Zara e H&M são acusadas de usarem algodão proveniente de área de desmatamento no Brasil

A ONG britânica Earthsight seguiu os rastros de 816 mil toneladas de algodão procedentes de duas das maiores empresas agroindustriais do Brasil - a SLC Agrícola e o Grupo Horita -, no oeste do estado da Bahia. Elas operam como terceirizadas da Zara e H&M.
11 de abril de 2024

Relatório da ONG britânica Earthsight, divulgado nesta quinta-feira (10), acusa as empresas de moda H&M e Zara de “vínculos” com atividades de desmatamento ilegal em larga escala no Brasil, além de apropriação de terras, corrupção e violência nas plantações de algodão das empresas terceirizadas.

O documento foi elaborado com base em imagens de satélite, decisões judiciais, registros de envio de produtos e investigações confidenciais.

Todas as informações foram compiladas pela Earthsight, que analisou os dados publicados no relatório “Crimes da moda: gigantes europeus da moda vinculados ao algodão sujo no Brasil”.

desmatamento

Crédito: Reprodução site da Earthsight

A ONG seguiu os rastros de 816 mil toneladas de algodão procedentes de duas das maiores empresas agroindustriais do Brasil – a SLC Agrícola e o Grupo Horita -, no oeste do estado da Bahia.

As famílias brasileiras proprietárias das fazendas têm “um histórico pesado de processos judiciais, condenações por corrupção e milhões de dólares e multas por desmatamento ilegal”, denunciou a ONG no documento.

A organização não governamental ainda destacou que famílias donas dessas empresas no Brasil desenvolvem suas atividades em uma parte da região do Cerrado, bioma famoso pela riqueza de sua fauna e flora.

Segundo o relatório, as toneladas de algodão seguiram para oito fábricas têxteis da Ásia, onde são abastecidas as duas gigantes do chamado fast fashion (roupas para usar e descartar).

Todo o algodão estava certificado como “sustentável” pela organização sem fins lucrativos ‘Better Cotton’ (BC), segundo a Earthsight.

Além da acusação de desmatamento, Zara e H&M já foram acusadas de uso de mão de obra escrava

Um relatório inédito divulgado em janeiro do ano passado apontava dívida da indústria da moda com trabalhadores. No levantamento feito pela Transform Trade em parceria com a Escola de Negócios da Universidade de Aberdeen, marcas relevantes de moda pagam valores inferiores ao custo de produção de suas coleções.

Entre as etiquetas nomeadas por tratarem os fornecedores de forma injusta e com baixos pagamentos, estão Zara, H&M, Gap, Next e Primark.

Aqui no Brasil, a Justiça decidiu que a espanhola Zara é a responsável pelo caso de trabalho análogo à escravidão registrado na cadeia produtiva da marca em 2011. À época, a Zara alegou que a responsabilidade pelos trabalhadores flagrados em situação irregular era do fornecedor, a confecção AHA.

Em relação ao meio ambiente, a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, sendo responsável por até 10% das emissões globais de CO2.

Com relação à questão do desmatamento no país, trecho do relatório da Earthside diz que, “para garantir que o algodão procede de uma fonte ética, as duas empresas [a sueca H&M e a espanhola Zara] se baseiam no algodão fornecido pelos agricultores certificados pela Better Cotton, o sistema de certificação de algodão sustentável mais conhecido do mundo, mas com profundas lacunas” lamenta a Earthsight.

“Levamos muito a sério as acusações contra a Better Cotton, que proíbe estritamente práticas como usurpação de terras e desmatamento em suas especificações de condições”, respondeu à agência de notícias AFP a Inditex, matriz da Zara. O grupo afirmou que solicitou os resultados da investigação independente “o mais rápido possível”.

Já a H&M declarou à AFP que “as conclusões do relatório da Earthsight são muito preocupantes e as levamos muito a sério”.

O grupo sueco disse que foi “um dos primeiros a passar para o algodão 100% orgânico, reciclado ou de origem sustentável” e que está “acompanhando as conclusões da investigação” em diálogo estreito com a Better Cotton.

Por sua vez, a Better Cotton disse à Earthsight que “confiou a um auditor independente a missão de fazer visitas de verificação “reforçadas” após a divulgação do relatório da ONG.

Da Redação ICL Economia
Com informações do g1. Fonte: France Press

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