A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado nesta quinta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou que fazer a feira ficou mais caro para o bolso do brasileiro, enquanto o churrasco ficou um pouquinho mais barato.
Durante a campanha eleitoral de 2022, o então candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), repetia quase que como um mantra o sonho de ver o brasileiro fazendo o seu sagrado churrasquinho com picanha no fim de semana.
O desejo/promessa do presidente se pautava em uma realidade vivida no Brasil durante seus dois primeiros governos. Depois, na era Bolsonaro, o Brasil voltou ao Mapa da Fome, lugar do qual havia saído em 2014. Contribuíram para piorar a situação a pandemia de Covid-19 e a ingerência do ex-mandatário na condução do país, principalmente com um olhar aos mais pobres.
Quem não se lembra das lamentáveis cenas de brasileiros e brasileiras buscando ossos em açougues e supermercados durante a pandemia? E, pior, dos açougues e supermercados vendendo as carcaças, dentro da lógica capitalista de precificar algo quando a demanda aumenta?
Agora, o que vemos é a volta do encarecimento dos alimentos, principalmente os in natura, por influências climáticas que prejudicam muitas das culturas.
No programa ICL Mercado e Investimentos, live diária transmitida nas redes sociais, o economista do ICL (Instituto Conhecimento Liberta) André Campedelli explicou que, com o clima quente, produz-se menos alface, tomate e leguminosas. Com menos oferta, os preços sobem. Por isso você, caro(a) leitor(a), deve ter notado a diferença na feira.
“O que segurou inflação foi os preços dos combustíveis. A gasolina está [com preço] acima no mercado internacional, então há espaço para novos cortes de combustiveis nos próximos meses no Brasil. Por outro lado, os alimentos começam a crescer. A inflação que pegava os mais ricos, é mais danosa agora para a população de baixa renda, pois a questão dos alimentos pesa mais no bolso do mais pobre”, disse.
Por isso, Campedelli alertou que o governo precisa observar o que vai acontecer este ano. “O governo Lula precisa começar a usar mais a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], fazer mais estoques de grãos, pois esse mecanismo era importante nos primeiros governos Lula para ajudar a balizar os preços”, explicou.
As maiores altas registradas em dezembro, segundo ele, foram na feira. Já o açougue e o supermercado não subiram tanto.
Inflação: veja alguns dos alimentos que mais subiram em 2023, segundo o IBGE
O morango foi o subitem com a maior alta de preço entre os produtos compilados pelo instituto. No ano, o valor da fruta subiu, em média, 75,56%. Em números absolutos, uma porção que custava R$ 10 passou a custar R$ 17,55.
Na ponta oposta está o óleo de soja, que teve deflação acumulada de 28% no período. Uma porção que custava R$ 10 terminou o ano a R$ 7,20.
Entre os grupos que compõem o indicador, as altas acumuladas no ano foram: alimentação e bebidas, com +1,03%; habitação, +5,06%; artigos de residência, +0,27%; vestuário, +2,92%; transportes, +7,14%; saúde e cuidados pessoais, +6,58%; despesas pessoais, +5,42%; educação, +8,24%; e comunicação, +2,89%.
Apesar de os preços dos combustíveis terem ajudado a segurar a inflação, a gasolina foi o produto que mais impactou o indicador em 2023. O combustível subiu 12,09% em 12 meses, com peso de 0,56 ponto percentual do total.
Como se pode ver, o grupo Transportes foi o que mais subiu no ano passado, com alta de 7,14% e peso de 1,46 ponto percentual no IPCA.
No mesmo grupo, o emplacamento e a licença de veículos teve alta de 21,22% no ano e peso de 0,53 p.p. no IPCA. Já as passagens aéreas, que pesam no bolso dos mais ricos, vêm em terceiro lugar no ranking, com alta de 47,24% no ano e contribuição de 0,32 p.p. no índice.
Entre os alimentos, principalmente os in natura, os que mais subiram em 2023 foram: morango (+75,56%), pepino (54,43%), abobrinha (+44,91%), tangerina (43,06%), cenoura (+40,16%), repolho (+39,84%), abacaxi (+30,8%), alface (+30,78%), manga (+30,03%), brócolis (+26,85%), hortaliças e verduras no geral (+25,79%).
Na outra ponta, os alimentos que mais caíram foram: óleo de soja (-28%), cebola (-25,32%), abacate (-22,71%), limão (-15,99%), feijão carioca (-13,77%), costela (-12,56%), acém (-11,88%), peito (-11,39%), alcatra (-10,72%), picanha (-10,69%).
Ou seja, o primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula terminou com queda dos preços de carnes. Mas a cerveja ficou mais cara.
No período, a cerveja para consumo no domicílio acumulou inflação (alta) de 5,29%.
A redução do preço da picanha aconteceu após uma sequência, de 0,49% em 2022, de 17,36% em 2021 e de 17,01% em 2020.
A queda, segundo analista, se deve ao aumento da oferta de carnes no mercado interno, em razão do chamado ciclo da pecuária.
Assista ao ICL Mercado e Investimentos desta quinta-feira para saber mais sobre o IPCA:
Redação ICL Economia
Com informações da agências de notícias e da Folha de S.Paulo