O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem criticado a taxa de juros no Brasil desde que tomou posse. Aos poucos, às críticas do petista foram se somando empresários, trabalhadores e economistas renomados. Agora, a pesquisa Datafolha divulgada no último fim de semana mostra que a percepção também chegou à maioria dos brasileiros. Para 71% dos entrevistados, a taxa de juros está mais alta do que deveria, e 80% deles avaliam que o presidente está certo em pressionar o Banco Central pela redução da Selic.
Do total de entrevistados, somente 16% avaliam que Lula age mal em pressionar o BC, enquanto 5% não souberam responder.
A pesquisa ouviu brasileiros no período de 29 a 30 de março. Do total dos que concordam com o presidente, 55% dizem que a taxa de juros é muito mais alta do que deveria, e apenas 16% consideram que está um pouco mais alta.
A pesquisa mostra que o povo não é bobo e que, sim, a Selic, que vem sendo mantida no patamar de 13,75% ao ano, é a maior desde 2016. O argumento usado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) para mantê-la nesse nível é a inflação de demanda, justificativa com a qual não concordam economistas, como os do ICL (Instituto Conhecimento Liberta). Com desemprego em alta e perda do poder de compra, o brasileiro está gastando basicamente para comer.
A concordância com Lula ocorreu até mesmo entre os que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o Datafolha, nesse grupo 77% avaliam que os juros estão mais altos do que o recomendado. Entre as regiões do país, essa opinião só fica abaixo dos 70% no Nordeste (67%).
Somente 17% dos brasileiros avaliam que a taxa Selic, usada como parâmetro para todas as demais taxas aplicadas no país, está em um patamar adequado, enquanto 5% responderam que ela está mais baixa do que deveria e 6% não souberam responder.
A maioria dos que apoia o presidente a respeito da pressão feita sobre o BC recebe até dois salários mínimos (R$ 2.604). Nessa faixa salarial, 85% dizem concordar com o petista. Dos que têm ensino fundamental, 84% concordam com ele, enquanto entre a população desempregada e que está sem procurar emprego, 91% também veem como correto o gesto de Lula. Entre os que se declaram pretos, 84% também vão na mesma linha.
Por sua vez, entre os que têm ensino superior, 24% afirmam que Lula age mal ao pressionar o BC; entre os empresários, 28%; e entre os que se declaram brancos, 19%.
Vale lembrar que, para justificar o comunicado em tom duramente político da última reunião do Copom, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a Selic deveria estar em 26,5% ao ano para que a meta de inflação fosse cumprida, o que denota uma condução ineficaz da política monetária até aqui, conforme avaliam economistas.
Taxa de juros já começa a afetar balanço das empresas e mercado de crédito
Recentemente, as montadoras anunciaram paralisação de suas atividades e férias coletivas para trabalhadores, pois o mercado de automóveis segue desaquecido. Ao mesmo tempo, as instituições financeiras estão fechando a torneira da concessão de crédito, cenário que piorou depois da crise envolvendo as Americanas.
Somado a isso – ou uma consequência disso -, os juros altos começam a afetar o balanço das empresas. Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, com base em levantamento feito por Einar Rivero, do TradeMap, mostra que o lucro líquido de 295 companhias caiu mais de 17% em 2022 ante 2021, enquanto as despesas financeiras saltaram quase 50%. E o culpado disso é a taxa de juros.
Isso porque a alta da Selic fez despesas financeiras praticamente dobrarem no ano passado, engolindo os lucros. O fim da temporada de balanços financeiros referentes ao quarto trimestre do ano passado mostrou que o lucro das empresas de capital aberto listadas na B3 simplesmente derreteu em 2022.
A Selic passou quase um ano estabilizada em 2% ao ano, o menor patamar da história e, importante reconhecer, considerada muito baixa por analistas. Em março de 2021, o Banco Central deu início ao ciclo de alta nos juros, para minorar os impactos inflacionários, devido às interrupções nas cadeias produtivas causadas pela pandemia e elevação dos preços das commodities.
De lá para cá, foram 12 aumentos consecutivos que levaram a Selic para o atual patamar de 13,75% ao ano. Se, por um lado, os juros altos cumprem a sua função na economia, de reduzir a atividade, desestimular o consumo e ajudar na queda da inflação, as empresas brasileiras seguem pagando o preço em seus balanços, o que converge com as críticas do presidente Lula, de que mantê-la no patamar atual não faz sentido.
Outro aspecto da alta dos juros é que o crédito corporativo no Brasil praticamente secou. Muitas empresas seguem endividadas e, por isso, têm recorrido à renegociação de débitos ou à recuperação judicial e extrajudicial, para tentar sobreviver.
Na semana passada, o BC divulgou que a concessão de crédito para pessoas jurídicas foi de R$ 166 bilhões em fevereiro, valor 8,6% inferior ao de janeiro. Para analistas, essa situação deve perdurar ao menos até o fim deste ano, não só devido aos juros altos, mas também à tendência de piora no cenário internacional.
O resultado disso que que as empresas estão tendo dificuldades para rolar dívidas e, as que conseguem, estão pagando muito caro.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e de O Estado de S.Paulo