Ata do Copom atribui queda da inflação a uma nova regra fiscal ‘sólida e crível’, demonstrando que BC quer influenciar condução da política econômica

Para economista do ICL André Campedelli, autoridade monetária insiste no discurso de que, devido à inflação de demanda, é preciso manter a taxa de juros no atual patamar. Além disso, BC quer se colocar como balizador da política econômica, quando deveria focar no seu papel
28 de março de 2023

Na ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), divulgada nesta manhã de terça-feira (28), a autoridade monetária sinaliza que uma nova regra fiscal “sólida e crível” pode facilitar a queda da inflação no país e, consequentemente, da taxa básica de juros (Selic).

O tom da ata da última reunião é um pouco diferente do comunicado divulgado na semana passada, quando o Copom manteve a Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez. Na ocasião, a autoridade monetária enfatizou até mesmo que novos aumentos da Selic poderiam ocorrer, caso fosse necessário, sem indicar claramente nenhum caminho a ser seguido pelo governo para que o Banco Central mude a rota de condução da política monetária. O arcabouço fiscal não foi em nenhum momento mencionado.

A nova regra fiscal, que substituirá o teto de gastos (regra que limita o aumento de gastos do governo à inflação do período anterior), está sendo finalizada pela equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A expectativa era de que fosse anunciada após a viagem do presidente à China, a qual acabou sendo adiada devido a problemas de saúde de Lula. Agora, espera-se que o arcabouço fiscal possa ser anunciado em breve.

A ata divulgada hoje enfatiza que o novo arcabouço pode levar a um processo “mais benigno” de combate à inflação porque ajudaria a melhorar a situação de três fatores: expectativas de alta dos preços; incertezas sobre a economia; e “prêmio de risco” dos ativos, ou seja, a percepção de segurança do investidor estrangeiro sobre investir no Brasil (materializada em indicadores como a taxa de juros e o câmbio).

“O Copom enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, uma vez que a primeira segue condicional à reação das expectativas de inflação, às projeções da dívida pública e aos preços de ativos”, acrescentou o BC.

O Copom é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e diretores da instituição, responsável por definir o nível da taxa básica de juros da economia.

Para economista do ICL, ata do Copom mostra BC querendo influenciar condução da política econômica

O economista do ICL André Campedelli comentou a ata do Copom na edição desta terça-feira no ICL Notícias, programa diário veiculado no YouTube. Na opinião dele, a ata consegue ser pior que o comunicado da semana passada, por insistir, por exemplo, na inflação de demanda, algo que o fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), o também economista Eduardo Moreira, já explicou não ser o problema do Brasil, uma vez que o brasileiro, devido ao desemprego e perda de renda, não está comprando.

“O Copom insiste que, devido à inflação de demanda, é preciso manter a taxa de juros no atual patamar. Além disso, em vez de focar na questão da política monetária, faz várias cobranças, falando do arcabouço fiscal. Por ser um órgão independente, deveria estar falando só de política monetária, mas está se achando, na verdade, como o poder moderador da economia brasileira, como se dissesse – ‘eu faço isso, se vocês fizerem isso'”, criticou.

O patamar dos juros brasileiros está no centro das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de membros de sua equipe econômica, e de economistas renomados, como o Nobel de economia Joseph Stiglitz e a indiana Jayati Ghosh, para quem o Brasil é “masoquista” por manter uma taxa tão alta.

A resposta dada pelo BC, ao manter a taxa Selic no atual patamar, demonstra que, realmente, há uma queda de braço com o governo, pois, na visão desses economistas, a economia brasileira está em uma situação confortável no sentido de que é possível, sim, reduzir os juros para tirar a pressão sobre empresas e a população.

O juros real do Brasil (descontada a inflação estimada para os doze meses seguintes) é o maior do mundo, e alguns setores, como o automotivo, já começam a paralisar a produção e dar férias coletivas, pois há uma redução na demanda por veículos. Com o bolso mais apertado, o brasileiro está focando na alimentação e no pagamento das contas básicas.

Na ata, o BC fez acenos ao Ministério da Fazenda ao ecoar o discurso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre os efeitos positivos em caso de harmonia entre as políticas monetária e fiscal. Contudo, manteve a mensagem no trecho final do documento sobre a possibilidade de voltar a elevar os juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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