vamos separar o que é governo do que é Estado. Tem coisa que não é para este governo. Tem coisa que, ou a gente recupera agora, ou não tem jeito. E aí ele topou, e o Rodrigo Pacheco, que é um senador espetacular, também tem dado uma contribuição enorme”.

Em outro trecho, o petista também criticou as emendas parlamentares. “Eu não sei como resolver esse problema e não sei se tem solução. Mas R$ 40 bilhões de emendas? É 0,4% do PIB. Onde no mundo tem isso?”.

Segundo Haddad, o Brasil saiu do chamado presidencialismo de coalizão e vive hoje “uma coisa estranhíssima que é uma espécie de parlamentarismo sem primeiro-ministro”. “Não tem o primeiro-ministro, ninguém vai cair. E o Executivo está lá, quem vai pagar o pato é o Executivo”, disse.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S Paulo e das agências de notícias

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