A Selic está no maior patamar em seis anos e já começa a afetar o mercado de crédito brasileiro, como consequência do aumento das taxas de juros bancários. Dados do Banco Central, divulgados ontem (28), mostram que, em fevereiro, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em suas operações para pessoas físicas e empresas subiu para o patamar de 44,2% ao ano, o maior patamar em cinco anos. Em contrapartida, houve recuo de 0,1% no volume total de crédito e de 2,2% nas concessões.
De acordo com os dados do Banco Central, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em suas operações com pessoas físicas e com empresas teve aumento de 0,7 ponto percentual somente fevereiro deste ano.
A taxa básica de juros da economia está em 13,75%. Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve o percentual nesse nível pela quinta vez, a despeito das críticas de governo, empresários, trabalhadores e economistas gabaritados. Ontem (28), a autoridade monetária divulgou a ata da reunião, cujo tom bastante político denota que, definitivamente, o BC entrou em uma queda de braço com o governo, ao querer condicionar a redução da taxa à política econômica que vem sendo desenhada pela equipe econômica.
Um dos aspectos criticados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é de que a justificativa do BC, de que a taxa elevada é justificável devido ao crescimento da inflação de demanda, não faz sentido. Isso porque, conforme pontuou Lula e economistas, como o fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, o Brasil não enfrenta inflação de demanda porque o povo brasileiro, devido ao desemprego e à perda de renda, não está comprando itens que não sejam os mais básicos, como alimentos.
A taxa Selic é usada como referência de todas as demais na economia. Essa é a razão do aumento das taxas de juros bancários.
Ontem, o diretor de Política Monetária do BC, Diogo Guillen, disse que a desaceleração do crédito é esperada com a subida dos juros. Segundo ele, isso “faz parte do processo de condução da política monetária [elevação da Selic para conter a inflação] ao longo desse ano”.
Juros bancários para concessão de crédito a pessoas físicas subiram para 58,3% ao ano em fevereiro, o maior patamar desde 2017
Em outra frente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já disse que a equipe econômica está preparando, em conjunto com o Banco Central, um conjunto de medidas para melhorar o ambiente do crédito na economia. A expectativa é que as propostas sejam anunciadas em abril.
Não se sabe ainda de que modo o governo vai agir para mitigar o impacto dos juros e incentivar as pessoas e empresas a fomentarem o mercado de crédito. Mas o fato é que o aumento da taxa de juros bancários registrado em fevereiro foi o maior apontado desde agosto de 2017, quando somou 45,6% ao ano. A série histórica do BC tem início em março de 2011.
O juro médio, nesse caso, foi calculado com base em recursos livres – ou seja, não inclui os setores habitacional, rural e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Enquanto a taxa média de juros cobrada nas operações com empresas recuou de 25,3% ao ano, em janeiro, para 24,2% ao ano, em fevereiro de 2023, aquela cobrada de pessoas físicas subiu de 56,6% para 58,3% na comparação entre os dois períodos. É o maior nível desde outubro de 2017 (58,9% ao ano).
Apesar do recuo de 0,1% no volume de crédito concedido, o montante somou R$ 5,31 trilhões, em fevereiro, ante R$ 5,32 trilhões, em janeiro.
Se, por um lado, tenha havido recuo de 0,7% no mês para o segmento empresarial (R$ 2,1 trilhões), o segmento pessoas físicas registrou incremento mensal de 0,4% (R$ 3,2 trilhões), segundo o BC.
Crédito rotativo é destaque negativo para pessoas físicas
O cartão de crédito rotativo para pessoas físicas apontou crescimento de 4,6% no período, seguido por consignado para aposentados e pensionistas do INSS (1,1%) e trabalhadores do setor público (1%). A leitura que se pode fazer é que o brasileiro não está conseguindo pagar todas as contas em dia e precisa recorrer ao crédito mais facilmente disponível e, por isso, mais caro, como o rotativo e o cheque especial.
Por falar em cheque especial, a taxa para pessoas físicas subiu de 132% ao ano, em janeiro, para 137,4% ao ano em janeiro de 2023. Trata-se do maior patamar desde janeiro de 2020 (140,8% ao ano).
A taxa média de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo, por sua vez, avançou de 411,4% ao ano em janeiro para 417,4% ao ano em fevereiro. É o maior nível desde agosto de 2017 (428% ao ano).
Em contrapartida, caiu 2,2% o volume de novas concessões de empréstimos no mês passado, período em que somaram R$ 499,9 bilhões, ante R$ 511,2 bilhões em janeiro. O cálculo foi feito após ajuste sazonal (uma espécie de “compensação” para comparar períodos diferentes).
Redação ICL Economia
Com informações do G1