Pesquisa Datafolha divulgada recentemente mostra que os brasileiros têm uma percepção da economia brasileira que contraria a realidade dos números. A despeito de inflação e desemprego estarem caindo e o PIB (Produto Interno Bruto) estar subindo, há mais brasileiros considerando que a economia brasileira piorou nos últimos meses do que aqueles que consideram que ela melhorou.
Os resultados da pesquisa realizada nos dias 19 de 20 de março coincidem com uma oscilação negativa de três pontos na taxa de reprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 30% para 33%, em relação a levantamento realizado em dezembro. O levantamento ouviu 2.002 eleitores em 147 municípios.
O foco central da crítica é a economia. A avaliação de que ela piorou de dezembro para cá cresceu de 35% para 41%. Com isso, a taxa dos que veem piora ultrapassou a dos que vinham percebendo melhora, que recuou de 33% para 28% no período.
Contudo, a opinião dos brasileiros sobre a economia estaria atrelada à perda de popularidade do presidente Lula e, nesse aspecto, a pesquisa Datafolha corrobora o resultado de outra, a da Genial/Quaest, divulgada em 6 de março.
A Genial Quaest mostra que a aprovação do trabalho do governo Lula 3 caiu de 54% para 51% em dois meses (dezembro a fevereiro), resultado puxado principalmente pela avaliação do grupo dos evangélicos.
A mesma pesquisa também mostrava que a avaliação dos que desaprovam a economia do governo Lula 3 subiu 31% para 38%. Quem acha que a economia melhorou caiu de 34% par 26% nos últimos 12 meses.
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, esmiuçou o resultado da pesquisa Genial/Quaest. Segundo ele, “o negativo da pesquisa está muito ligado ao bolsonarismo. Onde estamos vendo uma queda muito grande? Pessoas que ganham entre 2 a 5,5 salários mínimos. São pessoas extremamente influentes, são os ‘tios e tias do Zap’, pessoas que têm, várias delas, algum cargo de gerência em empresas”, disse Moreira.
O que Moreira chama de “turma do meio” obteve como política pública direcionada pelo governo o reajuste de R$ 20 no salário mínimo. “Claro que é importante aumentar o salário mínimo, mas são R$ 20. Os R$ 600 [do Bolsa Família] são mais fortes(…). Os R$ 20 não são mais fortes do que uma fake news enviada pelo Zap pela sua liderança. Essa turma aqui você não vai conseguir conquistar com R$ 20 de aumento de salário mínimo”, observou na ocasião (para ler a análise, clique aqui).
Datafolha mostra que inflação dos alimentos pode estar na raiz da desaprovação
Entre as explicações para a reprovação da economia conforme a pesquisa Datafolha está uma alta mais forte nos preços dos alimentos no início do ano, provocada por problemas climáticos nas regiões produtoras do Sul e do Centro-Oeste.
No mês de março, o IPCA-15, considerado a prévia da inflação, ficou em 0,36%, 0,42 ponto percentual menor que a de fevereiro, quando variou 0,78%. O resultado foi, em grande parte, influenciado pelo grupo de Alimentação e Bebidas, com alta de 0,91% e impacto de 0,19 p.p. no índice geral. Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (26).
O preço da comida também parece ter ofuscado algumas boas notícias neste início de 2024, como alta no volume de serviços (+0,7% em janeiro sobre dezembro) e a criação, no primeiro mês do ano, de 180,3 mil novas vagas formais de emprego, resultado acima do esperado.
A avaliação sobre a piora na economia deu-se na maior parte dos principais segmentos da pesquisa, exceto a faixa dos mais jovens, no qual houve recuo de 37% para 33%. A alta ficou acima da média nas faixas de 35 a 44 anos (de 35% para 46%) e de 45 a 59 anos (de 32% para 42%).
Na região Nordeste, 30% avaliam que a economia brasileira piorou nos últimos meses, ante 28% em dezembro. Na região Sul, 47% apontam piora, ante 44% na pesquisa anterior; no Sudeste são 43% conta 35%; e, Norte/Centro-Oeste, 49% ante 40%.
Entre aqueles que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial de 2022, 16% veem piora no cenário econômico do país, com oscilação em relação ao levantamento anterior (13%). Entre eleitores de Jair Bolsonaro (PL), essa percepção saltou de 59% para 69%.
Em relação à situação econômica pessoal, caiu de 35% para 28% o índice dos que apontam melhora, e oscilou de 26% para 28% a percepção de piora. Para 44%, a situação ficou estável (eram 38 % em dezembro do ano passado).
Caiu percentual de otimistas
A expectativa de que a economia vai melhorar nos próximos meses caiu de 47% para 39%, enquanto subiu de 22% para 27% o percentual daqueles que esperam piora econômica. Uma parcela de 32% vê estabilidade (em dezembro, 29%), e 2% não opinaram.
O índice de pessimismo com a economia do país fica acima da média entre os mais escolarizados (33%), entre os mais ricos (35%), na região Sul (34%), entre evangélicos (32%) e na parcela que reprova o governo Lula (56%).
Por outro lado, fica abaixo da média entre os mais jovens (19%), no segmento dos menos escolarizados (20%), no Nordeste (19%, e 49% de otimismo), e entre quem aprova (6%) ou considera regular (18%) o governo Lula.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo