Nos redutos do agronegócio, renda dos super-ricos tem o maior ganho nos últimos anos no Brasil

O líder da lista é o estado do Mato Grosso do Sul, onde a renda do 0,01% mais rico saltou 131% acima da inflação, de 2017 a 2022.
1 de fevereiro de 2024

Os super-ricos dos estados onde o agronegócio é forte, especialmente os da região Centro-Oeste, tiveram o maior ganho de renda no Brasil nos últimos anos, conforme mostra estudo do economista Sérgio Gobetti, publicado no Observatório de Política Fiscal da Fundação Getulio Vargas (FGV), com base em informações do imposto de renda.

No topo desse ranking está o estado do Mato Grosso do Sul, onde a renda do 0,01% mais rico saltou 131% acima da inflação, de 2017 a 2022.

super-ricos

“Verificou-se no período analisado (2017-2022) um crescimento extraordinariamente alto da renda da atividade rural, principalmente nos estratos mais ricos, em que esse tipo de rendimento [isento de tributação na sua maior parte] cresceu acima de 220% (ou 140% em termos reais)”, diz o pesquisador.

O aumento da renda dos super-ricos alimenta o mercado de luxo nesses estados. Por exemplo, no Mato Grosso Sul, o número de loteamentos de luxo à venda aumentou três vezes desde 2021. Nesse período, a maior parte dos apartamentos e casas comercializados é de alto padrão.

À reportagem de O Globo, o presidente do Secovi (sindicato das empresas do setor) do MS, Geraldo Paiva, explicou que o aquecimento do mercado de luxo não se vê apenas em Campo Grande, capital do estado, mas também em cidades menores.

“Em Chapadão do Sul, Maracanã e Sidrolândia, loteamentos de luxo e carros importados, como Ferrari e Camaro, também são procurados. São cidades mais seguras, sem problemas de trânsito, e que estão atraindo serviços de saúde e educação”, disse.

E, segundo ele, no caso dos imóveis de luxo, tudo é pago sem financiamento habitacional bancário, sendo parcelado diretamente pelo comprador, ou à vista. Há quem, segundo ele, programa o pagamento das parcelas para depois da colheita da safra.

No Mato Grosso, renda dos super-ricos cresceu 115%

Outro estado que concentra os super-ricos do agro é o Mato Grosso, onde o PIB (Produto Interno Bruto) per capita passou do 11º lugar em 2002, para o segundo lugar em 2021, passando, inclusive, São Paulo. Por lá, a renda dos mais ricos cresceu 115%.

De acordo com o estudo de Gobetti, a renda média anual do grupo de super-ricos ficou entre R$ 2,7 milhões no Mato Grosso e R$ 1,98 milhão no Mato Grosso do Sul.

Na média, o aumento da renda do 0,01% mais rico, que corresponde a 15.366 pessoas entre os 38,4 milhões de declarantes do Imposto de Renda, foi de 49%. Nesses estados, foi mais que o dobro.

“Pode estar relacionado ao boom de commodities, grandes propriedades, exportadores têm mais possibilidade de expansão de ganhos. A atividade rural é muito forte entre os mais ricos”, disse o pesquisador.

Pelas contas do economista, a renda dos mais ricos no Mato Grosso chega a ser 364 vezes o ganho da classe média no estado. Na média, a distância é de 248 vezes.

“As análises com base nos dados do IRPF oferecem fortes evidências de que a concentração de renda no topo cresceu significativamente no período recente, destoando do ocorrido na década anterior pelo menos, mas ao mesmo tempo indica que o crescimento da renda no topo apresenta fortes diferenças regionais, tendo sido mais pronunciado em estados cuja economia, em geral, é dominada pelo agronegócio. E isso ocorreu num período em que a renda média do brasileiro apresentou uma das piores performances das últimas décadas, dada a estagnação do valor real dos salários e de outros indicadores”, enfatizou o estudo.

O estudo traz mais subsídios para a discussão a respeito da necessidade de taxação de riquezas como forma de combater as desigualdades sociais, conforme aponta relatório da ONG Oxfam, apresentado no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, em meados de janeiro.

Para ver o estudo completo do economista Sérgio Gobetti, clique aqui e aqui.

Da redação ICL Economia
Com informações do Observatório de Política Fiscal da Fundação Getulio Vargas (FGV) e de O Globo

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