O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem (4) que não vai desistir do acordo Mercosul-União Europeia (UE), apesar das críticas do presidente francês, Emmanuel Macron, contrário ao pacto comercial entre os dois blocos. Para tentar avanças nas negociações, Lula conta com o apoio do chanceler alemão Olaf Scholz.
Em entrevista na Alemanha, última etapa da viagem internacional após participar da COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, Lula falou sobre entraves recentes nas negociações.
“Não vou desistir enquanto eu não conversar com todos os presidentes e ouvir um não de todos. Aí nós vamos partir para outra”, disse Lula.
Scholz, por sua vez, afirmou que esforços “adicionais” serão feitos.
“Para utilizar o potencial que advém das relações econômicas e comerciais, o Brasil e a Alemanha apoiam a celebração do acordo União Europeia e Mercosul. Vamos fazer esforços adicionais para que esse acordo possa ser concluído. A comissão tem conduzido essas negociações e eu e o presidente Lula temos mantido contato a respeito dessas iniciativas”, disse o chanceler alemão.
Durante a COP28, Macron elogiou Lula por seu protagonismo mundial na questão do meio ambiente, mas disse que o tratado facilitaria a importação na França e na Europa de produtos com pegada ambiental suja produzidos em países do Mercosul, em especial do Brasil.
As regras mais rígidas exigidas pelos europeus, com a França à frente, têm sido um dos entraves para o avanço do acordo, que vem sendo discutido há mais de duas décadas. Lula quis aproveitar a participação na COP28 para tentar viabilizar o acordo antes da posse do presidente eleito de ultradireita, Javier Milei, na Argentina. Durante a campanha, Milei sempre se mostrou contrário ao Mercosul.
Lula pediu a mediação de Scholz na conversa com Milei e Macron para tentar avançar no acordo.
Acordo Mercosul-União Europeia: Lula disse que conversou com Macron após críticas
Lula disse que já conversou com Macron e pontuou que a oposição francesa ao acordo entre os dois blocos é histórica. Isso ocorre, segundo Lula, porque a França têm “problemas políticos, financeiros com os produtores franceses”
Na conversa com Macron, Lula disse que pediu para ele abrir o coração e conversar com a esposa, Brigitte Macron, sobre o assunto.
“Quando eu me despedi do presidente Macron, eu falei pro Macron: ‘quando você pegar o avião, que você sentar na sua cadeira no avião, abra o seu coração, converse com a sua esposa, e aceite fazer um acordo entre União Europeia e Mercosul’. Se isso não o sensibilizou, eu não vou desistir do Macron. Vamos ter outra reunião, outras necessidades, eu vou continuar até um dia eu conseguir”, afirmou Lula.
Embora tenha feito esse apelo, Lula disse respeitar a posição de Macron. “Nós respeitamos a posição dele. O que eu não posso te dizer é que a gente ainda não vai assinar. Primeiro, porque, além da posição da França, nós temos uma posição da Argentina que teve eleições, o novo presidente toma posse dia 10, o Alberto Fernández vai participar da nossa reunião dia 7. Dia 6 haverá reunião dos ministros, dos chanceleres dos países do Mercosul, que vão tentar resolver alguma pendência técnica que exista”, afirmou.
O mandatário brasileiro pontuou que são “quase 23 anos de negociação”, e que na Cúpula do Mercosul, que será realizada na próxima quinta-feira (7), no Rio de Janeiro, “teremos um momento decisivo nessa negociação”. “Reiteirei ao chanceler [Olaf Scholz] a expectativa que a União Europeia decida se tem ou não interesse na conclusão de um acordo equilibrado. Em um contexto de fragmentação política, a aproximação entre nossas regiões é central para a construção de um mundo multipolar e o fortalecimento do multilateralismo”, disse Lula.
O chanceler alemão, por sua vez, lembrou que a Comissão Europeia é a responsável por negociar o acordo, e não os países diretamente, e que está convencido de que terá maioria.
“Eu estou convencido de que será possível ter uma maioria dos dois órgãos (Comissão Europeia e Parlamento Europeu), tanto no conselho quanto no Parlamento, uma vez que as negociações forem concluídas”, afirmou.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Globo