Economistas do ICL mostram como mídia e mercado financeiro atuam para influenciar escolha do futuro presidente do BC

Eduardo Moreira e André Campedelli abordam os pontos em comum entre editorias publicados por jornalões e entrevista com o economista e ex-presidente do BC Armínio Fraga na Folha de S.Paulo do último sábado (1/6).
3 de junho de 2024

Que a grande imprensa sempre foi porta-voz do mercado financeiro isso não é segredo para as pessoas que minimamente leem nas entrelinhas. Mas, nos últimos dias, os principais jornais do quase monopólio de mídia do país deixam escancarada a articulação em uma campanha velada para escolher o futuro presidente do Banco Central do Brasil.

Em uma ação que parece combinada, o jornal O Globo e a Folha de S.Paulo publicaram ontem editoriais com os respectivos títulos: “Desemprego em queda é reflexo de reforma trabalhista” e “Gastança de Lula dá mais ganhos a rentistas“.

Nos dois casos, a ideia é desacreditar a condução da política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando o mérito, no primeiro caso, ao governo de Michel Temer (2016-2018), como se a (de)forma trabalhista, que precarizou empregos e a estrutura sindical, tivesse sido algo bom de verdade para o país.

O Globo está fazendo uma correlação espúria, dizendo que o desemprego só caiu no governo Lula por causa da reforma trabalhista (…). Não é porque a economia está indo melhor, a renda cresceu, que o governo está gastando mais para gerar mais renda”, disse o economista e apresentador do ICL Mercado e Investimentos, André Campedelli, na edição de hoje do programa diário transmitido no YouTube.

André Campedelli

O economista André Campedelli. Reprodução: ICL Mercado e Investimentos/YouTube

No segundo caso, segundo André, a “gastança de Lula” do título traz um entendimento raso sobre a situação. Além disso, o texto credita ao “impulso gastador irresponsável do governo” Lula a volta à estaca zero “de todo o esforço de saneamento das contas depois da calamidade causada por sua correligionária Dilma Rousseff”.

Ou seja, mais uma vez, o jornal elogia a gestão Michel Temer, esquecendo-se de mencionar que o governo Lula 3 pegou um país quebrado diante da calamidade da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, com seu pacote de medidas eleitoreiras na busca pela reeleição, forçando o governo Lula a arrumar a casa primeiro e investir, sim, para recolocar nos trilhos um país com muito a ser feito.

“Cereja do bolo”: porta-voz do mercado financeiro, Armínio Fraga mostra que começa a corrida para a sucessão no BC

Nas últimas semanas, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, chamou a atenção para o uso político do Boletim Focus do Banco Central pelo presidente da autarquia.

A propósito disso, na edição desta segunda-feira (3) do relatório, a mediana dos cerca de 150 analistas entrevistados para a publicação resultou, pela quarta vez seguida, em elevação das projeções de inflação para este e para o próximo ano, ainda que o IPCA-15 tenha vindo dentro da expectativa, com desaceleração dos preços dos alimentos, conforme lembrou André Campedelli.

“No fim do ano, vamos ter a troca do presidente do Banco Central. Esse Banco Central tem cinco diretores – incluindo o presidente – que vieram da gestão Bolsonaro e quatro indicados pelo Lula. Eles ainda têm maioria, então, tudo o que esse Banco Central está fazendo é sob orientação bolsonarista”, disse Eduardo Moreira.

O fundador do ICL lembrou que os bancos sempre interferiram nos governos, independentemente da linha ideológica, mas isso chegou “à máxima” na gestão Bolsonaro. Tanto o ex-mandatário da Economia, Paulo Guedes, quanto Roberto Campos Neto vieram das mesas de operação de bancos.

Na edição de hoje do ICL Notícias 1ª edição, ele comentou a entrevista de Armínio Fraga à edição da Folha de S.Paulo de sábado, a qual traz na manchete uma frase que acaba jogando mais gasolina nas frases incendiárias que Campos Neto tem jogado nos últimos dias: “Lula corre risco de fiasco político se errar no BC”.

“A manchete indica que começa a correr a campanha para colocar no lugar do Roberto Campos Neto mais um deles, como o Armínio Fraga, que era o braço direito de George Soros, o maior especulador do mundo”, pontuou.

O economista ainda lembrou que Fraga morava fora do Brasil e veio na época do governo de Fernando Henrique Cardoso para presidir o Banco Central, onde ficou de 1999 a 2002 (saiba mais sobre a trajetória dele clicando aqui).

Fraga foi um dos homens que trouxe o regime de metas de inflação para o Brasil e, em sua época à frente do BC, a inflação medida pelo IPCA ficou em 8,94% em 1999; em 5,97% em 2000; e fechou em 12% no último ano dele à frente da autoridade monetária.

“O Armínio Fraga era rico, continua rico e foi um presidente do Banco Central, no máximo, medíocre. [Ele] não deixou nenhum legado e agora fica dando palpite como se fosse o ‘ó do borogodó’. Mas como a turma do mercado está querendo colocar o seu ali na história e, não é à toa, que o Armínio Fraga participou de reunião com Luciano Huck, que também se reuniu com Campos Neto e Tarcísio [de Freitas, governador bolsonarista de São Paulo]. Não é à toa! É tudo coordenado também com essa manipulação do relatório Focus”, disse Moreira.

Para André Campedelli, a entrevista de Armínio Fraga é quase um chamamento: “Basicamente ele falou, ‘me chama, gente! Eu seria um bom nome!'”.

 

Para assistir ao comentário completo de Eduardo Moreira, assista ao vídeo abaixo:

 

Para assistir ao comentário de André Campedelli, clique no vídeo abaixo:

 

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias 1ª edição e da Folha de S.Paulo

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