Na semana passada, um grupo de super-ricos de 13 países entregou um manifesto no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, pedindo à elite política mundial que suas riquezas sejam taxadas como forma de combater as desigualdades. O que surpreendeu é que na lista figura apenas um brasileiro: João Paulo Pacífico, fundador do grupo de investimentos Gaia.
Segundo relatório da Forbes, de 2022, no Brasil há mais de 60 bilionários. Outro estudo, elaborado pelo economista Sérgio Gobetti, publicado pelo Observatório de Política Fiscal do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), mostra que a renda das 15 mil pessoas mais ricas do Brasil cresceu três vezes mais nos últimos anos em relação ao restante da população. A concentração de riqueza foi especialmente relevante no fim do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Para o coordenador de Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil, Jeff Nascimento, a taxação das riquezas no Brasil, quando abordada pela grande mídia, vende uma narrativa que prejudica um debate mais aprofundado sobre o assunto.
“Quando o tema de taxação ou impostos é abordado na imprensa, é como se fosse uma palavra proibida. Se repete a ideia – como um mantra – que os brasileiros não aguentam mais impostos, que pagam muitos impostos. Mas quando a gente pergunta para as pessoas, há pesquisas que apontam que quase nove em cada dez pessoas acham que há pessoas pagando menos impostos do que deveriam no Brasil”, disse ele, em entrevista ontem (23) ao ICL Notícias 1ª edição.
Nascimento citou uma pesquisa feita para ONG Oxfam no ano passado, mostrando que 85% dos brasileiros atrelam o progresso de um país ao fim das desigualdades e que isso deve ser uma prioridade do Estado.
Sobre o fato de a carta entregue pelos super-ricos em Davos levar a assinatura de apenas um brasileiro, na avaliação dele isso mostra “que no Brasil ainda temos um caminho muito grande [entre milionários] para apoiar essa medida”.
“No caso desses milionários [que assinaram a carta], acho que tem uma percepção do papel que as desigualdades têm no compromisso das democracias ao redor do planeta e de que essas desigualdades acabam prejudicando eles mesmos”, complementou.
Ele ainda citou relatório recente elaborado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, que mostra a desigualdade tributária entre aqueles com renda média mensal de R$ 4 mil e aqueles que ganham R$ 4,1 milhões ao mês. Conforme o estudo, a alíquota paga pelos dois de imposto de renda é praticamente a mesma.
Para assistir à entrevista completa, acesso o vídeo abaixo: