O dólar entrou em uma trajetória quase ininterrupta de valorização frente ao real, o que acarreta mais pressão inflacionária no Brasil. Na tarde desta quinta-feira, a moeda americana era negociada acima dos R$ 5,51, puxada principalmente pelo aumento taxa de juros pelo Banco Central Europeu (BCE) pela primeira vez em 11 anos. O movimento que se verifica nesta tarde também ocorreu no fechamento da moeda americana ontem (20), cotada a R$ 5,5017, marcando o maior patamar desde 24 de janeiro (R$ 5,5017).
A apreciação da moeda americana tem contribuído para a inflação brasileira nos últimos meses. A alta do dólar corresponde a aproximadamente 17% desde o menor fechamento de 2022, o qual foi atingido em meados de abril, quando a cotação chegou a R$ 4,61. Segundo especialistas de mercado, uma combinação de incertezas externas e do próprio país contribuem para o movimento recente no câmbio.
No cenário internacional, as perspectivas de recessão global seguem fazendo com que empresas repensem investimentos e contratações. A elevação dos juros pelo BCE em 0,5%, anunciada nesta quinta-feira (21) para controlar a inflação recorde, é um desses fatores.
Outro fato é a expectativa da definição das taxas básica de juros dos EUA, na próxima semana. Recentemente, operadores de futuros moderaram suas expectativas sobre o tamanho dessa alta, passando a esperar reajuste de 0,75 ponto percentual, em vez de cenário de 1 ponto percentual completo.
A alta nos juros dos EUA faz com que mais investidores passem a procurar o mercado americano para alocar seus recursos, à medida que aumentam os rendimentos oferecidos pelos títulos emitidos pelo governo americano.
Internamente, permanecem no radar de investidores temores sobre a credibilidade do Brasil, que foi abalada recentemente pela PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Eleitoral, que amplia e cria uma série de benefícios sociais, prevendo despesas fora do teto de gastos a apenas alguns meses das eleições presidenciais. Esse fato também pesa muito a favor da desvalorização do real.
Somado a isso, há ainda a tensão política, que só cresce, depois que o presidente Jair Bolsonaro repetiu ataques sem provas e já refutados às urnas eletrônicas e ao sistema de votação brasileiro, o que só faz aumentar o receio de tumulto antes das eleições.
Valorização do dólar pode levar BC a aumentar mais a taxa Selic
O economista Luca Mercadante, em entrevista à Folha de S. Paulo, explica que a principal consequência que um real mais fraco traz para a economia brasileira é mesmo o aumento da inflação. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de junho já registrou alta de 0,67%, com a inflação acumulada em 12 meses alcançando a marca de 11,89%.
Com o dólar mais caro, os produtos que o país importa dos EUA automaticamente também sobem de preço, o que se reflete em um aumento generalizado das mercadorias negociadas no mercado brasileiro, segundo Mercadante. “O dólar alto acaba fazendo com que os Estados Unidos exportem inflação para outros países.”
Diante desse quadro, o Banco Central brasileiro tende a estender o processo de aperto monetário acima do previsto hoje pelo mercado. Grande parte dos analistas esperam por mais uma alta de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, para 13,75% ao ano, conforme expectativas coletadas pelo BC para o Boletim Focus.
No entanto, caso o dólar continua em ascensão e aumentando a inflação corrente, os especialistas não descartam a possibilidade do BC elevar a taxa Selic para níveis ao redor de 14%.
No último Boletim Focus, a projeção média apontada para o dólar é de R$ 5,13, em dezembro de 2022.
Redação ICL Economia
Com informações das agências