A volta à normalidade e a gang da Faria Lima, por Luís Nassif

O grande desafio será a identificação e a nominação desses agentes especulativos. E o trabalho do MP das Contas será um divisor de águas.
5 de julho de 2024

Para entender os volteios do dólar, é importante fazer algumas distinções.

Não se deve criminalizar o tal do mercado como um todo. Há que se discutir, no futuro, as regras do jogo. Mas há os que jogam dentro das regras e há um grupo de manipuladores, que chamaremos, doravante de “a gang da Faria Lima”, para diferenciar dos que jogam dentro das regras do jogo.

São esses aventureiros que atuam em sintonia ampla com o operador e presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Têm acesso a telefonemas diretos de Campos Neto e podem planejar operações especulativas conjuntas, facilmente enquadráveis no crime de manipulação financeira e formação de cartel.

O jogo especulativo é simples:

  1. Os manipuladores saem na frente, criando algum evento que permita movimentos bruscos dos ativos. Pode ser uma expectativa de determinada reforma, uma declaração de Lula etc. Pouco importam os fundamentos da economia. Para esse trabalho são auxiliados pela cobertura financeira dos jornais e suas manchetes espetaculosas.
  2. Dado o tiro de partida, cria-se o movimento especulativo.
  3. À medida que o movimento se consolida, há o efeito manada, a chamada profecia auto-realizada. A instituição séria sabe que os fundamentos da economia são sólidos. Mas se houver muita fuga de dólar e uma valorização expressiva da moeda, precisará acompanhar a manada, para não ficar para trás. E esse jogo é alimentado pela publicidade opressiva das manchetes de jornais e dos comentários de rádio e TV.
  4. Quando o jogo tem poucos fundamentos – como agora -, passado determinado período há o disparo que reverte a situação: quem comprou antes da alta trata de vender, percebendo que o ativo já bateu no pico, e as cotações voltam ao patamar anterior.

No caso dos últimos dias, vários fatores contribuíram para a volta rápida do dólar.

O primeiro, foi a mudança de discurso de Lula. Não houve nenhuma mudança substancial em relação ao quadro anterior: apenas palavras deflagrando a volta do pêndulo.

O segundo, foi a exposição, pela primeira vez, dos crimes potenciais praticados pela minoria ululante do mercado e o anúncio da abertura de um processo pelo Ministério Público de Contas – ligado ao Tribunal de Contas da União. Com o mercado refluindo, qualquer tentativa da gang seria imediatamente percebida.

O grande desafio, daqui para a frente, será a identificação e a nominação desses agentes especulativos. E, para tanto, o trabalho do Ministério Público das Contas poderá ser um divisor de águas. Não mudará o modelo de política monetária, mas expurgará o mercado de parte das piranhas financeiras.

Do Jornal GGN

 

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