Venda de combustível menos poluente despenca diante do alto consumo de diesel e gasolina depois do corte de impostos

Nos primeiros sete meses do ano, últimos dados disponíveis pela ANP, a venda do menos poluente biodiesel no Brasil somou o volume de 3,6 bilhões de litros, o menor desde os 3,3 bilhões do mesmo período de 2019
6 de dezembro de 2022

Com o corte de impostos sobre a gasolina, o consumo de etanol em 2022 é o menor dos últimos cinco anos, segundo reportagem da Folha de S. Paulo. As vendas de biodiesel também foram derrubadas pela redução na mistura obrigatória no diesel e recuaram a níveis de 2019. Em relação à venda de combustíveis menos poluente, o Brasil retrocedeu no tempo.

Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o consumo de combustíveis líquidos chegou a 100,8 bilhões de litros nos primeiros dez meses de 2022, batendo recorde histórico.  A alta é puxada principalmente pelo consumo de diesel, que ficou na casa dos 52,9 bilhões de litros no período, também recorde. As vendas de gasolina também sobem, recuperando as perdas da pandemia, mas ainda estão abaixo do registrado em 2017. 

No caso do diesel, porém, o recorde não impulsionou a venda do menos poluente biodiesel, já que o governo vem mantendo a mistura obrigatória em 10% para conter a alta no preço do combustível. Pelo cronograma original, deveria estar em 14%.

Nos primeiros sete meses do ano, últimos dados disponíveis pela ANP, a venda do menos poluente biodiesel no país somou o volume de 3,6 bilhões de litros, o menor desde os 3,3 bilhões do mesmo período de 2019, quando a mistura era de 11%.

A redução da mistura foi decidida em um momento de escalada do preço do biodiesel, menos poluente.  Em novembro, o Ministério de Minas e Energia anunciou que os 10% serão mantidos até março de 2023, para que o novo governo decida pela retomada do cronograma original.

Segundo a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), o setor empresarial que atendeu ao pedido do governo por descarbonização, por uma matriz de combustíveis mais verde, mais limpa, mais sustentável foi descartado. Os investimentos nos últimos anos já previam um incremento da mistura para até 20% e, portanto, o setor trabalha com uma ociosidade de 50%. 

No caso do etanol, a perda de competitividade em relação à gasolina derrubou as vendas a 12,9 bilhões de litros entre janeiro e outubro. É o menor valor desde 2017, de acordo com os dados da ANP. O mercado foi ocupado pela gasolina, que teve o melhor volume de vendas desde aquele ano: 34,8 bilhões de litros.

Substituição dos menos poluentes e renováveis por combustíveis fósseis tem implicações na balança comercial brasileira

Considerando o produto vendido nos postos e os volumes misturados à gasolina, o etanol representou, nos sete primeiros meses de 2022, 47,5% dos combustíveis consumidos por veículos leves no país. Nos quatro anos anteriores, o volume de etanol foi superior ao de gasolina.

A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) diz quem, além da perda de competitividade no segundo semestre, a quebra de safra em 2021 também prejudicou as vendas no início do ano, quando os preços do etanol escalaram. A produção, diz a entidade, está se acelerando neste fim de ano, quando o produto já não é mais tão competitivo devido aos cortes de impostos da gasolina.

A substituição dos menos poluentes e renováveis por combustíveis fósseis tem implicações na balança comercial brasileira. Com menos biodiesel e aumento das vendas, as importações de diesel dispararam no primeiro semestre, chegando a 7 bilhões de litros, alta de 31% em relação a 2019, antes da pandemia.

O novo governo terá o desafio de equacionar a questão. O setor público, diz a Unica, “precisa garantir um arcabouço legal e regulatório que reconheça o benefício da energia renovável e menos poluente, oferecendo estabilidade e previsibilidade para investimentos.

O coordenador da área energética da equipe de transição, Maurício Tolmasquim, disse em entrevista para a Folha de S. Paulo que ainda não há definições sobre o tema, mas que a ideia é estimular o consumo de combustíveis renováveis. Ele elogia a decisão de prorrogar o prazo para avaliar a mistura de biodiesel. “Como existe uma polêmica entre o setor de transportes e o biodiesel, é prudente que o novo governo tenha prazo para tomar pé da situação.”

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo

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