No próximo domingo (19), acontece o segundo turno das eleições argentinas para escolher o novo presidente, tendo como candidatos Sergio Massa, peronista e atual ministro da Economia do país, e o economista Javier Milei, representante da extrema direita. Ontem (12), os dois participaram do último debate presidencial e o que se viu foi, de um lado, um Massa firme nas inquisições e preparado para o confronto, enquanto Milei mostrou-se totalmente despreparado quando confrontado pelo rival governista.
Ainda assim, as últimas pesquisas de intenção de votos mostram Milei cerca de 4 pontos percentuais à frente de Massa, o que corresponde a um empate técnico.
Um dos pontos altos do debate foi quando Massa perguntou a Milei sobre se cortaria as relações com o Brasil e a China, o que o candidato de ultra direita tem afirmado ao longo da campanha.
Na avaliação dos jornalistas Juca Kfouri e Rodrigo Vianna, que comentaram a respeito do debate na edição, desta segunda-feira (13), do ICL Notícias, esse foi um dos momentos em que Milei mais pareceu aturdido no debate.
Massa argumentou que a medida terminaria com menos empregos para os argentinos e que “a política externa não pode ser regida por caprichos ou ideologias”. “A ruptura com o Mercosul, a ruptura das relações com o Brasil, a ruptura das relações com a China representam 2 milhões de empregos a menos”, disse ele.
“Ele responde de maneira pueril. Milei não sabia como reagir”, disse Vianna na live diária transmitida via redes sociais.
Segundo Kfouri, o sorriso de Milei ao longo do debate é uma demonstração de que ele “se assume como bufão, na medida em que ele não consegue dar respostas de estadista”.
Em resposta à pergunta de Massa, o direitista disse que a ideia de que romperá com os dois países é falsa e que as relações comerciais continuarão existindo. “[O que eu digo é que] é uma questão do mercado privado e o Estado não tem que se meter, porque cada vez que se mete gera corrupção”, falou, pedindo que o adversário “deixasse de assustar as pessoas com a perda de empregos”.
Depois, os dois elevaram o tom, e o apresentador teve que interferir no debate para pedir que eles não se interrompessem.
O evento ocorreu na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA) e teve um formato mais solto, que se assemelha àquele vivido por Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) em 2022, com a possibilidade de os candidatos intervirem nas falas um do outro.
“Você faz parte de um governo onde [o presidente] Alberto Fernández também não falava com Bolsonaro. Então qual é o problema se eu falo ou deixo de falar com o Lula?”, atacou Milei. Mais cedo, ele afirmou que o Mercosul é “o melhor exemplo do estorvo que o Estado causa” e reforçou seu alinhamento com os Estados Unidos, Israel e “o mundo livre”.
Eleições argentinas: para Juca Kfouri, debate pode ser ponto de virada a favor de Massa
Na avaliação de Juca Kfouri, o candidato governista estava claramente mais preparado para o debate, assumindo uma postura combativa, “o que é um contrassenso”, pois quem deveria fazer esse papel seria Milei, que é candidato da oposição.
Embora as últimas pesquisas mostrem Milei um pouco à frente, segundo Kfouri, as últimas tendências, uma vez que não se pode mais publicar pesquisas na Argentina até a realização do segundo turno, apontam para uma virada a favor de Massa.
“Ontem, o debate foi muito interessante e o resultado, quando foram ouvidos 12 especialistas sobre quem ganhou o debate, houve unanimidade que o Massa ganhou”, disse.
Na avaliação de Kfouri, apesar de Massa representar um governo responsável por uma inflação que bateu na casa dos 138,3% em setembro, parte do eleitorado argentina põe na balança o fato de que “o Massa eu conheço, eu não vou votar nesse maluco desse Milei”.
Em entrevista recente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou preocupação com uma possível vitória de Milei no domingo, especialmente em um momento no qual o Brasil se esforça para retomar os laços com o país vizinho, com o qual tem forte relação comercial.
“É natural que eu esteja [preocupado]. Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um… Porque em geral nas relações internacionais você não ideologiza a relação”, disse Haddad.
O candidato da direita radical declarou durante uma entrevista a um jornalista peruano, na semana passada, que, se for eleito, não se reunirá com o presidente Lula porque ele é corrupto e comunista, o que foi ignorado e tratado como bravata pelo governo petista.
O Brasil apareceu mais duas vezes no debate ontem, quando Milei citou os publicitários ligados ao PT que reforçaram a equipe de campanha de Massa depois das eleições primárias de agosto. O grupo, que trabalhou nas campanhas presidenciais de Fernando Haddad e Lula contra Bolsonaro, pode ter ajudado o peronista a reverter, no primeiro turno, o favoritismo do ultraliberal.
Por sua vez, Massa tentou, no debate, reforçar a ideia de “um grande acordo nacional” e novamente buscou se desvincular do kirchnerismo: “Isso não se trata de [Mauricio] Macri ou Cristina [Kirchner], se trata de eu e você”, disse, em referência aos ex-presidentes.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias