Na contramão do pessimismo do mercado financeiro mostrado no Boletim Focus do Banco Central, a economia brasileira deve surpreender positivamente, de novo, este ano. E quem diz isso não é o governo Lula, mas o Bank of America.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o chefe de economia para Brasil e estratégia para América Latina do BofA, David Beker, justificou que o chamado PIB (Produto Interno Bruto) potencial do país cresceu, ou seja, a capacidade de o Brasil crescer sem gerar inflação.
Em um relatório feito no fim de abril, ele defendeu que uma possível alta do PIB potencial era reflexo de ganhos de produtividade e de uma taxa de desemprego estrutural, que não acelera a inflação, mas, pelo contrário, a reduz.
“A gente tem estado, sim, mais otimista do que o mercado, não só na visão de curto prazo. Os dados de atividade têm basicamente vindo em linha com o que a gente imaginava. Eu diria até que o mercado continuará sendo pressionado para revisar a atividade. Tinha gente muito cética com a questão do crescimento. Essas pessoas precisam revisar”, disse Beker.
Lembrando que, em 2023, contrariando todos os prognósticos pessimistas do mercado financeiro assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil foi melhor que as projeções e surpreendeu analistas, crescendo 2,9%. A propósito disso, a professora de professora adjunta da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Juliane Furno, deu uma excelente entrevista ao ICL Notícias 1ª edição comentando que o “erro” do mercado é fruto de mera “intencionalidade”, ou seja, é projeto mesmo (para ver a entrevista, clique aqui).
Já naquela época, o banco, com sede nos Estados Unidos, foi um dos primeiros a perceber o ritmo forte, com uma revisão ainda no primeiro semestre.
Para este ano, a instituição financeira estadunidense prevê alta de 2,7%, mais uma vez acima do esperado pelos pares do mercado, cuja mediana é de 2,05%, segundo o último Boletim Focus. Até mesmo a previsão do governo é ligeiramente menor que a do BofA, de 2,5%.
“A gente entende a fragilidade dessas projeções. Mas uma coisa é certa: o mercado tem sido surpreendido para cima. Não é de hoje, já há vários trimestres”, disse Beker.
Para o analista, o avanço de 0,8% no PIB do primeiro trimestre, vem em linha com sua previsão para o ano, que segue em 2,7% mesmo com o risco de baixa trazido pela tragédia no Rio Grande do Sul.
Economia brasileira: PIB potencial em 2,2% e taxa de desemprego estrutural em 7,5%
De acordo com Beker, o PIB potencial seria de 2,2%, acima dos 1,7% da última década. Já a taxa de desemprego estrutural seria 7,5%, mesmo patamar registrado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em abril.
As evidências que sustentam a tese seriam os dados melhores que o esperado a cada trimestre desde o fim da pandemia, a inflação em queda e o mercado de trabalho forte.
Na avaliação dele, o PIB potencial subiu devido aos seguintes fatores: ganhos de produtividade no agronegócio, nos serviços financeiros, avanços no setor bancário nos últimos anos. Por outro lado, não houve o mesmo movimento na indústria e nos serviços de forma geral.
Na contramão do pensamento dos economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), ele disse que “aparentemente a reforma trabalhista teve um impacto em garantir desemprego mais baixo, dando mais flexibilidade”, o que a própria Juliane Furno também disse ser uma falácia na mesma entrevista ao ICL Notícias 1ª edição.
Mas, a despeito disso, Beker disse que “a taxa de desemprego estrutural [conhecida pela sigla em inglês NAIRU] está mais baixa. Algumas medidas microeconômicas reduziram a burocracia nos últimos anos e a dificuldade de fazer negócios. O governo está bem mais digital”.
“Eu diria que a grande frustração dos economistas é estimar o PIB potencial. No limite, a gente entende a fragilidade dessas projeções nossas. Mas uma coisa é certa. O mercado tem sido surpreendido para cima. Não é de hoje, já há vários trimestres”, complementou Beker.
Ele explicou que os 2,7% projetados são resultado do “desemprego muito baixo”, “recuperação de salário com menos inflação e o ciclo do crédito”. “Isso faz com que a grande parte do PIB, que é consumo, puxe os dados adiante. Embora o juro continue contracionista, as reduções anteriores têm impacto positivo”, disse.
Ou seja, até ele, assim como os economistas do ICL, pontuou que a política monetária, com a taxa Selic na casa dos 10,50% ao ano, “é contracionista”.
Ainda sobre isso, ele disse que “um PIB potencial mais alto não leva necessariamente a um juro neutro mais baixo”. “Basicamente você está dizendo: essa economia consegue crescer mais, mesmo com juros altos. Então essa ‘ponte’ é um pouco difícil de estimar. O que dá para dizer é que talvez você consiga uma economia menos inflacionária, com crescimento maior e desemprego mais baixo”.
Ele também comentou sobre os erros de projeções de analistas do mercado financeiro em 2023. “No ano passado, um dos principais erros do mercado foi imaginar que a inflação só desaceleraria na hora que você tivesse deterioração do emprego”. E concluiu: “a economia pode conviver com esse mercado de trabalho forte”.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo