De janeiro até 17 de abril deste ano, os investidores estrangeiros retiraram o equivalente a R$ 29,4 bilhões da B3, a Bolsa brasileira. O saldo neste mês está negativo em R$ 7,55 bilhões.
Na avaliação de analistas, a retirada de recursos está, em grande parte, relacionada aos sinais de aquecimento da economia norte-americana, que mantém pressões inflacionárias e, consequentemente, taxas de juros mais altas.
Hoje, os juros norte-americanos estão no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano e, diante da economia resiliente, não há sinais claros no horizonte a respeito de quando o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) vai iniciar a trajetória de cortes.
Isso faz com que os investidores retirem seus recursos de economias emergentes, como o Brasil, para aplicá-los nos títulos da dívida norte-americana, os Treasuries, considerados os mais seguros do mundo, ainda que a taxa básica de juros brasileira esteja na casa dos 10,75% ao ano.
A mudança na postura dos investidores estrangeiros vem sendo notada desde o fim do ano passado, que encerrou com um aporte líquido de R$ 44,85 bilhões, época em que o mercado apostava em uma queda dos juros americanos em março.
Como o Fed decidiu manter as taxas de juros inalteradas, houve saques líquidos de R$ 22,9 bilhões no primeiro trimestre deste ano.
A retirada foi a maior registrada num período de três meses desde o terceiro trimestre de 2021 (R$ 23,7 bilhões).
Em 2023, o Ibovespa, principal indicador da B3, subiu mais de 20%, na maior alta anual desde 2019.
Boa parte desse movimento tinha como base algumas premissas: um ambiente fiscal controlado, o início dos cortes de juros nos EUA em março, no mais tardar em junho; e uma Selic em 9,0% ao ano ou menos ao final de dezembro de 2024.
Mudança na política fiscal também é explicação mudança de otimismo na Bolsa brasileira
Os analistas também atribuem a fuga de capital às recentes mudanças na política fiscal do Brasil. Na semana passada, o governo federal realizou mudanças nas metas fiscais dos próximos anos, o que trouxe apreensão ao mercado financeiro sobre se o governo vai conseguir equilibrar as contas públicas.
No próximo ano, em vez de um superávit primário (saldo positivo entre gastos e despesas do governo, sem contar o pagamento dos juros da dívida pública) de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) a nova previsão é de um resultado zero, com eventual déficit de 0,25% do PIB. Para 2026, a estimativa de saldo positivo caiu de 1% para 0,25% do PIB.
Mas não é segredo para ninguém que o mercado financeiro é muito ruim de fazer projeções econômicas. Errou feio todas as projeções feitas no início do governo Lula 3. O desempenho da economia brasileira foi muito melhor do que esperavam.
Além disso, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, que está um degrau abaixo do ministro Fernando Haddad, negou que tenha havido afrouxamento das metas fiscais a partir de 2025. “Não é de nenhuma forma um afrouxamento da agenda fiscal – é o contrário. É fazer a calibragem correta de qual é o objetivo final e persegui-lo com afinco”, disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo desta segunda-feira (22).
“Nosso projeto econômico se mantém. Não há nenhuma alteração nas mudanças que a gente quer para o país e nos ajustes que precisam ser feitos. A primeira projeção das metas foi feita no ano passado. Atualizando os cenários para este ano, mantém os mesmos desafios. Mas é preciso fazer com que esse desafio seja cumprido”, enfatizou.
Voltando ao cenário econômico internacional, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, já explicou como as decisões do Fed, o banco central dos EUA, tem afetado a economia mundial, incluindo o Brasil.
“A taxa de juros dos EUA é uma taxa de referência para as demais. Essa taxa define quanto pagam os títulos do tesouro americano, os quais o mundo inteiro usa para guardar as suas reservas. Esses são os títulos considerados mais seguros do mundo”, disse.
Na avaliação de Moreira, Jerome Powell, o presidente do Fed, tem de agir, na maioria das vezes, como “bombeiro e policial”, pois ele sabe do peso de suas decisões, não só para a economia doméstica, mas, também, para a mundial.
Da Redação ICL Economia
Com informações do site Metrópoles