A cerca de 6 meses do fim de seu mandato, presidente do BC nunca foi tão bajulado pela direita bolsonarista

"É meu E.T. preferido", disse o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que ofereceu jantar a Campos Neto no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, e esteve em cerimônia na Alesp onde o presidente da autoridade monetária recebeu medalha.
11 de junho de 2024

O mandato do presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, à frente da autarquia termina em 31 de dezembro deste ano e a agenda política dele nunca foi tão intensa como nos últimos meses. Além de dar as caras a vários eventos com a presença da nata do empresariado brasileiro, Campos Neto participou, em maio, de jantar na casa do apresentador Luciano Huck, com presença do governador de São Paulo, o bolsonarista carioca Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, ontem (10), ofereceu outro jantar a ele no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Campos Neto participou de um rapapé na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde recebeu uma medalha, denominada “colar de honra ao mérito legislativo”.

Na Alesp, onde esteve para presenciar a homenagem a Campos Neto, a quem chamou de “amigo”, Tarcísio usou uma imagem um tanto original para homenagear o presidente do BC.

“É meu E.T. preferido. É um extraterrestre. A gente conhece pessoas fora da curva, e Roberto Campos é um desses caras, que se destaca pela densidade. Eu não fazia um road show [apresentações de oportunidades de negócios] sem entender o cenário econômico que ia acontecer no Brasil. O que ele dizia, acontecia”, disse o governador, na sessão em homenagem na Alesp ontem à noite.

De acordo com informações de O Globo, Tarcísio disse em entrevista durante um evento que já havia chamado Campos Neto de “E.T.”, ao descartar qualquer viés político no jantar, marcado para depois da sessão na Alesp. Segundo ele, tratou-se de um “encontro entre amigos”.

Tarcísio é apontado como nome da oposição para concorrer ao Planalto, enfrentando o candidato do PT em 2026, dada a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. Seria Campos Neto um nome para ocupar a vice-presidência na chapa, como conjecturou o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira?

Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ao cargo, em 2021. O mandato dura quatro anos e, como termina em dezembro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicará outro nome.

O presidente do BC nunca escondeu sua ligação com o Bolsonarismo, ao fazer parte de grupos de WhatsApp com Paulo Guedes (ex-mandatário da Economia) e ter ido votar com a camisa verde e amarela da CBF, que foi usurpada pelo bolsonarismo, nas eleições de 2022.

Na Alesp, sessão de entrega de medalha ao presidente do BC é prestigiada por banqueiros

Ao receber a medalha na Alesp, Campos Neto fez um discurso em tom de balanço da gestão. Disse que trabalhou para “dar previsibilidade a quem gera emprego e produz no país”, afirmou que “o homenageado é o mundo privado, que faz o país andar,” e ressaltou que o processo de desinflação é a melhor política contra a pobreza no país: “Esse foi o trabalho mais importante de minha vida profissional e temos muito trabalho até o final do ano”, disse, para deleite da plateia.

Por ter mantido a Selic por um ano em um dos maiores patamares da história, a 13,75% ao ano e indicar que o ciclo de cortes da taxa básica de juros deve diminuir este ano, Campos Neto foi alvo de críticas contundentes do presidente Lula.

As críticas do presidente parecem ter dado a Campos Neto uma aura de vítima do lulopetismo, tudo o que a direita bolsonarista e o mercado financeiro adoram.

Tanto que a sessão de entrega da medalha na Alesp foi prestigiada pelo banqueiro André Esteves, sócio do BTG Pactual; dos presidentes dos bancos Santander, Mario Leão, onde Campos Neto foi tesoureiro antes de ir para o BC; Bradesco, Marcelo Noronha; BTG Pactual, Roberto Saloutti; e Safra, Alberto Monteiro; assim como o presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Isaac Sidney. Também participou da sessão o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

O deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), autor da homenagem do mesmo partido do governador, disse, durante a sessão legislativa, que o presidente do BC é “criticado pelos erros que não comete, assim como fizeram com seu avô [o economista Roberto Campos, diplomata, ex-presidente do BNDES, ex-ministro do Planejamento, ex-senador e ex-deputado federal].”

No domingo (9), ao participar do Fórum Esfera, que reuniu empresários, investidores e autoridades no Guarujá, litoral de São Paulo, Campos Neto voltou a defender o que tem dito nos últimos meses: defendeu o equilíbrio das contas do governo como requisito para que a economia brasileira tenha juros estruturalmente mais baixos. Segundo o presidente do BC, os juros são altos no Brasil por causa dos desequilíbrios, e não o contrário.

Eduardo Moreira volta a criticar viés da mídia sobre o Boletim Focus

eduardo moreira

O economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira. Reprodução: ICL Notícias/YouTube

Há algumas semanas, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, tem criticado o Boletim Focus do Banco Central, que, na opinião dele, tem sido usado politicamente por Campos Neto.

Isso porque, sem razões aparentes na economia, a mídia insiste que os 150 analistas do mercado financeiro consultados para a publicação têm elevado as projeções, principalmente para a inflação deste e do próximo ano, movimento que teve início após falas públicas do presidente do BC promoverem uma espécie de terrorismo financeiro. Tudo isso com o patrocínio da grande mídia.

Na edição desta manhã (11) do ICL Notícias 1ª edição, Moreira voltou a tocar no assunto. Ele comentou o título de uma reportagem sobre o relatório no site Metrópoles, intitulada: “Piorou de novo: Focus detona projeções de inflação, dólar e Selic”.

Segundo Moreira, a leitura do título, totalmente enviesada, dá uma noção deturpada das projeções do relatório, “como se fosse culpa do governo”.

“Quando se olha o Boletim Focus, a gente vê que a mudança foi de 0,02 ou 0,01 ponto percentual. Ou seja, o dado mostra o que não existe aquilo que foi anunciado. É leviano, é loucura! O que mudou? mudou nada!”, criticou.

 

Assista ao comentário completo de Eduardo Moreira no vídeo abaixo:

Redação ICL Economia
Com informações de O Globo

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