No Brasil, a insegurança alimentar moderada ou severa no total da população passou de 18,3%, em 2019, para 32,8%, em 2022. Ou seja, no mesmo intervalo de tempo, passou de 39 milhões para 70,3 milhões de brasileiros, o que corresponde a quase um terço da população brasileira. O período abrange todo a pandemia de Covid-19 e o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Os dados foram publicados na quinta-feira (12) pela FAO, ONU, OMS e Unicef, no documento que serve de referência sobre o estado da alimentação no planeta, e foi divulgado em reportagem do UOL.
A fatia de 48 milhões de brasileiros é incapaz de ter recursos para ter acesso a uma alimentação saudável. Mostra a contradição entre um país que exporta toneladas de soja, milho, trigo, carne para o mundo, sem garantir o direito pleno à alimentação para sua população. Nos lares chefiados por mulheres pardas ou pretas, a situação é ainda pior.
Os dados sobre insegurança alimentar são calculados com base em um questionário aplicado pelo mundo e que tenta medir a capacidade de um ser humano ter acesso constante aos alimentos. Ele prevê que uma família ou indivíduo seja questionado sobre se, durante os últimos 12 meses, houve algum momento em que, por falta de dinheiro ou outros recursos, faltou alimentos.
No mundo, a insegurança alimentar passou de 613 milhões de pessoas, em 2019, para 735 milhões de pessoas, em 2022. Isso significa que a situação piorou para 122 milhões de pessoas em um intervalo de quatro anos.
Se considerada a prevalência de insegurança alimentar severa no Brasil, o percentual passou de 1,9% da população, entre 2014 e 2016, para 9,9% dos brasileiros, de 2020 a 2022. Isso significou um salto de 4 milhões para 21 milhões de pessoas no período.
A fome absoluta está em uma taxa melhor hoje do que há 20 anos. Entre 2004 e 2006, a taxa de desnutrição entre a população brasileira era de 6,5%. Entre 2020 e 2022, ela foi de 4,7%. Isso significou que a população brasileira, na condição de fome absoluta, passou de 12,1 milhões de pessoas para 10,1 milhões.
Insegurança alimentar é pior nos lares com crianças. Hoje, a fome atinge 1 milhão delas no Brasil
A desnutrição infantil também aumentou na última década, passando de 6,3% para 7,2%, entre 2012 e 2022. Hoje, a fome atinge 1 milhão de crianças.
Aproximadamente 29,6% da população global, o equivalente a 2,4 bilhões de pessoas, não tinham acesso constante a alimentos. Cerca de 900 milhões de indivíduos enfrentavam insegurança alimentar grave.
A capacidade das pessoas de ter acesso a dietas saudáveis se deteriorou em todo o mundo: mais de 3,1 bilhões de pessoas no mundo (ou 42%) estavam nessa situação em 2021, um aumento geral de 134 milhões de pessoas em relação a 2019. Entre os motivos para a crise estão: pandemia, repetidos choques climáticos e conflitos, incluindo a guerra na Ucrânia.
A fome ainda aumenta na Ásia Ocidental, no Caribe e em todas as sub-regiões da África em 2022, embora os números da fome global tenham estagnado entre 2021 e 2022.
A África continua sendo a região mais afetada, com uma em cada cinco pessoas passando fome, mais do que o dobro da média global. Um progresso na redução da fome foi observado na Ásia e na América Latina.
Se as tendências da insegurança alimentar permanecerem como estão, o “Objetivo de Desenvolvimento Sustentável” de acabar com a fome até 2030 não será alcançado, alertam a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o IFAD (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola), o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o PMA (Programa Mundial de Alimentos).
Em 2022, 148 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade (22,3%) apresentavam atraso no crescimento. Houve progresso no aleitamento materno exclusivo, com 48% dos bebês com menos de 6 meses de idade se beneficiando dessa prática, próximo à meta para 2025. Entretanto, serão necessários esforços mais concentrados para atingir as metas de desnutrição de 2030.
Redação ICL Economia
Com informações do site UOL e agências de notícias