Em linha com as expectativas de analistas, o Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, interrompeu ontem (14), o ciclo de alta da taxa de juros ao menos temporariamente. Hoje, a taxa oscila entre 5% e 5,25%. A decisão unânime de pausar os ajustes da taxa ocorre após 10 aumentos seguidos.
Ainda assim, os juros dos Estados Unidos continuam no maior nível em 16 anos. O ciclo de aperto monetário começou em março do ano passado para controlar a inflação e, pelo comunicado divulgado com a decisão, a autoridade monetária indica que novos ajustes para cima devem vir no futuro.
Em coletiva de imprensa após a divulgação da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, também destacou que todas as autoridades do banco central projetam mais aumentos de juros ainda este ano.
No comunicado divulgado com a decisão, o Fomc diz que “indicadores recentes sugerem que a atividade econômica segue crescendo em ritmo modesto. Os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação continua elevada”. E continua: “Mantendo a faixa-alvo estável nesta reunião permite que o Comitê avalie informações adicionais e suas implicações para política monetária”.
Ainda segundo o comunicado, a extensão da política que o Fed vinha adotando pode ser apropriada para fazer a inflação retornar a 2% ao longo do tempo, patamar não atingido desde fevereiro de 2021, quando chegou 1,7% no acumulado em 12 meses.
A previsão do Fomc é que os juros estejam, no fim de 2023, na faixa de 5,6%, indicando espaço para mais dois ajustes de 25 pontos-base na taxa. Para 2024, a projeção é de juros em 4,6%, e de 3,4% em 2025.
Núcleo da inflação dos EUA ainda se mantém resistente e impõe desafio ao Federal Reserve nos próximos meses
A precaução do Fed se deve ao fato de que os núcleos de alguns indicadores inflacionários dos Estados Unidos mantêm-se resistentes, assim como o mercado de trabalho e a renda real do trabalhador americano.
A respeito da inflação, na última terça-feira (13) foi divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do país, que subiu 0,1% em maio, após uma alta de 0,4% em abril. A taxa anual caiu de 4,9% para 4%.
Foi o menor resultado desde março de 2021, quando a inflação começou a subir para o que se tornaria o maior nível em 41 anos.
No entanto, o núcleo do CPI, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, também avançou 0,4% na comparação mensal, em linha com a projeção. Em relação ao ano anterior, o núcleo subiu 5,3%, o que indica que, embora os preços tenham diminuído, os consumidores norte-americanos ainda estão sob pressão.
O comunicado do Fomc também abordou a turbulência bancária enfrentada pelos Estados Unidos em março passado, depois das quebras dos bancos regionais Silicon Valley Bank e do Signature Bank, e da crise enfrentada pelo First Republic Bank.
“O sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente. Condições de crédito mais apertadas para famílias e empresas devem pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação. A extensão desses efeitos permanece incerta. O Comitê permanece altamente atento aos riscos de inflação”, afirmou.
Na entrevista coletiva, Powell também apontou o setor de habitação como um dos desafios para a inflação nos Estados Unidos. “A desinflação dos serviços desse setor será um pouco mais lenta do que esperamos”, disse. “A inflação [geral] moderou um pouco desde meados do ano passado. As pressões inflacionárias, no entanto, continuam altas”, complementou.
Decisão pode trazer reflexos para o Brasil
Para analistas, a pausa no aumento dos juros nos Estados Unidos pode ser positiva para o Brasil. Segundo analistas, quando os juros nos Estados Unidos caem, a remuneração dos títulos do Tesouro dos EUA para de subir ou cai. Isso faz com que investidores globais migrem seus investimentos para mercados emergentes, como o Brasil.
Um freio nos juros americanos tende a facilitar a atração de investidores para o Brasil, onde os juros pagos pelos papéis do Tesouro são mais altos (13,75%).
Essa decisão também pode ter efeitos na desvalorização do dólar, como se viu ocorrer ontem, quando a cotação da moeda americana teve queda de 1,14%, cotado a R$ 4,806 na compra e a R$ 4,807 na venda, no menor patamar desde junho de 2022.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias