Em semana de decisão sobre as taxas de juros no Brasil e nos EUA, saiba quais são as apostas de analistas

Os bancos centrais dos EUA e do Brasil definem, esta semana, as novas taxas de juros. Para analistas, o Federal Reserve deve manter parcimônia na decisão depois de dados mostrarem um mercado de trabalho ainda aquecido. Já por aqui, o ritmo de corte em 0,50 p.p. deve continuar.
11 de dezembro de 2023

O Departamento de Trabalho dos EUA divulgou, na última sexta-feira (8), o payroll, relatório de empregos que mostrou que o mercado de trabalho na maior economia do mundo continua aquecido. Diante do quadro, como isso deve impactar as decisões sobre as taxas de juros dos bancos centrais nos Estados Unidos e no Brasil daqui para a frente?

Nesta terça-feira (12), o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil iniciam as suas últimas reuniões anuais para definir as novas taxas de juros – no caso do Brasil, a Selic.

Sobre a situação dos Estados Unidos, o payroll apontou que foram criadas em novembro 199 mil vagas (a aposta de analistas era de criação de 180 mil vagas) e que a taxa de desemprego caiu para 3,7% no período, o que significa que o mercado de trabalho dos EUA continua aquecido e com riscos de pressão sobre a inflação.

Diante do resultado, economistas acreditam que o Fed deve novamente optar pela cautela na reunião que começa amanhã do Comitê de Mercado Aberto, o equivalente ao Copom brasileiro. A expectativa de uma possibilidade de antecipação de início dos cortes de juros em março de 2024 perdeu um pouco de força.

Dados da plataforma FedWatch, do CME Group, apontam que a probabilidade de o Fed cortar os juros na reunião do dia 20 de março caiu de 55,4% para 47,4% em um dia. Já a chance de manutenção dos juros nesse encontro subiu de 35,4% para 48,8%. Para as reuniões de dezembro e janeiro, as probabilidades de manutenção estão em 98,2% e 92,2%, respectivamente.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, destacou, em entrevista ao InfoMoney, que o número principal veio maior em novembro que o de outubro (199 mil ante 150 mil), mas que ele seguiu abaixo da média do ano, de 239 mil vagas por mês.

“Com o fim de greves nos EUA, já se esperava um aumento do número de vagas criadas em novembro, mas os dados divulgados hoje [sexta-feira] vieram acima da expectativa do mercado (183 mil) e reforçam a leitura de um mercado de trabalho robusto, que dá sinais incipientes de desaceleração”, comentou.

Ela citou ainda que os ganhos por hora dos trabalhadores americanos também aceleraram, de 0,2% em outubro para 0,4% em novembro, e que a taxa de desemprego, que em outubro chegou ao maior patamar desde janeiro de 2022, recuou de 3,9% para 3,7%.

“Diante disso, acreditamos que o Fed manterá a taxa de juros no patamar atual de 5,25% a 5,5% ao ano e reafirmará a dependência de dados para decisões futuras. Na nossa visão, o começo dos cortes deve ocorrer a partir de meados de 2024 e não mais no fim do ano”, disse.

Na mesma linha de raciocínio, Sávio Barbosa, economista chefe da Kínitro Capital, também disse ao mesmo InfoMoney que, em linhas gerais, os dados da sexta-feira passada não mostraram nada muito diferente dos últimos meses. “Mas a linha de tendência da criação de postos estabilizou perto de 200 mil e a taxa de desemprego voltou a recuar. Ou seja, não aponta para uma deterioração rápida do mercado de trabalho.”

Os dados do mercado de trabalho são um dos principais elementos de avaliação utilizados pelo Fed para dosar a taxa de juros da maior economia do mundo.

Como ficam as taxas de juros no Brasil? Analistas apostam em corte de 0,5 p.p. na Selic

Na reunião do Copom que começa também amanhã, analistas acreditam que o colegiado deve manter o corte na Selic em 0,50 ponto percentual. Atualimente, a taxa básica de juros da economia brasileira está em 12,25% ao ano.

Ao blog da jornalista Miriam Leitão, em O Globo, Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria, disse que a decisão sobre os juros nos Estados Unidos influencia as decisões do Copom por aqui.

Isso significa que, estando os juros acima por lá, as taxas de juros sobem no mundo todo. Como os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos vieram em linha com a expectativa do mercado, ainda que fortes, não há indicação de uma mudança drástica na condução da política monetária norte-americana, com novos aumentos de juros dos EUA. Por essa razão, o ritmo dos cortes adotado pelo Copom brasileiro deve ser mantido.

Ele explicou que, desde março de 2022, o Fed tem mantido um ciclo forte de alta de juros para deter as pressões inflacionárias, mas agora todas as avaliações é que esse ciclo foi encerrado.

“Quando os Estados Unidos sobem os juros, os juros de mercado ficam mais pressionados em todo o mundo, aumentando o custo do capital para todos os países e fortalecendo o dólar. Isso significa uma economia americana forte, sugerindo um crescimento elevado por lá, apontando para a possibilidade de juros mais altos e, também, o dólar mais valorizado, mais fortalecido, mais alto, inclusive em relação ao real. Então são várias as formas de transmissão dos dados norte-americanos para a economia brasileira”, disse.

Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, para o Brasil, nada muda. “Embora os dados de mercado de trabalho dos EUA continuem se mostrando fortes, acreditamos que a tendência é de desaceleração, dado o momento restritivo da política monetária. Para o Banco Central do Brasil, o dado de hoje [sexta-feira], não ajuda, mas não atrapalha. Ou seja, não sinaliza um corte acelerado, mas jogo que segue no ritmo de 0,5 ponto percentual”, pontuou.

Já Roberto Uchôa, responsável pela Área de Finanças e Administração da Escola de Negócios PUC-Rio, disse que a perspectiva é boa para o Brasil e pode refletir em juros mais baixos no país e otimismo na Bolsa. “Isso abre mais espaço para o Banco Central manter as sucessivas quedas, que podem aquecer a economia brasileira, fazendo nosso PIB crescer no médio longo prazo. Além de reforçar o clima de otimismo que já temos na bolsa de valores brasileira”, conjecturou.

Redação ICL Economia
Com informações de O Globo e InfoMoney

 

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