A possível vitória do candidato ultradireitista Javier Milei nas eleições argentinas à Presidência, que vão acontecer no próximo domingo (22), preocupa o governo brasileiro, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “É natural que eu esteja (preocupado). Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um… Porque em geral nas relações internacionais você não ideologiza a relação”, disse Haddad em entrevista à Reuters.
A preocupação faz sentido. A Argentina é um dos maiores parceiros comerciais do Brasil e o maior na região, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim que assumiu seu terceiro mandato este ano, esmerou-se para retomar as relações entre os dois países, que ficaram estremecidas ao longo do mandato de Jair Bolsonaro.
Além disso, o atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, é amigo pessoal de Lula e chegou a visitá-lo quando o petista esteve preso em Curitiba (PR).
A propósito disso, Milei é chamado de “Bolsonaro argentino”, pois ambos são de ultradireita e, por essa razão, têm discursos muito parecidos em diversos aspectos.
Durante a campanha, o economista candidato, que lidera a corrida eleitoral e tem grandes chances de levar a eleição já no primeiro turno no domingo, já deu declarações dizendo que pretende limitar o comércio com o Brasil. Também chamou o presidente Lula de “comunista raivoso” e “socialista com vocação totalitária”, e disse que, em relação ao Mercosul, a Argentina “seguiria seu próprio caminho” caso ele seja eleito.
“Não se transpõe para as relações internacionais as questões internas. Mesmo quando você tem preferências, manifestas ou não”, disse Haddad, lembrando que Lula mantém relações amigáveis com chefes de Estado de todo espectro político. “É um vizinho do Brasil, principal parceiro na América do Sul. Então preocupa quando um candidato diz que vai romper com o Brasil. Você fez o quê para merecer esse tipo de tratamento?”, complementou Haddad.
O candidato do atual presidente argentino à Presidência do país é o ministro da Economia, Sergio Massa, que disputa a preferência dos eleitores com Milei, de acordo com as pesquisas mais recentes.
O governo brasileiro chegou a trabalhar em quatro propostas que previam garantias para o Brasil aceitar financiar as importações pela Argentina, mas, segundo Haddad, nenhuma avançou diante da impossibilidade ou inabilidade do governo vizinho em cumprir exigências.
“Agora não tem o que fazer. No domingo, nós temos o primeiro turno na Argentina. Ou seja, só depois… E porque também não dá nem tempo. Mesmo que você chegue a um desenho vai ter que esperar o resultado da eleição. Então, é natural que seja assim”, afirmou.
Eleições argentinas: Milei encerra campanha em Buenos Aires em clima de ‘rock’n roll’ e jogo de futebol
Javier Milei encerrou sua campanha como favorito à Presidência da Argentina ontem (18), em uma casa de shows em Buenos Aires. O clima era de rock’n roll e jogo de futebol. O evento foi marcado por gritos fanáticos e cantos de “liberdade”, além de vaias à Venezuela, citações a Israel e ataques ao jornalismo, um formato bastante conhecido dos brasileiros ao longo de quatro anos do governo Bolsonaro.
Um dia antes do evento, Bolsonaro fez um novo vídeo em apoio ao ultraliberal. No vídeo, Bolsonaro aparece segurando o último livro do economista e expressa sua esperança pela vitória dele. Na legenda, Milei agradece pela mensagem e reforça seu slogan: “Viva a liberdade, cara***”.
No comício, o economista ultraliberal também puxou uma espécie de reza com a definição do liberalismo, sendo seguido pela plateia: “O liberalismo é o respeito irrestrito pelo projeto de vida do próximo, baseado no princípio de não agressão e na defesa do direito à vida, à liberdade e à propriedade privada”, entoou.
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, muitos jovens formavam uma fila que dava a volta no quarteirão com ingressos grátis distribuídos horas antes no “Mileimóvel”. Abaixo de uma espécie de zepelim de plástico com o nome do candidato, apoiadores empunhavam pelúcias de leão, bandeiras amarelas com o rosto do animal e lonas em formato fálico.
Do lado de fora, um comerciante vendia sanduíches de milanesa a US$ 1. Entre as propostas do candidato está o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia.
Em entrevistas recentes, Milei disse que Bolsonaro é “excelente” e que “não tem parceiros socialistas”, em referência a Lula; Andrés Manuel López Obrador, do México; Gabriel Boric, do Chile; e Gustavo Petro, da Colômbia, os líderes de esquerda das principais economias da América Latina.
O candidato, que é novato na política, repudia a aliança comercial da Argentina no âmbito do Mercosul, criada há mais de três décadas, disparou críticas ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a quem chamou de “ditador”, e também criticou a China.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e do UOL