Artigo de Deborah Magagna e André Campedelli *
Na semana passada foram divulgados indicadores que mostram que o Brasil está ascendendo na visão do exterior. Os dados mostram que as perspectivas para o Brasil têm se mostrado mais otimistas, não somente por agentes locais, como o nosso mercado financeiro, que tem melhorado as projeções para o país via Relatório Focus, mas também de agentes estrangeiros.
No dia 14 de junho, a S & P Global melhorou o seu panorama para o rating soberano do Brasil. A agência mudou a perspectiva do nosso país de estável para positiva, que atualmente se encontra em BB-. Essa mudança para um viés positivo indica que o país está mais próximo de subir na escala de classificação de risco, lembrando que desde 2019 o país se encontrava apenas estável. Segundo a S & P, o Brasil foi um dos 6 países que tiveram sua classificação de risco alterada desde o fim da pandemia decretado pela OMS.
Já na terça-feira, dia 25 de julho, foi a vez da Fitch alterar a classificação de risco de crédito do Brasil, de BB- para BB. A melhora no rating de crédito, segundo a instituição, foi resultado dos avanços no arcabouço fiscal e na reforma tributária, além da redução da inflação e melhores perspectivas para o nosso PIB. Mas na classificação da Fitch, o Brasil ainda precisa subir para retomar o grau de investimento perdido em 2015. A mudança foi comemorada pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na Moody ‘s, a terceira agência de classificação de risco o Brasil, permanece com rating Ba2 desde 2018 e até o presente momento não houve mudança.
Nos últimos dias também foi divulgado o “World Economic Outlook” pelo FMI, que atualizou as perspectivas da entidade em relação ao crescimento global e dos países individualmente. Na variação trimestral, entre o relatório divulgado em abril deste ano e o mais recente de julho, o Brasil foi o país que teve a maior mudança de expectativa de crescimento, saindo de 0,9% de crescimento em 2023 para 2,1%. Uma variação de 1,2 pontos percentuais, acima da variação média de 0,2 ponto percentual observada entre os países no trimestre.
Outras métricas também podem ser observadas em relação à melhora da perspectiva do exterior em relação ao Brasil. Como o CDS de 5 anos do Brasil, o CDS é uma espécie de seguro contra inadimplência dos países e é bastante utilizado no cálculo de métricas de risco, como o famoso prêmio pelo risco (Risk Premium) calculado pelo Aswath Damodaran. Nos últimos 5 anos, entre julho de 2018 e 2023, o CDS do Brasil caiu 20% nos últimos 5 anos e atualmente está cotado em US$ 167, abaixo da média de US$ 203 observada no mesmo período.
Além dessas métricas, veículos internacionais, como Financial Times, têm comentado as medidas ambientais que devem ser adotadas no atual governo. Ou seja, há indícios que a percepção externa esteja melhorando em relação ao Brasil, seja em relação ao risco do país e diminuição do risco de inadimplência, ou em relação a políticas adotadas dentro e fora da economia.
Apesar disso, volta e meia vemos matérias tendenciosas no noticiário doméstico repetindo jargões do mercado financeiro como o aumento do “risco fiscal”. A sensação de que esse tipo de abordagem passa é que os diversos acenos dos atuais ministros do Planejamento e Fazenda têm sido mais bem recebidos no exterior do que dentro do próprio Brasil, onde os agentes parecem estar vendados repetindo as mesmas condições a qualquer menção a gastos, sobretudo os sociais.
Além disso os esforços e essas mudanças de percepção do exterior parecem não estarem sendo notados também pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que sob o véu de sua “tecnicidade” também repete clichês descolados da realidade, mês após mês, nas atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Uma das premissas consideradas pelo mercado para uma taxa de juros mais alta num país é justamente o seu risco, uma vez que diante de uma incerteza maior, o prêmio pelo risco também sobe, mas no Brasil mesmo frente a métricas que apontam para um risco mais reduzido, há insistência na manutenção da maior taxa de juros real.
Esperamos que nesta semana possamos trazer melhores notícias em relação aos juros, após a reunião do Copom que acontecerá na quarta-feira, pois essa teimosia disfarçada de tecnicidade já passou da hora de acabar.
*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais
*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorando pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira